sábado, 15 de novembro de 2008

Tribunal Popular: o Estado Brasileiro no banco dos réus



04, 05 e 06 de Dezembro de 2008, em São Paulo-SP


APRESENTAÇÃO: Comemorar o quê?


No rol das muitas comemorações de datas históricas em 2008, destacam-se algumas extremamente mistificadoras: os 200 anos da chegada da família real no Brasil em março, celebrando a suposta fundação moderna do Estado Brasileiro; os 120 anos da "abolição" da escravatura por aqui, em maio, celebrando o decreto de Dna. Isabel que enfim teria virado aquela página "negra" da herança colonial; além de duas outras datas por vir, ainda mais relevantes para o presente projeto: em nível nacional, os 20 anos da chamada "Constituição Cidadã" (outubro), marco da chamada "redemocratização" do país; seguida em dezembro pelas celebrações dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, aprovada pela ONU, primeira legislação de uma série de outras, sobretudo a Convenção Contra a Tortura e Outras Penas e Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de 1984, consagrando teoricamente a todos o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, e proibindo expressamente a tortura.


Entretanto todas estas comemorações enaltecem ordenamentos jurídicos cujas garantias ao ser humano, como se sabe, não estão sendo colocadas em prática. Muito ao contrário, no caso brasileiro, o que vemos é o Estado, por meio de agentes dos seus três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e ao nível da União e dos Estados da Federação, violar sistematicamente os direitos humanos das populações pobres do campo, das periferias e favelas urbanas (com ainda mais violência contra pobres negros, ou indígenas e seus descendentes). É por isso que, por iniciativa de uma série de organizações e movimentos sociais, está sendo proposta a realização de um Tribunal Popular que julgue o Estado brasileiro. Um tribunal que o faça responsável em última instância por todas estas violações cotidianas, que proponha uma reflexão profunda sobre a atuação do Estado.


Qual o papel que o Estado brasileiro, formalmente subordinado a tais cartas de princípios desde a chamada "redemocratização", tem efetivamente desempenhado por meio de seus agentes e instituições? Como tais textos têm se traduzido na realidade da população brasileira, sobretudo em relação à maioria mais pobre (em especial os negros pobres)? Até que ponto o chamado Estado Democrático de Direito brasileiro, conquistado por meio de mobilizações populares contra a ditadura civil-militar anterior, tem garantido minimamente os direitos básicos para todos os cidadãos, previstos formalmente por ele e pelas ordenações da ONU que ele assinou? Ou, ao contrário, é este mesmo Estado que tem sido instrumento e/ou protagonista fundamental na violação sistemática e crescente dos próprios direitos por ele previstos e supostamente defendidos, mediante a discriminação violenta de grandes massas populacionais? Quais e de quem são os reais interesses defendidos por este Estado, a despeito de suas declarações universais em relação aos cidadãos?


Por isso estas organizações e movimentos sociais populares estão propondo realizar, entre os dias 04 e 06 de dezembro um Tribunal Popular que julgue o Estado brasileiro.


JUSTIFICATIVA: Por que um Tribunal Popular?


Ora, de um lado, trata-se de um Estado Nacional (Democrático de Direito) extremamente habituado a julgar, condenar e punir uma ampla parcela de seus cidadãos, sobretudo a maioria mais pobre (e a negra em especial). Basta apenas dar uma passada breve pelas estatísticas de detenções verificadas no país - que só perdem em proporção populacional para as dos Estados Unidos da América. Trata-se de um Estado Penal, célere para praticar prisões preventivas e manter presas sem julgamento pessoas que na maior parte das vezes cometeram (ou supostamente cometeram) pequenos delitos contra o patrimônio dos ricos.


Por outro lado, esse mesmo Estado Penal aplica para esses crimes e para os praticantes do pequeno comércio de drogas, denominado de "crime hediondo", penas colossais. E ainda, depois do julgamento, é esse mesmo Estado Penal que não respeita as garantias previstas em sua própria Lei de Execuções Penais, em grande parte pela omissão e inoperância do Poder Judiciário (muitas vezes agindo assim de maneira deliberada). Além disso, tal Estado tem também o seu lado exterminador. Conforme relatório preliminar de Philip Alston, relator da Organização das Nações Unidas para execuções sumárias e extra-judiciais, apresentado à ONU em maio de 2008, os policiais matam em serviço e fora de serviço. Porém nenhuma investigação é feita em relação ao pretexto para a execução, isto é, a “suspeita” e o suposto confronto. Todo caso é classificado de "Resistência Seguida de Morte" ou “Auto de Resistência”, e a investigação se concentra na vida do morto. Sabe-se que os policiais são preparados ideológica e praticamente para matar.


Ao mesmo tempo, trata-se de um Estado Nacional que, em todas as suas instâncias (legislativa, judiciária e executiva - nas esferas municipais, estaduais e nacional -, forças armadas, polícias etc), raramente é questionado, muito menos julgado pelos cidadãos cujo bem comum seria supostamente sua razão de ser. Até porque faltam espaços, meios e recursos apropriados para tais julgamentos populares, enquanto os grandes meios de comunicação via de regra têm legitimado a repressão contra os genericamente chamados de “suspeitos”. Ademais, muitos cidadãos, vítimas ou testemunhas das mais variadas violências estatais, são intimidados ou coagidos por aparatos estatais e/ou para-estatais, legais e/ou extra-legais, a não reagir. Cidadãos que, inversamente, têm sido os principais alvos das violentas práticas sistemáticas do Estado e seus representantes, em todas as dimensões de suas vidas (econômica, social, comunitária, pessoal, psíquica), sendo efetivamente aterrorizados por aqueles agentes e aquelas instituições financiadas e sustentadas por nós mesmo, para teoricamente garantir nossos próprios direitos básicos, dignidade e paz.


A idéia de realizar um Tribunal Popular que analise aprofundadamente e julgue alguns crimes institucionais emblemáticos, é inverter radicalmente esta lógica unilateral que, se não tomarmos cuidado, será ainda mais naturalizada como "lógica democrática". Por isso propomos um Tribunal de caráter crítico e formativo, que coloque o próprio Estado no Banco dos Réus, nos moldes daquele Tribunal Popular realizado recentemente em New Orleans (2007), quando organizações e movimentos sociais sobretudo norte-americanos julgaram os abusos do governo estadunidense referentes às vítimas do Furacão Katrina (em sua maioria negra pobre), e muitas outras iniciativas populares semelhantes.Para ficarmos num exemplo nacional significativo - o qual nos inspira uma releitura -, pretendemos realizar um Tribunal Popular em moldes semelhantes ao Tribunal Tiradentes (realizado no início da década de 1980 no TUCA - PUC-SP), que analisou e julgou naquele momento uma série de crimes cometidos pela ditadura civil-militar brasileira "em defesa da segurança nacional". Se aquele Tribunal teve papel importante nas lutas por anistia daqueles que resistiram ao regime civil-militar anterior, bem como nas lutas pela redemocratização do país, passados 20 anos desde a conquista da "Constituição Cidadã" urge fazermos um efetivo balanço coletivo das reais e efetivas conquistas democráticas que obtivemos de lá pra cá. Ou se, ao contrário, temos na prática um "Estado Democrático de Direito" cada vez mais Autoritário e Supra-legal quando é necessário defender e garantir os interesses do capital em todas as duas dimensões, começando pelo ataque e a violação sistemática dos direitos básicos da população mais pobre do país (considerados “ameaça” ou “inimigo interno”), sobretudo a negra. Justamente a população que conforma o grosso de seus cidadãos.


CARACTERÍSTICAS DO TRIBUNAL: Quatro casos emblemáticos, a mesma lógica autoritária


Caminhamos para a análise e julgamento de temática bastante ampla - o Estado brasileiro como um todo e suas práticas violentas - pensando em não só abarcar movimentos específicos que nos são caros e motivaram a articulação do Tribunal Popular, mas também temas que serão inseridos nas diversas sessões, como por exemplo a questão da Redução da Maioridade Penal; da Violência policial contra jovens e adolescentes negros e pobres; a questão racial e a racialização da violência; além da criminalização dos movimentos sociais populares. Pretendemos justamente, a partir do julgamento do Estado Brasileiro como um todo, abarcar de forma ampla estes temas específicos mobilizando uma variada gama de setores organizados da sociedade. Com um eixo transversal bem traçado.


Por isso pensamos, em linhas gerais, no seguinte título/tema: "O Estado Brasileiro no banco dos réus", com uma ênfase específica na violência institucional e policial deste aparato estatal. A idéia é julgar o Estado Brasileiro por meio das leis internacionais e nacionais que ele mesmo reconhece formalmente, face às violações sistemáticas de direitos em quatro grandes áreas: violência contra movimentos e pobres do campo; violência contra a juventude pobre; violência no sistema prisional; e violência estatal sob pretexto de segurança pública nas comunidades urbanas pobres. Faremos o julgamento destas quatro temáticas analisando respectivamente a situação de quatro/cinco estados específicos: questão fundiária (possivelmente nos estados do Rio Grande do Sul e/ou Pará), São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro.


Estados que concentram nos últimos anos histórias e crimes emblemáticos, reveladores de uma lógica geral do Estado brasileiro em todas as suas instâncias. Partiremos de tais casos vividos nos últimos tempos nestes estados - conforme elencados e nomeados abaixo -, para relacioná-los, por meio de vasta documentação e muitas testemunhas, com outros inúmeros casos similares, procedendo aos passos de um julgamento usual:


• Sessões de Instrução (acusação, apresentação de provas, dados, testemunhos, defesa, etc) e chegar à

• Sessão Final (Veredito referente ao Estado Brasileiro como um todo, sintetizando traços comuns).


Tudo isso com a presença de observadores internacionais - a começar pela Anistia Internacional que todos os anos têm condenado o Brasil no que tange a tais temas. Pretende-se também viabilizar a transmissão em tempo real para várias partes do país - a partir de pedidos que já têm sido feitos neste sentido, inclusive por organizações de estados não incluídos entre aqueles emblemáticos já escolhidos.


Assim trataremos de maneira ampla as seguintes questões articuladoras: segregação social e racial; operações militares em comunidades pobres; encarceramento massivo e extermínio dos pobres e negros; criminalizados (da infância à maioridade) junto aos seus movimentos sociais organizados na cidade e no campo. A proposta é que tal composição comprove nossa denúncia em relação ao chamado Estado Democrático de Direito no Brasil, explicitando objetivamente como ele na verdade opera e como os direitos básicos por ele formalmente garantidos na realidade não passam de ficção. Daí nossa outra tese relacionada à necessidade ainda maior de organização popular e da solidariedade internacional para mudar de fato esta histórica situação.


Finalmente, ao realizar este Tribunal Popular no final de 2008, pretendemos também por meio do debate público desconstruir o caráter ideológico daquelas celebrações referidas no início deste projeto, e a persistência das violações de direitos e violências sociais cujas respectivas datas teriam sido marcos de superação:


• o Estado Brasileiro moderno, fundado na pilhagem da família real há 200 anos (saqueio metropolitano e expropriação em terras brasileiras), continua sendo pilhado por sua “elite republicana” (composta de banqueiros, empresários, políticos etc) que agora tenta fazer o caminho inverso e fugir à Europa rumo ao desfrute e à impunidade;


• a “Abolição” da escravatura por aqui, que acabou de completar 120 anos, e não passou de uma falsa abolição quenunca garantiu liberdade real aos negros, largados em condições não muito diferentes das que viviam – desonerando os senhores de qualquer reparação -, contribuindo assim, e muito, para a consolidação da atual;


• a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU há 60 anos, seguida por outras legislações complementares - sobretudo a Convenção Contra a Tortura e Outras Penas e Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes -, enfim, são desmentidas em qualquer esquina e barraco brasileiro onde vivem as “classes perigosas e torturáveis”, contra as quais são expedidos “mandatos de busca e apreensão coletivos”, “ordens de despejo” e toda uma série de operações violentas sistemáticas com respaldo institucional do Estado Brasileiro;


• a chamada “Constituição Cidadã” que completará 20 anos de vigência formal, símbolo da refundação do Estado e da “redemocratização” do país, atualmente não passa de apenas mais um “monumento formal à barbárie” contra a qual ela textualmente previne, mas na prática se omite ou incentiva a multiplicação;


• enfim, é bom também lembrar, por ocasião dos 40 anos do AI-5 (dezembro/2008), que essa Constituição não foi capaz de eliminar a Lei de Segurança Nacional, de março de 1967, que continua em vigência; não conseguiu extinguir um dos "entulhos autoritários" mais poderosos, criados durante a ditadura, que é a existências das Polícias Militares; não conseguiu abrir os arquivos da repressão; e que nenhum torturador foi processado criminalmente, ao contrário do que tem acontecido em outros países do Cone Sul da América Latina; portanto queremos também integrar a lembrança das vítimas do período ditatorial, e a persistência de muitas daquelas práticas contra as vítimas do período democrático.


Tal cenário exige de todos os cidadãos e cidadãs brasileir@s que aprofundem uma verdadeira reflexão, e consequentemente organizem ações, como o Tribunal Popular, com o intuito de reverter esta situação.


DETALHAMENTO DAS SESSÕES DO TRIBUNAL


Concretamente, estamos pensando numa atividade de três dias (04, 05 e 06 de dezembro), com atividades em dois a três períodos por dia. A princípio dividiríamos da seguinte maneira:


1 Dia 04 de manhã: SESSÃO DE INSTRUÇÃO referente à violência estatal sob pretexto de segurança pública nas comunidades urbanas pobres: o caso do Complexo do Alemão - RIO DE JANEIRO: as sucessivas Operações Militares em favelas (em particular as do Bope + Exército) e suas conseqüências de médio e longo prazo - além do genocídio de pobres e negros, o laboratório militar (teórico e prático) em que se transformou o Rio de Janeiro (à semelhança do Haiti), a ser estendido a outros territórios com perfil de pobreza similar;

2 Dia 04 à tarde: SESSÃO DE INSTRUÇÃO referente à violência estatal no sistema prisional: a situação do sistema carcerário bahiano - BAHIA: as absurdas condições carcerárias dos presídios bahianos e o encarceramento massivo e seletivo de jovens pobres, em sua maioria negros;
Dia 05 de manhã: SESSÃO DE INSTRUÇÃO referente à violência contra a juventude pobre, em sua maioria negra: os crimes de maio/2006 – SÃO PAULO: o extermínio de maio/2006 e o histórico genocida de execuções sumárias sistemáticas levadas a cabo pelo Estado, muitas vezes junto com grupos de extermínio;


3 Dia 05 à tarde: SESSÂO DE INSTRUÇÃO referente à violência estatal contra movimentos sociais e a criminalização da luta sindical, pela terra e pelo meio-ambiente: duas tentativas de aniquilação do MST - RIO GRANDE DO SUL e PARÁ: a recente operação do Ministério Público gaúcho junto à Brigada Militar do RS na tentativa de aniquilação do MST e seus integrantes; e a repressão seguida por assassinatos sistemáticos de militantes sem-terra e ambientais no histórico recente do Pará, por meio da aliança entre representantes do estado e matadores de aluguel, sob a garantia de impunidade.

4 Dia 06 à tarde/noite: SESSÃO FINAL: VEREDITO referente ao ESTADO BRASILEIRO
DATAS E LOCAL


04, 05 e 06 de Dezembro de 2008, na Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito (USP) do Largo São Francisco, São Paulo-SP

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Barak Obama: A divindade salvadora da humanidade?


A madrugada de quarta feira, foi de júbilo em todo o mundo, na América, na África e na diáspora, mesmo os negros do partido republicano, todos torceram de algum modo, e gritaram ainda que em seu intimo e no silencio: Yes!, Ganhou Obama! Ganhamos! Ganhou Barak! Nem as lagrimas do Reverendo Jesse Jackson, critico feroz de Obama, histórico militante das causas negras, e herdeiro direto de Martin Luther King, deixaram dúvidas: O inimaginável aconteceu! O sonho do Dr King tornara-se realidade. Os EEUU agora tem um presidente negro! A segregação, a dominação e o racismo praticado pelos Estados Unidos contra os não brancos no mundo, está redimido. Nosso orgulho e a auto estima está nas alturas. Um irmão, é o presidente da maior potencia do planeta.

O que mudou depois dos Sit-ins e das manifestações do Rev. King, dos Black Muslins de Malcoln X, da resistência armada e das ações sociais dos Black Panters? Mudou a nação americana? Avançou tanto assim, o negro na América?

É indiscutível a historia de organização e resistência dos negros americanos. Lutaram na a Guerra da Secessão contra a escravidão; nas 1ª. e 2ª. Grandes guerras, como bucha de canhão, por suas vidas; as guerras da Coréia e do Vietnã por afirmação, e as guerras do Oriente Médio, como cidadãos. Nesse período, muitos foram os avanços na área econômica, política, do direito, nas artes e sobretudo da organização. Adquiriram o respeito dos brancos.

Sou da opinião que há sentimentos que não se superam, o racismo por exemplo. Trata-se de um sentimento-cultura adquirido, que vigiado sob pressão e denuncia permanente, e sob uma legislação eficiente, recua, mas não desaparece. Fica lá, guardado no arquivo morto, jamais é deletado. Se houver uma brecha, uma oportunidade, ele volta. É como erva daninha.

Com todas as contradições da nação mais rica do mundo, que já foi a mais racista, que mantém uma população de mais de 20% de americanos negros, indígenas e latinos abaixo da linha de pobreza pobreza, deixando morrer a mingua milhares de cidadãos afro americanos no episódio do Furacão Katrina, e mantendo a quase totalidade da juventude negra desempregada, marginalizada e nas prisões. Como essa nação se permite eleger um negro presidente? Fenômeno? Mistério?

No mundo inteiro, até as racistas elites brancas mais perversas do planeta, deste Brasil varonil, e suas classe médias, torceram freneticamente por Obama. Ninguém agüenta mais esse cow-boy fanfarrão, assassino e belicoso chamado Bush, bem como os prejuízos que causou a todos povos e negócios. Em 8 anos de mentiras levou os EUA a terceira aventura guerreira da historia, contra povos e governos soberanos, a Guerra perdida do Afeganistão e do Iraque, depois das Guerras também perdidas, da Coréia e do Vietnã. Os custos econômicos e em vidas dessa prioridade tresloucada e belicosa teve como conseqüência a desmoralização total da nação, constituindo uma unanimidade internacional anti-Bush, algo impar na historia.

Imbróglio de difícil solução para qualquer presidente americano. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Como sair desse impasse, se em quaisquer circunstancia, a retirada será cara em recursos financeiros, em vidas humanas e em uma maior desmoralização do pais. Os EUA terão de investir pesado para acomodar todos os interesses, ou fazer uma retirada incondicional e atabalhoada, como no sudeste asiático, provocando um conflito generalizado na região.

Os americanos gostam de acreditar que seu rico país também é o mais generoso com os povos bárbaros, atrasados e preguiçosos do resto do mundo. Algo como o máximo da hipocrisia judaico-cristã. "Nós matamos, mas os ajudamos a serem melhores". É para ter a sensação de que o crime justificado, valeu a pena.

Barak é um negro incomum, revelado neste pandemônio conjuntural, mostra-se individualmente capaz e competente, sabendo explorar com sabedoria as oportunidades que a vida lhe oferece. Alguns chamam isso de sorte! Resultado de uma família problemática e desfeita, encontra carinho na avó remediada. Bom aluno, inteligente, cursa excelentes colégios e universidades. Inicia-se no movimento social como opção de militância e de carreira política. Obama constrói seu caminho na militância social e profissional, com compromisso, dedicação, ética e coerência, sobretudo buscando um ideal legitimo, uma carreira política de destaque.

A perseverança, sua dedicação, a boa oratória e a cara de bom moço, revelou um elemento convincente e sedutor, cheio de credibilidade, que o vendeu para o mundo um negro não radical, coerente e centrado. Fosse Obama um agitador esquerdista ou um nacionalista negro, seria vendável do mesmo modo? É obvio que não! O presidente dos EUA, é resultado da confluência de todos esses fatores: inteligência, habilidade, conjuntura, oportunismo e um produto muito bem marquetado. Todos estes fatores contribuíram para esse, o momento do Obama.

Mas Barak teve pela frente uma Hillary, Senadora, consorte do presidente anterior, que terminou seu mandato com índices fantásticos de aprovação, mesmo assim não conseguindo fazer seus sucessores. Falta brilho próprio aos Clintons, ou é incapacidade de transferência de prestigio e do voto do ex-presidente? Ao contrario, os Clintons tem charme, e Hillary é uma mulher forte, simpática, politicamente experiente, primeira dama por dois mandatos. Tinha tudo pra dar certo. O machismo democrata não acreditava em uma vitória, especialmente em ser a hora e a vez de uma mulher no cargo e na função mais poderosa do universo, jogariam para perder, mas perderiam com um macho, ainda que ele fosse negro.

Ocorre que os republicanos responsáveis pelas ações desastradas (que se aprofundavam cada vez mais) de seu presidente, não tinham quadros capazes de reverter a impopularidade dos últimos mandatos, (Bush foi reeleito em eleição fraudada, lembram-se?), e escolheram num momento de repúdio à sanha guerreira de Bush, um herói de guerra, McCain, provavelmente tão belicoso quanto o primeiro, para ser o candidato, e com um programa, (embora negasse semelhança e tentasse se desvencilhar da figura do presidente) de continuidade, para fazer e beneficiar os mesmos. Um homem velho, de direita e fora de seu tempo.

Muito mais estava por vir. Se todos se lembram a crise das bolhas das hipotecas apareceu em agosto ou setembro de 2007. De lá pra cá, o governo Bush manobrou, se equilibrando como pode, para não transparecer as evidencias de que a crise prenunciada
era inevitável e semelhante em gravidade e importância á Grande Depressão de 1929, que durou até 1935/36, provocando a maior tragédia social e econômica para os americanos e para o mundo só comparável à bomba atômica em Hiroshima e Nagazaki em 1945. Hum ano depois, e apesar de todas as tentativas mágicas, Bush não debelara a crise, e ela reaparece com toda força catastrofista, um mês antes do pleito eleitoral. Não tendo o que fazer, senão injetar dólares para evitar um caos maior, sem representatividade no congresso, Bush revela ao mundo o seu drama.

Barack, moço pratico, e hábil, cercado de competentes assessores e marqueteiros (sua campanha arrecadou e gastou quase o dobro de McCain), enfrentando o conservadorismo dos eleitores republicanos, brancos operários, pequenos fazendeiros, classe média preconceituosa e racistas de todos tipo, soube aproveitar-se das oportunidades, com um discurso genérico de mudança, do favorecimento do contribuinte das classes médias, os políticos, os juizes, os pequenos e médios empreendedores, maioria do eleitor americano; prometendo injetar mais algumas centenas de bilhões de dólares na economia para debelar a crise, liquidou a fatura. Seu discurso de autonomia americana em fontes energéticas acabou por adoçar o bico dos empresários e consumidores, que não deixam seus carros na garagem de jeito nenhum.

Acabou o racismo na América, ou Obama é um fenômeno? Durante os anos da revolução Negra Americana, nos idos de 60 e 70, quando as autoridades do país admitiam que a guerra interna com os negros, (que lutavam contra a segregação e pelos direitos civis), trazia mais prejuízo a nação que a guerra da Coréia e do Vietnã, confessando que a prioridade era por um fim a revolta dos negros, mais cara para o país. Tempos em que os negros, eram votados para lideres sindicais para representar os trabalhadores brancos, mas não eram aceitos, por estes, como vizinhos, em seus condomínios, sob alegação de que iriam desvalorizar as suas propriedades. Qualquer semelhança com o argumento das elites brancas "donas" das universidades publicas, no Brasil, contra as COTAS, não é mera semelhança.

Agora, para salvar os bolsos da nação, qualquer individuo, mesmo um negro, com perfil de bom moço, serve para ocupar o maior símbolo de poder capitalista: Ironicamente, A Casa Branca será ocupada por um negro, quebrando todos os velhos paradigmas. Era isso ou McCain, o mesmo remédio que está matando o paciente.

O racismo não morreu nos EUA, como não morrerá no Brasil. Uma contingência de fatores que vão do caráter, competência e sorte, colocaram Obama, no lugar e no momento certo. Isto tem precedentes na historia. Lula arrasando Serra após o repudiado governo de FHC; a eleição do Hitler em um momento de desespero do povo alemão, após a primeira Guerra mundial; A vitoriosa revolução bolchevique em 1917, após a anarquia e destruição praticadas na Rússia pelo Kzar incompetente e corrupto. As fragilidades e contradições político-sociais, moldam os momentos da humanidade, e haverá sempre alguém, com criatividade e inteligência para ocupar as brechas que se abrirem. Essa foi a hora e a vez de Obama, a vez de negras e negros, da juventude, indígenas, dos latinos, de todos daqueles que, respeitando os espaços conquistados por outros seguimentos e culturas, pagaram pra ver mudanças. “A esperança venceu o medo!”

No entanto, não nos iludamos, as instituições americanas solidamente estruturadas, a mais de 200 anos, jamais dariam o mesmo cheque em branco, (que deram a Bush no momento de torpor, após o atentado as torres gêmeas), a outro presidente, especialmente a um representante da minoria. E este, cauteloso e tático como se mostrou, não vai desafiar estas mesmas instituições, será fiel a elas, procurando resolver prioritariamente a crise financeira; utilizar a sua representatividade buscando formas para sair do imbróglio da Guerra no Oriente Médio; implementando uma diplomacia aos moldes de Clinton, que costure acordos entre árabes e judeus; que ajude os africanos combater a AIDES; que coloque seu prestigio a serviço da paz; que talvez, levante o inexplicável bloqueio contra Cuba, pois mais beneficiaria os EUA.

Provavelmente, implementará uma política de distensão e de relações de amizade, com os paises sub e em desenvolvimento baseado na velha cartilha democrata, de proteção e de relações comerciais que atendam prioritariamente os interesses americanos. Será um governo tipicamente democrata sem os escândalos. O novo será um chefe negro.


Reginaldo Bispo-MNU-CPN-SP

Barack Hussein Obama e o simbolismo para a diáspora negra.


A proposta de mudança nunca esteve tão em voga no mundo. O senador democrata negro estadunidense Barack Hussein Obama se torna presidente. O primeiro presidente negro de uma nação em que aprendemos a admirar, comparar, invejar, odiar e temer. O país da luta dos direitos civis. De Malcon X, Luther King, Panteras Negras e Klu Klux Klan. Nada mais simbólico na primeira década do século XXI.
A crise do capital está deixando a elite atônita. A noção de segurar os lucros e socializar os prejuízos entra em processo de colisão com a chamada “maior democracia da Terra”. Os trabalhadores estadunidenses estão inseguros. Sem seguro saúde, com casas hipotecadas e uma série de coisas de extensa enumeração transformam os EUA em um dos países de população mais apreensiva.
O que está em jogo é um presidente negro com a identidade de negritude em evidência, propondo uma retomada dos ideais e valores estadunidenses rumo ao topo. Topo de que? Do mundo?
E se tratando de diáspora negra e todo o processo de luta, resistência e restrição dos espaços ao longo desses 500 e poucos anos, assistir via satélite, uma família negra atingir ascensão do país, cuja nossa cognição foi treinada desde criança a aceitar como a grande potência, dá orgulho.
Agora uma questão incomoda. Talvez seja a grande oportunidade que a História esteja dando a um negro de se mostrar capaz de administrar o sistema capitalista através da nação que o torna viável. E Barack Obama se mostra altamente capaz para o pleito.
E não é uma tarefa fácil, pois o capitalismo precisa ser reestruturado. Novas formas de crédito e apropriação precisam ser construídas. E Obama aparenta ser a pessoa para essa missão.
Dada as manifestações ao redor do mundo e todo aparato tecno-midiático que mitificaram o sorriso e a boa retórica do senador negro, o que acontece com o mundo se ele cumprir sua missão?
Realmente não dá para prever, mas destinar para uma família negra, considerando o aspecto identitário da negritude, a missão de reestruturação do sistema capitalista. É para se pensar. E a questão básica é que Barack Hussein Obama é competente. E não dá para duvidar que ele tenha êxito.
E os negros do mundo acompanham atentamente os EUA.