sexta-feira, 31 de julho de 2009

Gripe suína


Publicado no Jornal Folha dos Lagos em 30 de julho de 2009 por Rafael Peçanha


Ela já acabou com os tradicionais (e por vezes detestáveis) “abraços da paz” na Igreja Católica; já virou caso de tribunal no Rio Grande do Sul; aumentou as vendas de máscaras cirúrgicas em uma infinidade de números sem sentido. Ela é uma epidemia, mas matou menos de 200 pessoas num país de quase 190 milhões de pessoas: com vocês a gripe suína.

Mais que uma doença, a gripe suína é um fenômeno social: representa muito do que fazemos em sociedade e em nossas próprias vidas, onde o medo, ainda que justo, supera a disposição em entender. E ainda que se explique, se panflete, o mais importante é se proteger do desconhecido, do que pode acontecer de ruim:as máscaras são o grande sucesso da moda Brasil 2009. Várias cores, modelos e formatos, incluindo cursos sobre o modo de usá-la.

Há sentido: existe uma história de um país que sofre e sofreu por grandes epidemias e doenças físicas que geraram mortes, fora as doenças sociais: tráfico,crime, corrupção, isso sem falar nas doenças psicossomáticas (ainda que toda doença possa ser psicossomática) como a depressão e a síndrome do pânico...todo medo é compreensível, e louco é aquele que ataca o medo alheio para se defender do seu.

A gripe suína, enquanto fenômeno social, tem muito a ver com as relações políticas, onde o desespero, em geral, vence a prevenção – vide crises financeiras espalhadas pelos municípios. Em nossa cidade, as atitudes políticas sempre têm cara de gripe suína: todo projeto governamental, para determinadas pessoas, é tentativa de angariar votos ou lavar dinheiro. Para outras pessoas, por outro lado, qualquer articulação reivindicatória é “intriga da oposição”,apenas “para ganhar a pasta”. As picuinhas políticas da cidade são como os espirros pelas ruas: “é gripe suína! Cuidado!”, ainda que seja apenas uma alergia simples.

Numericamente, a gripe suína está longe de se tornar uma epidemia: não matou nem 0,001% da população brasileira, ainda que na Região Sul os números sejam, de fato, preocupantes. Assim, percebemos que a visão megalomaníaca não é uma característica presente apenas na nossa cidade, onde candidatos colocam em comícios um número maior de pessoas do que o que receberam de votos nas urnas; onde os empreendimentos são referências mundiais; onde qualquer projeto assistencialista é “revolucionário”; onde toda ação é modelo para o Brasil e onde toda crítica educada é tratada como conspiração.

A gripe suína, a crise financeira mundial, a morte de Michael Jackson e outras notícias que rondam nossos jornais, conversas e esquinas, por mais que pareçam diferentes, possuem algo em comum: são míticas, envolvidas por crenças. Enxergamos aquilo que queremos ver, ou que precisamos visualizar. Nesse sentido, para muitos, é muito legal, interessante e conveniente espirrar, não ter dinheiro ou ir a um enterro. E enquanto a minha máscara não chega, e para que ela não chegue nunca, eu permaneço amando. Ainda que espirre sempre. E ainda que tenha certeza que não soube dizer o que eu queria, nem fazer feliz quem precisava sê-lo.


quinta-feira, 30 de julho de 2009

Notícias, Notícias


Hey Fellas



Notícias do Bandeira Negra



Estamos na produção do nosso disco que saíra em breve para apreciação de todos e todas. Semana passa participamos do programa Clube do som na Tv Jovem - Jardim Esperança - Cabo Frio, integrando o Coletovo H2A - http://www.hiphopativista.blogspot.com/, junto com o Mano Gláucio, Bal mc e Vanone Rappman. Em breve teremos mais novidades sobre nossas andanças e projetos com relatos períodicos. Fiquem Ligados no blog, sempre com noticias sobre as contestações globais e locais.

Bandeira Negra tremula..



Para apreciação de geral





Dead Prez - Summertime





segunda-feira, 27 de julho de 2009

COMUNIDADES TRADICIONAIS DA REGIÃO DA COSTA VERDE LANÇAM MANIFESTO - RJ



MANIFESTO DO FORUM DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS


Nós, membros do FÓRUM DE COMUNIDADES TRADICIONAIS vimos manifestar nossa indignação com a pressão sofrida pelas comunidades, ora pela especulação imobiliária, ora pela ausência de políticas públicas, ou ainda pela política ambiental implementada na região.

Há pelo menos 30 anos essa região vem sofrendo fortes impactos com a construção da Rodovia Rio-Santos, que fomentou um modelo de desenvolvimento baseado no turismo, onde os Condomínios de Luxo e outros empreendimentos como Marinas e Resorts tiram o território dessas Comunidades Tradicionais, expulsando o povo que deixa seu espaço, passando a morar na periferia da cidade e outros contextos socio-culturais.

O CONDOMÍNIO LARANJEIRAS é um exemplo do que tem acontecido em todo litoral, com a remoção de uma Comunidade Caiçara, privatização de quatro praias, violação do Direito de ir e vir das comunidades do entorno e e dos Direitos Trabalhistas quando pune os trabalhadores que se colocam na luta em defesa dos direitos dessas comunidades.

A Política Ambiental implementada na região desconsidera historicamente a presença das comunidades nos seus territórios, proibindo-as de manter as práticas tradicionais como plantar e pescar e até mesmo construir ou reformar suas moradias, através de uma estratégia de intervenção incompátivel com as possibilidades de manejo sustentável da biodiversidade na Mata Atlantica.

Vamos mudar essa realidade: PELA GARANTIA DOS DIREITOS DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS!!!

DIREITO AO TERRITORIO! DIREITO Á EDUCAÇÃO DIFRENCIADA! DIREITO À SAÚDE!FÓRUM DE COMUNIDADES TRADICIONAIS

O FÓRUM DE COMUNIDADES TRADICIONAIS é um espaço político constituído por legítimos representantes das Comunidades Tradicionais Quilombolas, Caiçaras e Índios Guaranis situados no território compreendido entre o sul de Angra dos Reis, Paraty e o norte de Ubatuba, lutando pela garantia dos direitos e a manutenção da identidade cultural dessas comunidades.


Secretaria Executiva:


AMOC – Associação de Moradores do Campinho


BR 101 – Km 584 – Quilombo Campinho da Independência – Paraty – RJ - CEP: 23.970-000




A PERDA DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS REPRESENTA UMA PERDA PARA TODA A HUMANIDADE!


Fonte: Associação de Moradores do Campinho

domingo, 26 de julho de 2009

Hip Hop do bem em Solidariedade ao Haiti


Após uma revolta escrava ocorrida no final do século XVIII, o povo preto haitiano, escravizado pelo colonizador frances e seus descendentes, conseguiu libertar-se. Os brancos que sobreviveram a essa rebelião foram obrigados a fugir para a França que, em 1804, reconheceu a independência daquele país. O exemplo de uma nação emancipada em decorrência de uma rebelião da classe subalterna não poderia se espalhar pelo resto da América, que ainda vivia sob o sistema escravista. Dês de então, esse pequeno país da América Central, é vítima de ataques constantes, velados ou declarados, dos países imperialistas, principalmente dos EUA, até os dias atuais. Com uma população vivendo na miséria, o povo do Haiti se revoltou em defesa de sua sobrevivência, foi às ruas em grandes protestos, saques, fazendo até greves gerais. No início de 2004, aconteceu uma intervenção do governo dos Estados Unidos, forçando o então presidente (Aristide) a renunciar e deixar o país. O fato de o governo Lula estar interessado em ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU faz com que esteja pronto a atender qualquer pedido daquela organização. E se aproveitando disso, a ONU pede para que o Brasil envie tropas para sufocar a revolta popular. Em 2005 a SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), sob o comando da então ministra Matilde Ribeiro – aquela que gastou R$ 171.000 do nosso dinheiro em futilidades como salão de beleza, free-shoop, entre outras – convidou organizações de Hip Hop de integridade negociável para preparar em conjunto a Campanha Pense no Haiti, Zele pelo Haiti, com shows, seminários e arrecadação de material escolar. Os grupos de Hip Hop comprometidos com a luta dos povos oprimidos entenderam que essa campanha, assim como o jogo da seleção brasileira de futebol, pretendia maquiar o verdadeiro caráter da invasão - chamada de Força de Estabilização. Não vemos verdade nas intenções pacificadoras de uma Organização das Nações Unidas que permitiram a invasão do Iraq pelos EUA, e apesar dos apelos, se negou a enviar suas tropas para Ruanda, permitindo os Htus matarem 800.000 tutsis em 100 dias (8.000 assassinatos por dia). No momento em que uma delegação haitiana viaja o Brasil, estado por estado, para denunciar as atrocidades cometidas pelas forças de ocupação da ONU, lideradas pelos militares brasileiros, o rapper MV Bill apareceu no Domingão do Faustão propagando as “benesses” da invasão militar naquele país. A aparição super-anunciada de MV Bill no Faustão, no dia 12/07, foi simplesmente desastrosa. MV Bill defende a ocupação militar do Haiti! Para ele as criancinhas do Haiti ficam alegres quando vêem as tropas de ocupação! Sabemos que MV Bill não é tolo, não é desinformado, talvez mal intencionado, pois para a Globo ele é hoje um grande líder político. Aliás, ele muito bem sabe quem é a Globo, aquela emissora que “mostra os pretos chibatados pelas costas”, conforme expressa uma de suas antigas músicas. Mas os pretos do Haiti também são pretos, são pobres, são favelados, e são chibatados pelas costas. MV Bill negou a existência de grupos de rap no Haiti dizendo que não os encontrou por que o país é muito pobre. Mas o rap não é a música da favela? De certo MV Bill teve que negar o rap haitiano tal como a Globo há muito tempo tenta ofuscar o contestador rap brasileiro. Para essa emissora os maiores artistas do rap sempre foram Gabriel o Pensador, Marcelo D2 e agora MV Bill. Quem não lembra que antes de MV Bill aderir a Globo, essa emissora o perseguiu acintosamente? Disseram, no Jornal da Globo, que o clipe “Soldado do Morro” era só “ Armas, Drogas e música mal feita”. Mas num passe de mágica “global” MV Bill passou de “bandido musical” ao bom menino, da boa música, parceirão da compromissada Rede Globo, via “Criança Esperança”. Para obter esse status global MV Bill teve que se desculpar sobre as criticas outrora feitas ao “Criança Esperança” e à própria emissora. . Em seu Site MV Bill e CUFA também dizem-se favoráveis a ocupação dos morros cariocas pelo B.O.P.E. com algumas ressalvas. Já há alguns dias a Cidade de Deus, tão cantada por MV Bill, está ocupada pela PM, que, de acordo com relatos de moradores, tem lançado mão de práticas autoritárias como proibir que jovens circulem pela favela com cabelos pintados de amarelo, entrarem em algumas casas e abaixarem os volumes dos aparelhos de som, vasculharem aparelhos de MP3 para ver se encontram algum Funk, a musica proibida pelas autoridades fluminenses. E dês de então, nenhuma declaração do nosso “herói”, pelo menos em meios de grande repercussão, como num Domingão do Faustão. Tudo isso demonstra que a CUFA é hoje um braço do Estado e da burguesia na favela. Sua parceria com organismos imperialistas como o Consulado dos EUA e o Banco Mundial não é à toa. Eles, juntos com outras entidades e empresas financiaram golpes e mais golpes militares na América Latina, ao mesmo tempo em que financiava também movimentos sociais pró-imperialistas. No Maranhão a CUFA encabeçou um Encontro de Hip Hop tirado da cartola pelo governo para se contrapor as atividades da Marcha da Periferia organizada pelo Quilombo Urbano (ver Governo e CUFA versus 3ª Marcha da Periferia) e na Cidade de Caxias se juntou a TV Difusora ligada ao grupo do senador Edson Lobão para organizar uma batalha de break no mesmo dia em que o grupo Ministério das Favelas (MINFA) realizaria a sua tradição batalha break, já em sua sexta edição. A batalha organizada pelo MINFA trazia como tema “Negro Cosme” o herói da revolta da balaiada. Na semana seguinte a essas atividades a prefeitura desta cidade mandou confeccionar uma cartilha exaltando Duque de Caxias, assassino de Negro Cosme. O apresentador da Batalha da Difusora, era o coordenador da CUFA-MA , conhecido como Billy. “Se amanhã uma guerra estourar sei que lado vou estar” dizia em uma das músicas o MV Bill pré-global. Mas a guerra estourou no Haiti, nos morros do Rio de Janeiros, nas periferias brasileiras, o governo Lula criou a Força de Segurança Nacional paralelo a invasão do Haiti, e de que lado MV Bill ficou? Do mesmo lado que o mestiço Domingo Jorge Velho – o assassino de Zumbi - ficou quando a revolta negra estourava nas senzalas resultando em construções de quilombos. Claro que a CUFA não vai pegar em armas para assassinar os pretos com fazia os capitães do mato, ela apenas legitima os assassinos de nossa gente. Quando lançou o vídeo Falcões Menino do Trafico, que não mostra que são os grandes traficantes, a Globo elogiou e anunciou: comprem! Comprem! E logo em seguida lançou uma infinidade de programas que apresenta ela, a Globo, salvando vidas de crianças pobres e pretas, divulgando artistas pobres e pretos, a exemplo do programa Central da Periferia, enquanto por outro lado detonava com a política de cotas e exigia que os governos diminuíssem seus gastos sociais. MV Bill legitima a Globo e as forças imperialistas como única via de salvação dos favelados, quando são eles na verdade os responsáveis pelas condições de existência das favelas que cresce assustadoramente em todo o mundo. MV Bill e a CUFA “tá junto e misturado” com a burguesia, então não serve pra favela! De nosso lado, estamos dispostos a cooperar com qualquer iniciativa de solidariedade ao povo haitiano, dês de que ela respeite a sua luta, a sua auto-determinação. Não caímos no engodo de que as tropas brasileiras lá estão para controlar a desenfreada violência das gangues marginais locais. Para isso basta entendermos que todo individuo ou grupo que luta contra uma classe dominante está sujeito a esses rótulos desqualificantes como no caso das FARC - taxada de quadrilha de traficantes – ou mesmo nossos heróis e heroínas que deram suas vidas lutando contra a ditadura civil-militar brasileira, mas que as autoridades e as grandes corporações de comunicação à eles se referiam como assaltantes, seqüestradores e terroristas. Nós pensamos no Haiti e defendemos que zelar pelo Haiti é, também, através da nossa arte, gritarmos pela retirada das tropas brasileiras daquele país. E por esse manifesto, convidamos grupos, posses, crews, organizações, B. Boys/Girls, graffiteiros/as, MCs e DJs para, juntos, construirmos uma campanha de mobilização para exigir do governo brasileiro a desocupação do Haiti, retirando já o seu exército de lá.


Resistência Cangaço Urbano (CE), Coletivo de Hip Hop LUTARMADA (RJ), Movimento Hip Hop Organizado do Maranhão Quilombo Urbano (MA), Cartel do RAP (PR), Liberdade e Revolução (SP), Ministério das Favelas (MA), Atividade Interna (PI)

sábado, 25 de julho de 2009

O esforço de Arias e o golpismo da Mídia




Figuras de uma foto amplamente divulgada na mídia, feitas de fibra de vidro, parecem saídas de um desfile de escola de samba. O regime do golpe diz que estavam num jardim da casa presidencial e representam o presidente deposto (Zelaya) ao lado de heróis da independência no século XIX. Um presidente não precisa necessariamente ter bom gosto, mas seria ridículo ver nisso "prova" de que era ditador - estapafúrdia alegação dos golpistas. O artigo é de Argemiro Ferreira.

Argemiro Ferreira

Ainda não é fato consumado o fracasso da mediação de Oscar Arias, presidente da Costa Rica, já que pediu mais 72 horas e sua equipe considera a mediação “bem encaminhada”. O deposto e exilado Manuel (Mel) Zelaya marcou para o dia 24 a volta a Honduras. E Roberto Micheletti, ditador instalado pelo golpe militar, rejeita enfaticamente o retorno do presidente legítimo, eleito pelo voto popular.

Figuras de uma foto amplamente divulgada na mídia, feitas de fibra de vidro, parecem saídas de um desfile de escola de samba. O regime do golpe diz que estavam num jardim da casa presidencial e representam o presidente deposto (Zelaya) ao lado de heróis da independência no século XIX. Um presidente não precisa necessariamente ter bom gosto, mas seria ridículo ver nisso "prova" de que era ditador - estapafúrdia alegação dos golpistas.

Com tais “provas” fica fácil entender porque nenhum país (nem Israel!) reconhece o regime. A diplomacia dos EUA continua ambígua (a secretária Hillary Clinton, da Índia, puxou ontem a orelha de Micheletti pelo telefone); OEA e ONU apoiam a democracia, com a volta do presidente eleito; BID e Banco Mundial suspendem programas; e União Européia congela US$ 65,5 milhões da ajuda a Honduras.

Apesar desse quadro os golpistas conseguem protelar o fim da crise. Na proposta de Árias a volta de Zelaya ao cargo do qual foi retirado à força é o ítem 1, mas os golpistas tentam ganhar tempo. Como na crise dominicana de 1965: ante a resistência popular, o chefe do golpe pediu socorro aos EUA e os fuzileiros vieram (45 mil) - tropa transformada depois em “força de paz da OEA”. A protelação impediu o presidente Juan Bosch de voltar.

O exemplo de Wessin y Wessin
Há 45 anos, claro, a moda era outra: o pretexto da “ameaça comunista” justificava golpes militares e intervenções dos EUA. Na época o Brasil dos generais retribuiu a operação Brother Sam (de apoio ao golpe de 1° de abril no ano anterior, contra o “comunista” João Goulart). Enviou as tropas brasileiras comandadas pelo general Meira Mattos, que se somaram à falsa “força de paz”.

O cinismo do governo do presidente Lyndon Johnson e dos países que o apoiaram (nosso ditador de plantão, Castello Branco, entre eles) tornou aquele episódio página infame da história continental. Do outro lado lutavam pela democracia as forças constitucionalistas lideradas pelo coronel Francisco Caamaño Deño e integradas por oficiais jovens e civis.

Com larga adesão popular, a “revolução constitucionalista” tentava restabelecer a Constituição. Bosch tinha sido o primeiro presidente eleito depois da ditadura Trujillo. O líder do golpe foi o general Elias Wessin y Wessin. Junto com outros chefes militares formados à sombra de Trujillo, tinha respaldo no Pentágono.

É oportuno lembrar Wessin y Wessin - retratado na capa da revista Time, em seguida ao golpe, como herói da luta contra o comunismo Ele morreu há apenas três meses, com 84 anos. Morte serena, na cama. Depois daquela crise o general viveu um tempo no luxo em Miami (como em geral ocorre com ditadores e golpistas) mas voltou para integrar vários governos dominicanos.

Zelaya, um novo Juan Bosch?
A intervenção americana de 1965 foi ainda uma das razões da sobrevivência política de outros filhotes da ditadura Trujillo - como Joaquín Balaguer, outra vocação autoritária, que acabaria ocupando três vezes a presidência dominicana, num total superior a 20 anos. Balaguer só morreria em 2002, com 95 anos.

O equívoco dos constitucionalistas de 1965 foi acreditar na promessa dos EUA, ainda no governo Kennedy, de apoiar reformas democráticas no continente. Como o presidente que prometera foi assassinado em 1963, o sucessor Johnson preferiu aderir aos golpistas. Hoje a situação é parecida. Em Honduras e no resto do hemisfério não se sabe até que ponto é real o compromisso dos EUA com a democracia.

Para Zelaya, a protelação reduz o tempo na presidência e favorece a pregação golpista da mídia. E há mais complicadores: a proposta de Árias anula na prática os poderes do presidente; golpistas do legislativo e judiciário serão anistiados e participarão do governo; e a mídia golpista, impune, manterá seu papel nos complôs, atacando e difamando governantes que não se submetem aos interesses dela.

Vale a pena passar os olhos nas edições online dos diários hondurenhos. Repetem todo dia que Micheletti, instalado pelo golpe, é democrata; e Zelaya, que o povo elegeu, é ditador - “violava a Constituição não uma, mas muitas vezes”, dizem os golpistas. Favorável a estes e tão irresponsável como a do Brasil, a grande mídia de Honduras chama Zelaya de “corrupto”, “golpista”, “chavista”, “comunista”, etc.

Ou um novo Saddam Hussein?
As figuras em fibra de vidro no jardim foram feitas por artista popular em troca de uns trocados. São bregas mas Zelaya é presidente, não crítico de arte. O que elas provam é o baixo a que desce a mídia partidária dos golpes. O jornal El Heraldo achou gravíssimo as "estátuas" estarem na residência presidencial, mas um leitor contestou o relato.

Disse na edição online não ser hoje e nem ter sido antes empregado do governo. E explicou que visitara há algum tempo ateliê no qual são feitas imagens como aquelas. “Soube então que eram dadas de presente a Zelaya, para um evento. O veneno de vocês nesses artigos é incrível. Não sei quem é pior, vocês ou ele”, concluiu.

Os que invadiram a casa presidencial esperaram mais de 20 dias para falar das tais figuras do jardim. El Heraldo, como costuma fazer O Globo, Folha de S.Paulo, Estadão e Veja, ouviu "especialistas". Um deles, psiquiatra, diagnosticou e definiu a “megalomania” de Zelaya: “É um exagero delirante da própria capacidade, um delírio de grandeza”.

Já um analista político viu naquilo “simbologia típica de ditadores”. Lembrou que “Saddam Hussein mandou erigir estátua gigantesca de si mesmo”. E proclamou com eloquência cívica: “Zelaya julga-se no direito de governar (…) pela eternidade”, precisa de “ajuda psiquiátrica”.

33 mil jovens deverão ser assassinados no Brasil entre 2006 e 2012, diz Unicef



33 mil jovens deverão ser assassinados no Brasil entre 2006 e 2012, diz Unicef
Jovem negro tem 2,6 mais risco de ser assassinado do que um branco.Homicídios representam 45% das causas de morte entre os adolescentes.



Nathalia Passarinho e Rafael Targino Do G1, em Brasília

Mais de 33,5 mil jovens de 12 a 18 anos deverão perder a vida por homicídio entre 2006 e 2012, caso os índices de violência no país não se alterem nos próximos anos. O Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), pesquisa realizada em conjunto pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e organização não governamental Observatório de Favelas, foi divulgado nesta terça-feira (21). De acordo com o levantamento, a média de adolescentes assassinados no Brasil antes de completarem 19 anos é de 2,03 para cada grupo de mil. O número é considerado elevado, já que, segundo os organizadores da pesquisa, uma sociedade não violenta deveria apresentar valores próximos de zero.O índice revela o risco de mortalidade por assassinato entre jovens brasileiros e estima quantos adolescentes com pelo menos 12 anos serão vítimas de homicídio antes de completarem 19 anos. Para o levantamento, foram coletados dados de 2006 sobre assassinatos de adolescentes em 267 municípios com mais de 100 mil habitantes.

Ranking por região

O levantamento revela disparidade entre as condições de segurança nas diferentes regiões do país. Em 34% dos municípios pesquisados, o IHA foi inferior a um adolescente assassinado para cada grupo de mil, enquanto cerca de 22% das cidades obtiveram valores superiores a três jovens mortos.

Outros 7% dos municípios, no entanto, puxaram o índice para cima, por apresentarem valores superiores a cinco adolescentes assassinados para cada mil. O município com o pior resultado é Foz do Iguaçu (PR), onde o IHA é de 9,7. A estimativa é de que 443 jovens com menos de 19 anos sejam assassinados nessa cidade entre 2006 e 2012.

Em segundo lugar, está Governador Valadares (MG), com um índice de 8,5 jovens mortos para cada mil. Entre as capitais, Maceió e Recife lideram o ranking de homicídios entre adolescentes, ambas com uma média de 6,0 jovens mortos para cada mil. O Rio de Janeiro aparece com índice de 4,9.


Grupos de risco

A pesquisa revela ainda que a probabilidade de ser vítima de homicídio é quase 12 vezes maior para homens. Mostra também que a população negra é a que mais sofre com a violência. O risco de um jovem negro morrer assassinado é 2,6 vezes maior em relação a um branco.

Atualmente, os homicídios representam 45% das causas de morte entre os adolescentes. Segundo o levantamento, o risco de assassinato é maior para a faixa etária de 19 a 24 anos, e decresce a partir daí.A maior parte dos homicídios ocorre por arma de fogo, o que, segundo o relatório, reforça a importância do controle de armamento nas políticas de redução da violência.


Ordem
Município
UF
Índice
em 2006

Foz do Iguaçu
PR
9,7

Governador Valadares
MG
8,5

Cariacica
ES
7,3

Olinda
PE
6,5

Linhares
ES
6,2

Serra
ES
6,1

Duque de Caxias
RJ
6,1

Jaboatão dos Guararapes
PE
6,0

Maceió
AL
6,0
10ª
Recife
PE
6,0

Dead Prez - Police State

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Como endireitar um esquerdista


Ser de esquerda é, desde que essa classificação surgiu na Revolução Francesa, optar pelos pobres, indignar-se frente à exclusão social, inconformar-se com toda forma de injustiça ou, como dizia Bobbio, considerar aberração a desigualdade social.Ser de direita é tolerar injustiças, considerar os imperativos do mercado acima dos direitos humanos, encarar a pobreza como nódoa incurável, julgar que existem pessoas e povos ntrinsecamente superiores a outros.

Ser esquerdista - patologia diagnosticada por Lênin como "doença infantil do comunismo" - é ficar contra o poder burguês até fazer parte dele. O esquerdista é um fundamentalista em causa própria.Encarna todos os esquemas religiosos próprios dos fundamentalistas da fé. Enche a boca de dogmas e venera um líder. Se o líder espirra, ele aplaude; se chora, ele entristece; se muda de opinião, ele rapidinho analisa a conjuntura para tentar demonstrar que na atual correlação de forças...O esquerdista adora as categorias acadêmicas da esquerda, mas iguala-se ao general Figueiredo num ponto: não suporta cheiro de povo.Para ele, povo é aquele substantivo abstrato que só lhe parece concreto na hora de cabalar votos. Então o esquerdista se acerca dos pobres, não preocupado com a situação deles, e sim com um único intuito: angariar votos para si e/ou sua corriola. Passadas as eleições, adeus trouxas, e até o próximo pleito!Como o esquerdista não tem princípios, apenas interesses, nada mais fácil do que endireitá-lo. Dê-lhe um bom emprego. Não pode ser trabalho, isso que obriga o comum dos mortais a ganhar o pão com sangue, suor e lágrimas. Tem que ser um desses empregos que pagam bom salário e concedem mais direitos que exige deveres. Sobretudo se for no poder público. Pode ser também na iniciativa privada. O importante é que o esquerdista se sinta aquinhoado com um significativo aumento de sua renda pessoal.Isso acontece quando ele é eleito ou nomeado para uma função pública ou assume cargo de chefia numa empresa particular. Imediatamente abaixa a guarda. Nem faz autocrítica. Simplesmente o cheiro do dinheiro, combinado com a função de poder, produz a imbatível alquimia capaz de virar a cabeça do mais retórico dos revolucionários.Bom salário, função de chefia, mordomias, eis os ingredientes para inebriar o esquerdista em seu itinerário rumo à direita envergonhada - a que age como tal mas não se assume. Logo, o esquerdista muda de amizades e caprichos. Troca a cachaça pelo vinho importado, a cerveja pelo uísque escocês, o apartamento pelo condomínio fechado, as rodas de bar pelas recepções e festas suntuosas.

Se um companheiro dos velhos tempos o procura, ele despista, desconversa, delega o caso à secretária, e à boca pequena se queixa do "chato". Agora todos os seus passos são movidos, com precisão cirúrgica, rumo à escalada do poder. Adora conviver com gente importante, empresários, ricaços, latifundiários. Delicia-se com seus agrados e presentes. Sua maior desgraça seria voltar ao que era, desprovido de afagos e salamaleques, cidadão comum em luta pela sobrevivência.Adeus ideais, utopias, sonhos! Viva o pragmatismo, a política de resultados,a cooptação, as maracutaias operadas com esperteza (embora ocorram acidentes de percurso. Neste caso, o esquerdista conta com o pronto socorro de seus pares: o silêncio obsequioso, o faz de conta de que nada houve, hoje foi você, amanhã pode ser eu...).Lembrei-me dessa caracterização porque, dias atrás, encontrei num evento um antigo companheiro de movimentos populares, cúmplice na luta contra a ditadura. Perguntou se eu ainda mexia com essa "gente da periferia". E pontificou: "Que burrice a sua largar o governo. Lá você poderia fazer muito mais por esse povo."Tive vontade de rir diante daquele companheiro que, outrora, faria um Che Guevara sentir-se um pequeno-burguês, tamanho o seu aguerrido fervor revolucionário. Contive-me, para não ser indelicado com aquela figura ridícula, cabelos engomados, trajes finos, sapatos de calçar anjos. Apenas respondi: "Tornei-me reacionário, fiel aos meus antigos princípios. E prefiro correr o risco de errar com os pobres do que ter a pretensão de acertar sem eles".

Frei Betto

domingo, 5 de julho de 2009

Honduras - o eterno retorno até quando?


Atualizações: Desde o golpe, milhares de pessoas vão às ruas nas principais cidades de Honduras condenando o golpe e exigindo a volta do presidente legítimo Manuel Zelaya. O governo golpista decretou toque de recolher até esta sexta-feira, mas que provavelmente será estendido. Contra as manifestações, desata uma repressão brutal. Centenas de manifestantes foram feridos e presos, além de jornalistas que também foram presos. Pelo menos duas pessoas morreram em consequência da repressão às manifestações. O Exército tem recrutado nos últimos dias jovens e crianças em cidades pequenas de maneira forçada, já que o serviço militar em Honduras é voluntário. Trabalhadores e trabalhadoras de fábricas 'maquiladoras' também são obrigados/as a participar de manifestações pró-golpe.
Internacionalmente, nenhum país reconheceu o governo golpista de Roberto Micheletti. A Organização dos Estados Americanos (OEA) suspendeu o direito de Honduras de participar da Organização até que o presidente legítimo seja restituído. Mesmo com a visita do Secretário Geral da OEA a Honduras no sábado, Roberto Michelleti se recusou a deixar o governo. A Organização das Nações Unidas também se posicionou contra o golpe. Os governos de El Salvador e Nicarágua, vizinhos de Honduras, fecharam suas fronteiras e o comércio bilateral. Hugo Chávez suspendeu a venda de petróleo a Honduras, como forma de pressionar pela volta do presidente legítimo. Manuel Zelaya disse que vai voltar a Honduras neste domingo para exigir o cargo de volta e pediu para que os hondurenhos não parem com as manifestações. Na última quinta-feira, o governo golpista de Roberto Micheletti disse que pode aceitar antecipar as eleições que estavam marcadas para novembro próximo, desde que dentro de limites "legais", o que é difícil de entender se tratando de um governo golpista.
Domingo, 16h50min: Manuel Zelaya está em um avião em direção a Honduras, enquanto milhares de pessoas estão nas ruas contra o golpe que já dura uma semana.19h: Militares começaram a atacar a manifestacão pacífica que esperava o retorno do presidente Zelaya. Transmissão ao vivo da Telesur mostra os militares que atacam a manifestacão com bombas de gás e tiros de verdade. Relatam que três pessoas foram mortas e várias pessoas feridas pelos disparos. Os manifestantes se aproximam novamente do aeroporto.

20h20min: Quando o avião que transportava Zelaya se aproximava do aeroporto da capital de Honduras, o exército bloqueou a pista de pouso, impedindo a aterrisagem.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Anistia Internacional: Israel cometeu crimes de guerra 'sem precedentes' em Gaza




Anistia Internacional divulgou nesta quinta-feira, em Londres, Inglaterra,o seu relatório sobre a ofensiva militar de 22 dias (27 de dezembro de 2008 a 17 de janeiro de 2009) de Israel contra a Faixa de Gaza.
Segundo o relatório da Anistia Internacional, Israel:
* Praticou a "destruição cruel", "indiscriminada", "sem precedentes", da Faixa de Gaza em ataques que frequentemente tinham como alvos civis palestinos.
* Usou armas de baixa precisão, como artilharia e fósforo branco, em áreas densamente povoadas.
* Promoveu ataques indiscriminados diretos ou indiretos contra civis e alvos civis. Várias centenas de civis foram mortos como resultado destes ataques
* Demoliu e destruiu casas e prédios civis em grande escala, e a destruição não poderia ser justificada como uma necessidade militar.
"Impediu equipes médicas de retirar os feridos, além de atacar algumas equipes médicas em ambulâncias.
O relatório da Anistia Internacional afirma ainda que:
* Centenas de civis palestinos foram mortos com armas de alta precisão e outros com tiros à queima-roupa, "sendo que não representavam ameaça à vida de soldados israelenses".
* A Anistia não encontrou evidências que apoiem as acusações israelenses de que os militantes do Hamas, em Gaza, usaram civis como "escudos humanos". A entidade diz, no entanto, que há evidências de maus tratos contra civis palestinos -- inclusive crianças -- por parte de soldados israelenses.
* Cerca de 1.400 palestinos foram mortos na operação militar israelense. Esses números batem com as estatísticas divulgadas por palestinos.Entre os mortos, mais de 900 eram civis, incluindo 300 crianças e 115 mulheres, de acordo com o relatório. O Exército israelense afirma que 1.166 palestinos morreram, dos quais 295 eram civis.
"Tudo isto é violação das leis internacionais e constitui crimes de guerra", acusa a responsável pelo relatório. "A maior parte da destruição foi cruel e deliberada, e foi promovida de maneira e em circunstâncias que não indicam que possa ser justificada do ponto de vista da necessidade militar."
O documento também também acusa o grupo palestino Hamas de cometer crimes de guerra, citando os ataques com foguetes lançados contra zonas residenciais em Israel.Treze israelenses foram mortos, incluindo três civis.
Israelenses e palestinos rejeitam o relatório
Yigal Palmor, porta-voz do Ministério do Exterior israelense, questionou a credibilidade do relatório da Anistia.
"Este relatório da Anistia não é um relatório sobre direitos humanos, é um julgamento ao estilo soviético. Não há transparência, não há responsabilidade, não sabemos quem são os juízes. Quem são os membros da equipe de investigação? Eles escondem suas identidades", afirmou.
Palmor também questionou os conhecimentos da equipe de investigação da Anistia, a identidade das testemunhas e se elas trabalham para o Hamas.
Israel atribuiu algumas das mortes de civis a "erros profissionais" e acrescentou que sua conduta seguiu as leis internacionais."Tentamos ser tão precisos quanto podíamos em uma situação de combate difícil", disse à BBC o porta-voz do governo israelense Mark Regev.
Na Faixa de Gaza, Fawzi Barhoum, um porta-voz do Hamas, afirmou que o relatório da Anistia não é profisssional e não coloca ênfase o bastante em "crimes cometidos por Israel".
"Este relatório não é justo nem equilibrado e nós rejeitamos todas as acusações ao Hamas listadas nele. Ele foi publicado sem a consulta a qualquer um dos líderes ou autoridades do Hamas. O relatório iguala vítimas e carrascos e nega o direito de nosso povo de resistir à ocupação, que é incompatível com a lei internacional que garante o direito de um povo (em território) ocupado à autodefesa."
Um dos líderes do Hamas, Ismail Haniyeh, disse que "esta guerra selvagem teve apenas um lado e todas as ferramentas de destruição e assassinato foram usadas. Os restos da destruição ainda são provas do crime contra a Faixa de Gaza e acreditamos que os líderes da ocupação israelense devem ser entregues aos tribunais internacionais".

quarta-feira, 1 de julho de 2009

GOLPE COM AMOSTRAS GRÁTIS: COMO MENTE E DISTORCE A MÍDIA


Por Laerte Braga

Roberto Micheletti, presidente do congresso hondurenho, foi empossado na presidência da República em substituição ao presidente constitucional Manuel Zelaya, deposto por um golpe militar financiado por empresas multinacionais do setor farmacêutico.
Quem se der ao trabalho de comparar o discurso de posse do novo “presidente” vai encontrar semelhanças com o discurso de Pedro Carmona, “presidente” empossado no golpe que destituiu Hugo Chávez em 2002. Durou três dias e Carmona mora hoje em Miami, paraíso de golpistas.
Micheletti fala em “transição”, fala em “legalidade”, fala em “paz” enquanto as tropas da indústria farmacêutica prendem e matam lideranças de oposição. Em flagrante desrespeito a normas internacionais de direito o embaixador da Venezuela foi seqüestrado, agredido e abandonado numa estrada por militares “patriotas”. O mesmo aconteceu com o embaixador de Cuba.
Políticos como Micheletti não são tão caros assim como se possa imaginar. Como via de regra não têm e nem sabem o que sejam escrúpulos, princípios, dignidade, costumam aceitar qualquer garrafa de cerveja para um golpe semelhante ao que aconteceu em Honduras.
No caso de Micheletti (que não tem a goela grande de um Sarney) deve ter recebido um monte de amostras grátis da indústria farmacêutica internacional. O golpe, entre outras razões, foi financiado por essas quadrilhas para evitar o acordo que previa medicamentos genéricos e baratos no país e um projeto de saúde pública que contemplasse todos os hondurenhos. Entre outras razões. O presidente constitucional do país aderiu a ALBA – ALTERNATIVA BOLIVARIANA – e pretendia realizar hoje um referendo sobre reformas constitucionais.
Ouvir o desejo dos cidadãos de seu país. Isso não convém a empresas multinacionais, a banqueiros, a latifundiários e não interessa aos norte-americanos. O embaixador dos EUA foi partícipe ativo dos preparativos do golpe e do próprio. Não se reporta a Obama, só na hora das fotos. Seus relatórios vão para Wall Street, em New York.
Barak Obama talvez tenha entendido agora que não preside país algum. É apenas parte de um show, um espetáculo. Ou aceita as regras dos diretores – são vários – ou fica num mandato só, nem isso se bobear.
Deve ter sido farta a distribuição de amostras grátis. Existe uma boa quantidade de generais, deputados e ministros de corte suprema em Honduras. Vão ser usadas, com certeza, nas próximas eleições.
A mídia brasileira, financiada dentre outros, por laboratórios multinacionais, vem noticiando o fato com a expressão “golpe de estado”, mas preocupada em deixar claro nas entrelinhas que o presidente constitucional do país Manuel Zelaya “desrespeitou” uma decisão da suprema corte.
A barbárie e a violência dos militares golpistas não é registrada. Importante é deixar uma dúvida no ar.
A condenação explícita do golpe por governos do mundo inteiro leva a mídia a apostar em fatos que considera de “maior importância”. A morte de Michael Jackson. Ou a vitória do Brasil sobre os Estados Unidos. E atribuir ao presidente deposto pelos militares a soldo da indústria farmacêutica intenções de vir a ser reeleito.
Não existe capacidade de indignação na grande mídia brasileira, de um modo geral em todo o mundo capitalista. Não existe vontade de explicar os fatos, mostrá-los na sua totalidade. Existe a mentira deliberada e muito bem divulgada.
Se não podem exibir a alegria e os sorrisos com a deposição de um presidente que contraria os interesses dos patrões, exibem a discrição asséptica de quem quer que o assunto fique num canto e não leve as pessoas a pensar em todas as suas conseqüências, ou no seu significado.
Foi desse jeito, quando o presidente Chávez determinou que a gasolina venezuelana fosse vendida a preços mais baixos na região atingida pelo furacão Katrina – New Orleans – que William Bonner explicou a estudantes e professores de jornalismo que a notícia não interessava, pois “nosso telespectador é como Homer Simpson, não quer saber de fatos assim e além do mais essa noticia contraria nossos amigos americanos”.
É comum esse tipo de empregado qualificado chamar o dono de amigo. Na mesma medida que esse dono, também não tem nem princípios e nem escrúpulos.
Às vezes se esquecem de combinar a farsa e acabam trombando. Foi o que revelou o jornalista Celso Lungaretti em episódio que envolve outro “militar patriota”, o célebre major Curió. Curió abriu a boca semana passada e confessou que muitos dos prisioneiros na guerrilha do Araguaia foram executados a sangue frio. A revista VEJA, preocupada com a queda na circulação, deu destaque às declarações de celerado Curió e a FOLHA DE SÃO PAULO, preocupada em agradar os patrões, também por conta da queda de circulação, mas noutra via, foi ouvir militares com coragem para mentir e desmentir Curió em nome do que a FOLHA chamou de “ditabranda”.
É tudo “patriotismo”,
O que o golpe em Honduras mostra é que esse tipo de “patriotismo” canalha continua vivo em setores de forças armadas latino-americanas. Que o arremedo neoliberal que chamam de “democracia” não está assim tão consolidado. E nem se fale que Honduras é um país de dimensões menores. Ano passado o general comandante militar da Amazônia – hoje na reserva – Augusto Heleno fez severas críticas à posição do governo Lula sobre terras indígenas, em franca defesa de latifundiários e empresas multinacionais na região, caso da VALE.
O general em questão, hoje na reserva, faz palestras pelo Brasil afora “alertando” sobre os riscos que os índios representam para o Brasil. Já a VALE… Paga as despesas.
E financia a mídia na linguagem do “progresso” concebida segundo os critérios das empresas, bancos e latifundiários que, em qualquer país como o Brasil, hoje em Honduras, são os principais acionistas do Estado. Como um todo. Poderes executivo, legislativo e judiciário. E por via das dúvidas forças armadas em sua maioria, pois de repente é preciso da borduna.
Nessa ótica é “notícia” a cozinheira de Michael Jackson. Explicando o que o cantor comia, ou que contava histórias para ele quando servia as refeições. Ou Regina Case fazendo com que as pessoas se vejam na senhora que apanha e coloca no bolso “brigadeiros” de festas infantis, numa perversa inversão de fatos que transforma a visão das elites sobre os mortais comuns, em fato hilário para os próprios mortais comuns. Para que se enxerguem ali em eventuais comportamentos constrangedores, digamos assim.
E achem graça. E consigam gargalhar de situações semelhantes que viveram. Ou que viram.
O desmonte do espírito crítico. O deboche. A criminalização de movimentos populares de índios, camponeses, trabalhadores como um todo. Os fatos ocultados, distorcidos, as mentiras vendidas à exaustão e que acabam virando “verdades”.
A memória curta. O extinto JORNAL DO BRASIL – um cadáver insepulto que teima em caminhar/circular – noticiou hoje no site na internet que o presidente Zelaya havia sido “preso e deposto por determinação da suprema corte”. Por ter contrariado a constituição do país.
Conceição Lemes, editora do site VI O MUNDO do jornalista Carlos Azenha, publica na edição de hoje uma entrevista com o escritor Urariano Mota, autor do livro “Soledad no Recife, a ser lançado em julho pela editora BOITEMPO.
Urariano conta a história da militante Soledad Barret Viedma presa e assassinada pela repressão. Estava grávida do cabo Anselmo – agente da ditadura militar que se fazia passar por líder de esquerda – e foi entregue ao assassino travestido de delegado Sérgio Fleury pelo próprio Anselmo.
A versão oficial, um “combate” com “terroristas” na chácara de São Bento, cenário montado para desova dos corpos de lideranças que se opunham à ditadura militar no Brasil, essa que a FOLHA DE SÃO PAULO chama de “ditabranda”. A FOLHA foi partícipe de uma das operações mais perversas do regime. A OBAN –OPERAÇÃO BANDEIRANTES – em que empresas financiavam órgãos de repressão para “libertar” o Brasil e “garantir a democracia”.
A entrevista de Urariano é um dos mais pungentes depoimentos sobre a barbárie desses “patriotas”. Tenham sido os brasileiros, os chilenos com Pinochet, ou agora, os generais remunerados a amostras grátis em Honduras.
Uma história, um fato, uma realidade, uma brutalidade, mas isso não importa à mídia chamada grande.
Os “incômodos” causados pela rede mundial de computadores, o que se convencionou chamar de “blog/esfera” já está sendo tratado pelos donos no projeto do senador Eduardo Azeredo. Corrupto de plantão para esse tipo de “trabalho sujo”. Censura.
O golpe em Honduras e sua verdadeira razão teria passado em brancas nuvens não fosse a rede. Ou a net como se costuma dizer.
Hospitais no País inteiro estão cheios de remédios contra a gripe suína. Médicos que se fazem respeitar pelo caráter e pela dignidade com que exercem a profissão já desmistificaram o novo vírus e já ensinaram a tratá-lo sem essa parafernália que gera concorrências públicas, compra de medicamentos e um estado de alerta e pânico, num vírus gerado no México, por uma indústria poluidora, expulsa dos EUA – lógico, colônias como o México existem para isso – no melhor estilo multinacional.
Os baluartes do progresso.
Importante é comportar-se de forma adequada em festas infantis e não colocar brigadeiros nos bolsos. Pode se dar mal com a segurança e virar historinha divertida no FANTÁSTICO.
PAPEL SOCIAL e REPÓRTER BRASIL denunciaram que madeireiras na Amazônia cometem constantes e deliberados crimes ambientais em parceria com grandes parceiros nos Estados Unidos. A MADEBALL – multas diversas – e a COMABIL (crimes ambientais, trabalho escravo, retirada de madeira em terras indígenas, invasão de terras públicas para desmatamento) e a RIO PARDO MADEIRAS entregam o produto do crime a VITÓRIA RÉGIA EXPORTAÇÕES, PAMPA EXPORTAÇÕES E INTERWOOD BRASIL, que transformam a madeira ilegal para empresas como a LUMBER LIQUIDATORS (140 lojas nos EUA, conforme a denúncia), a BRICO DÉPÔRT que, por sua vez, em países como os EUA, o REINO UNIDO, ITÁLIA, POLÔNIA, TURQUIA e CHINA, transformam tudo em casas do tipo “faça você mesmo”. E se estendem a ROBINSON LUMBER COMPANY que vende para mais de setentas países. Ou a MOXON TIMBER, que alcança os mercados norte-americanos, asiático, latino-americano e a Nova Zelândia.
A culpa é dos índios, ou é do presidente do Irã.
As recentes modificações feitas em medida provisória sobre terras na Amazônia atenderam, no Congresso, às reivindicações desse tipo de empresa. Têm na senadora Kátia Abreu, dos DEM, a representante mais legítima dessa espécie de destruição. São predadores.
Há uma investigação em curso sobre um estranho container que chegou ao Brasil vindo da Grã Bretanha com o registro de conter determinadas mercadorias. Estava trazendo lixo médico, hospitalar.
Não vira espetáculo na mídia. A mídia é paga para não deixar que as pessoas saibam disso.
O que está acontecendo em Honduras é pura barbárie. E por trás das notícias frias, aparentemente isentas divulgadas no Brasil pelas redes de tevê, grandes cadeias de rádio, jornais e revistas, está o sorriso do faturamento garantido. Nesse caso pelos grandes laboratórios.
Não está tão longe assim quanto se possa imaginar. Honduras é pertinho e os bandidos que lá atuam, atuam aqui também.