sábado, 31 de outubro de 2009

A tomada de poder tem prazo e hora, o povo no poder aqui, agora!

Besouro, O filme

Manifesto público


Contra o “revide” da Segurança Pública do Rio de Janeiro


As operações policiais que estão sendo realizadas pela polícia do Rio de Janeiro desde o dia 17 de outubro, após a queda de um helicóptero no morro São João, no Engenho Novo, próximo ao Morro dos Macacos, já têm um saldo de mais de 40 pessoas mortas e um número desconhecido de feridos. É o resultado evidente de uma política de segurança pública baseada no extermínio e na criminalização da pobreza, que desconsidera a vida humana e coloca os agentes policiais em situação de extrema vulnerabilidade.

A lamentável queda do helicóptero e a morte dos três policiais não pode servir como mais um pretexto para ações que, na prática, significam apenas mais violência para os moradores das comunidades atingidas e mais exposição à vida dos policiais. Ao se utilizar do terror causado pelo episódio para legitimar ações que violam a lei e os direitos humanos, o Estado se vale de um sentimento de vingança inaceitável. Em outras palavras, aproveitando-se da sensação de medo generalizada, o governo de Sérgio Cabral oculta mais facilmente as arbitrariedades e violações perpetradas nas favelas, como o fechamento do comércio, de postos de saúde e de escolas e creches – além, é claro, das pessoas feridas e das dezenas de mortos.

A sociedade carioca não pode mais aceitar uma política de segurança pautada pelo processo de criminalização da pobreza e de desrespeito aos direitos humanos. Definitivamente, não é possível jogar com as vidas como faz o Estado contra os trabalhadores – em especial os pobres, os negros e os moradores de favela – utilizando-se como desculpa a chamada “guerra contra as drogas”.

As organizações da sociedade civil, movimentos sociais, professores da rede pública e outros preocupados com a situação que há cerca de uma semana mobiliza o Rio de Janeiro se uniram para exigir o fim das incursões policiais baseadas na lógica do extermínio e a divulgação na íntegra da identidade dos mortos em conseqüência dessas ações. Até o fim da semana, o coletivo fará visitas às comunidades atingidas e se reunirá com moradores para ouvir relatos relacionados à violência dos últimos dias. Na quinta-feira, dia 5 de novembro, haverá um ato em frente à Secretaria de Segurança Pública, no Centro do Rio.

Cabo Frio, 30 de outubro de 2009

Justiça Global
CRP – Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro
SEPE - Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação
DDH - Defensores de Direitos Humanos
Grupo Tortura Nunca Mais
CDDH - Centro de defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis
Central de Movimentos Populares
Projeto Legal
Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência
Centro de Assessoria Jurídica Popular Mariana Criola
PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul
MNLM – Movimento Nacional de Luta pela Moradia
Mandato do Deputado Estadual Marcelo Freixo
Mandato do Deputado Federal Chico Alencar
Mandato do Vereador Eliomar Coelho
DPQ – Movimento Direito Pra Quem?
Fazendo Média
NPC – Núcleo Piratininga de Comunicação
Agência Pulsar Brasil
Revista Vírus Planetário
ENECOS - Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social
AMARC – Associação Mundial das Rádios Comunitárias
APN – Agência Petroleira de Notícias
O Cidadão – Jornal da Maré
ANF – Agência de Notícias das Favelas
Coletivo Lutarmada Hip-hop
Conlutas
Intersindical
Círculo Palmarino
Fórum 20 de Novembro

ASSINE ESSE MANIFESTO EM -- http://www.ipetitions.com/petition/manifestosegurancapublica


Convocação para "resposta ao crime" libera polícia do Rio para execuções e torturas

No último dia 21/10, pela manhã, o comandante do 1o Comando de Policiamento de Área (CPA), Marcus Jardim, visitou o 16o BPM (Olaria) e exortou a tropa reunida a partir para operações em favelas com as palavras: "É botar a mão no fuzil e cair pra dentro. A sociedade quer respostas". Jardim referia-se às operações desencadeadas desde o último dia 17/10, em "resposta" à derrubada de um helicóptero da Polícia Militar (com a morte de três policiais), quando participava de ação policial que se seguiu a um confronto entre bandos rivais de traficantes no Morro dos Macacos, em Vila Isabel.

Dois dias antes, o então encarregado pelas Relações Públicas da PM, major Oderlei Santos (que seria exonerado no dia 23/10 devido a declarações sobre os policiais que no mínimo facilitaram a fuga dos responsáveis pelo assassinato de Evandro João da Silva, coordenador do AfroReggae, no dia 18/10), comunicou à imprensa que a corporação havia "trocado o policiamento preventivo pelo repressivo, com o objetivo de caçar e prender bandidos envolvidos indireta ou diretamente no episódio (de 17/10)", e que não havia prazo para o término das ações repressivas.

Menos de duas horas depois do discurso de Jardim, uma grande quantidade de policiais do 16o BPM desencadeou uma operação na Vila Cruzeiro, na Penha, gerando um intenso tiroteio e pânico entre os moradores. A situação tem se repetido na região desde então. Como aconteceu na comunidade por vários meses em 2007, as aulas nas escolas foram prejudicadas, pais e crianças têm que ir até elas com o risco de serem pegos em fogo cruzado. Uma das vítimas do tiroteio (que já somam mais de 10 em menos de uma semana), ainda no dia 21/10, foi o jovem José Carlos Guimarães da Costa Jr., de 18 anos, baleado vestindo uniforme do Colégio Estadual Gomes Freire de Andrade, em frente à Escola Municipal Leonor Coelho Pereira, onde cursara o ensino fundamental, quando dobrava o beco que levaria à sua casa. José Carlos vinha da Biblioteca Popular da Penha Álvaro Moreyra, onde alugara um manual de redação. Foi levado ao hospital por suas ex-professoras.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Solidariedade a Luta Anti - Racista em Cuba


Prezados/as Companheiros/as,

Apesar da luta história que travamos no Brasil contra a ditadura e na qual continuamos para o resgate das histórias de irmãos e irmãs que “desapareceram” e cujas memórias só conseguimos registrar parcialmente, com relatos de familiares e de amigos/as;

Apesar de nossa atenção e envolvimento no repúdio histórico às ditaduras de diferentes matizes que se instalaram ao redor do Brasil e no mundo;

Apesar de nossa luta contra todo arbítrio que sempre usurpa os direitos de cidadãos e cidadãs deixando marcas profundas e indeléveis que tentam mudar ou mesmo mudam o rumo de nossa luta na direção de vida digna para absolutamente todos e todas;

Algumas vezes somos surpreendidos/as por notícias que nos custam muito acreditar. Mas, sem ventura, nossa dúvida logo se dissipa quando buscamos dados que, atualmente, são fácil e rapidamente encontrados nos sites de “busca”.

Nos referimos às notícias, veiculadas em diferentes idiomas, ao redor do planeta, a respeito da prisão e da greve de fome do ativista anti-racista afro-cubano, Dr. Darsi Ferrer. Trata-se de uma das figuras mais importantes na luta pelos direitos civis do povo cubano e valente lutador contra a exclusão social. O Dr. Ferrer está detido desde 21 de julho de 2009 e encarcerado sob alegações absurdas – e sabemos que mentirosas – de "roubo de material" do estado. Desde 21 de julho na prisão, Dr. Ferrer está em greve de fome desde 13 de outubro! Pelo que sabemos da dignidade e capacidade de luta desse médico, temos receio de que ele siga com esta greve até o fim!

O bloqueio internacional patrocinado pelos EUA, a crise internacional e outros fatores infelizmente produziram bolsões de pobreza também na sociedade cubana, mas afetando de modo mais dramático a população negra e marginalizada. O trabalho do Doutor Ferrer tem sido o da promoção da solidariedade com os setores pobres e, nessa direção, milita no movimento anti-racismo, incomodando o governo que se recusa a admitir a existência da desigualdade racial e da exclusão social. Por sua atuação, as autoridades cubanas o consideram como um elemento altamente subversivo, porém empregando artifícios acusatórios de “crime comum” para encobrir a repressão a um ativista do movimento negro.

Independente de considerações de ordem ideológica sobre o regime político da Ilha, os brasileiros compromissados com a justiça e a igualdade sempre hipotecaram seu apoio à Revolução Cubana e também defenderam aquele povo contra as agressões imperialistas. Mas a prisão do Dr. Ferrer caracteriza-se como um ataque à perspectiva legítima de luta social: o anti-racismo, como uma especificidade de luta que deve ser reconhecida, respeitada e se desenvolver livremente na perspectiva de uma sociedade justa, democrática e plural.

Causa-nos maior surpresa, ainda, o que relata da Srª. Yusnaimy Soca, esposa de Darsi Ferrer, de que o Dr. Darsi está na prisão de Valle Grande, em La Lisa, na periferia de Havana (Cuba), destinada não a presos políticos, mas a presos comuns. Esta prisão, dividida em quarteirões, chamados “destacamentos”, mantém homens amontoados em espaços comuns, sendo que o destacamento de nº 12, em que está Dr. Darsi Ferrer, é aquele destinado a prisioneiros doentes, com tuberculose e infectados por HIV/Sida. Os riscos de infecção do Dr. Darsi Ferrer são evidentes, num amontoado humano com mais de 120 pessoas.

Por essa razão, nós, os intelectuais negros brasileiros, que lutamos contra toda forma de opressão e o racismo; que estamos compromissados com transformação social e o fim das desigualdades raciais; que defendemos uma sociedade radicalmente democrática, plural e livre, consideramos o Dr. Darsi Ferrer um preso político do regime de Cuba, injustamente levado ao cárcere e sem direito aos procedimentos jurídicos legalmente previsto na Constituição Cubana.

Por essa razão, elevamos nossa voz unânime, em paralelo às manifestações em nível mundial, pedindo a imediata libertação do Dr. Darsi Ferrer e a garantia de um processo justo para que ele se defenda das acusações.
Nesse sentido, solicitamos sua adesão ao documento pela Liberdade a Darsi Ferrer e em

http://www.petitiononline.com/ferrermn/petition.html


(Fonte: Mem. Lélia Gonzalez - Ana Felippe)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Tegucigalpa, 19 de outubro.


O presidente deposto Manuel Zelaya decidiu congelar o diálogo depois da última proposta da comissão do governo de Roberto Michelleti. É que os golpistas são experts em inventar maneiras de adiar o acordo para a restituição de Zelaya.


Tegucigalpa, 19 de outubro.

O presidente deposto Manuel Zelaya decidiu congelar o diálogo depois da última propsota da comissão do governo de Roberto Michelleti. É que os golpistas são experts em inventar maneiras de adiar o acordo para a restituição de Zelaya. Depois de um fim de semana de reflexão, os negociadores do governo de fato apareceram ontem à tarde com outra proposta sobre a mesa para alcançar (ou não) a restituição de Zelaya. Desta vez, propunham que o Congresso e a Corte Suprema de Justiça emitissem um informe que condicionasse a decisão final dos seis integrantes do Diálogo Guaymaras. E enquanto isso, se aproxima a data das eleições. A própria negociador da Comissão do governo de fato, Vilma Morales, não quis especificar os prazos para os informes estarem prontos.

A Comissão de Zelaya recusou esta proposta por ser um "insulto", como afirmou um de seus representantes, Victor Meza, em uma coletiva de imprensa. Meza explicou que o diálogo está "obstruído e estancado", e que não vão continuar com as negociações até que recebam uma oferta interessante, porque a de hoje era um "abuso contra a inteligência, pois não reconhece que houve um golpe de estado". Cabe lembrar que foi o Congresso que deu o golpe de estado, e que os 15 magistrados da Corte Suprema aprovaram por unanimidade a detenção de Zelaya.

Através de seus negociadores, o presidente deposto também fez um chamado à OEA para que volte a se pronunciar contra o governo de fato na reunião que haverá esta semana. Definitivamente, a restituição está em ponto morto.

A única diferença relativa às últimas semanas, é que a população hondurenha já pode acompanhar a cobertura por rádio e TV a partir de outra perspectiva. Quando se cumpria 3 semanas de seu fechamento, o canal 36 e a Radio Globo voltaram ao ar. No sábado, o decreto de suspensão de garantias constitucionais (que permitiu o fechamento das únicas emissoras críticas da capital) foi cancelado. Para a Frente de Resistência, se trata de uma "notícia muito boa", pois se recupera a capacidade convocatória e de concentração social, frente ao discurso único ao qual o resto da mídia local se alinha.

Entretanto, a volta "legal" das garantias constitucionais não significa o fim da repressão. Nessa manhã, centenas de pessoas compareceram ao enterro do líder sindical Jairo Sánchez, falecido na manhã de sábado depois de 24 dias entre a vida e a morte por causa de uma bala na cabeça disparada por um agente da DGNIC em uma mobilização da Resistência em seu bairro.

E enquanto Jairo se despedia, a resistência perdia outro companheiro. O professor Eliseo Hernández Juárez, do município de Santa Barbara, foi assassinado nesta manhã quando dispararam dois tiros de um carro em movimento. Hernández Juaréz era professor e membro ativo da Resistência em sua região. Além disso, estava na lista municipal do Partido Liberal. Com sua morte, já se somam 20 pessoas assassinadas pelas mãos da ditadura desde o golpe do dia 28 de junho.

URL:: http://chiapas.indymedia.org/article_170524

Assembléia Constituinte não é incluída no acordo sobre a restituição de Zelaya


Golpe em Honduras

No último dia 15 de outubro, se chegou ao fim o prazo dado pelo presidente legítimo de Honduras Manuel Zelaya para a mesa de diálogo entre representantes de Micheletti e de Zelaya. Entretanto ainda não há um acordo final de todos os pontos propostos pelo conhecido "Acordo de San José" baseado nas negociações na Costa Rica no início do golpe. O ponto que ainda não chegou num acordo é o sexto que fala justamente sobre o retorno de Zelaya ao poder. Micheletti ainda não aceitou a proposta e mesmo com prazo vencido o diálogo continua. O que está na mesa é a proposta de Zelaya que o Parlamento decida sobre sua restituição.

Dias antes, Juan Barahona, representante na mesa de diálogo da Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado, se retirou da mesa pois não aceitaria um acordo que não contemplasse a eleição de uma Assembléia Constituinte. Para a Frente, este ponto também é inegociável. No dia 16 de Outubro a Frente lançou um comunicado que diz: "Nenhum diálogo pode ser feito se uma parte esta amordaçada com uma pistola na cabeça. Neste caso, o regime de facto procura o diálogo quando: a) Não publicaram no Diário Oficial a revogação do estado de sítio, de modo que este permanece em vigor; b) continuam sendo mortos companheiros e companheiras por contratados a serviço do golpe; c) estão processando dezenas de companheiros campesinos despejados do INA e muitos deles estão presos; d) dezoito companheiros/as indígenas perseguidos pela ditadura tiveram que buscar asilo por suas vidas na Embaixada da Guatemala; e) permanecem fechadas as estações de televisão e rádio opostas ao golpismo e jornalistas independentes seguem sendo perseguidos e, f) continua o cerco militar e o esolamento sobre o presidente Zelaya e as pessoas que o acompanham dentro da embaixada do Brasil, de tal forma que permitaram o contato com seus representantes e com a Frente por apenas três horas antes de iniciar o diálogo. Enquanto essas condições continuarem, a Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado não poderá participar com seus representantes neste mal chamado 'diálogo'."

Micheletti vem usando a mesma tática de antes, tentar ganhar o máximo de tempo possível antes das eleições. Mesmo com a comunidade internacional e a Frente declarando que não irão aceitar eleições sem o retorno de Zelaya ao poder.. Enquanto isso Micheletti deu mais um golpe no setor mais ativo da resistência. O governo golpista decretou o fim do ano letivo para o dia 30 de outubro, como forma de desmobilizar os professores e professoras. Ainda assim, em assembléia, o magistério decidiu contrariar o decreto e manter o calendário escolar original, que se encerra no dia 30 de novembro e manter as mobilizações pela volta de Zelaya e por uma Assembléia Constituinte com participação popular.

Até que se chegue a um acordo definitivo, a resistência continua se manifestando diariamente em frente ao Hotel onde está a mesa de negociações, além de atividades políticas e culturais, nos bairros da capital. Existem vários presos/as políticas em Honduras que precisam de apoio, principalmente pressão internacional. Na semana passada Agustina Flores, professora e réporter da Rádio Liberada em Honduras, foi solta depois de 21 dias na cadeia. Ela foi presa enquanto dava um relato para a rádio em frente a embaixada brasileira (um dia após o retorno de Zelaya) e foi brutamente agredida durante a sua prisão. Ela saiu através de fiança (paga pelos/as professores/as) e está proibida de ir as ruas manifestar-se contra o golpe. Em entrevista, ao responder uma pergunta sobre como foram esses 21 dias na prisão ela conta que "recebeu uma solidariedade muito grande "e que ficou "muito feliz em saber que existem pessoas de todo o mundo que apoiam a Resistência em Honduras".

Bombas de gás para iniciar o diálogo


Golpe em Honduras



Centenas de policiais e militares dispersaram no dia 7 de outubro com cassetetes e com bombas de gás lacrimogêneo o protesto pacífico da Resistência que tem se concentrado 102 dias consecutivos para exigir a restituição de Manuel Zelaya e a convocatória de uma Assembléia Constituinte. A repressão começou quando a Frente de Resistência contra o Golpe de Estado tinha apenas caminhado 30 metros depois de duas horas de concentração em frente da Embaixada dos EUA. A resistência se dirigia para a embaixada da Guatemala onde se abrigam desde o dia anterior 12 membros do Conselho de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH) depois de serem ameaçados de morte pelo governo golpista.

O Exército e a polícia apontaram as bombas para o cortpo dos manifestantes causando lesões a vários companheiros da Frente, e inclusive a um jornalista uruguaio. A violência policial começou minutos depois da inauguração da Mesa de Diálogo impulsionada pela OEA. O encarregado da abertura, o Chanceler do governo golpista, Carlos López Contreras, declarou que o país já tinha voltado ao normal e que não havia mais repressão. A reunião da OEA tem o propósito de impulsionar um processo de diálogo entre os diferentes atores da sociedade hondurenha e por isso participam mesa: os embaixadores da OEA, agentes do governo golpista, dois acessores do presidente Manuel Zelaya e o coordenador da Frente de Resistência Contra o Golpe de Estado, Juan Barahona. A resistência decidiu participar da mesa para fazer escutar sua voz embora considere que não é possível acontecer nenhum processo de diálogo enquanto continue a repressão, a cidade continue militarizada e os presos políticos não sejam libertados.

Barahona e a OEA exigiram a assinatura dos acordos de San José que têm como primeiro ponto a restituição de Zelaya. Além disso, para a OEA se trata de um passo fundamental para que a comunidade internacional reconheça as próximas eleições. Para a Frente, se considera imprescindível que Zelaya volte ao poder, pois do contrário se estabeleceriam os golpes de estado como maneira de parar os processos sociais na América Latina, e acrescentou que embora se assinem os acordos, a resistência "nunca abrirá mão da Assembléia Constituinte". Do outro lado, o presidente golpista Roberto Micheletti assegurou que não aceitará a restituição de Zelaya, e assegurou que as eleições marcadas no dia 29 de novembro aconteceram a não ser que "invadam" Honduras. Enquanto isso, nas colônias populares centenas de pessoas saíram às ruas ao anoitecer para expressar seu apoio ao presidente Zelaya.

Mais repressão e novas leis para apagar vozes críticas

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ação Direta na Supervia e Precariedade do Transporte Coletivo no Rio de Janeiro


Por Federação Anarquista do Rio de Janeiro


O longo histórico de desrespeito e abuso praticado pela empresa Supervia ganhou uma resposta concreta e direta da população no dia 07 do mês de outubro. Indignados com o freqüente mau funcionamento e atraso dos trens, os trabalhadores e trabalhadoras que dependem do ramal Japeri-Central apedrejaram a bilheteria da estação de Nilópolis e colocaram fogo em dois vagões de trem da empresa.


Ação Direta na Supervia e a Precariedade do Transporte Coletivo no Rio de Janeiro


O longo histórico de desrespeito e abuso praticado pela empresa Supervia ganhou uma resposta concreta e direta da população no dia 07 do mês de outubro. Indignados com o freqüente mau funcionamento e atraso dos trens, os trabalhadores e trabalhadoras que dependem do ramal Japeri-Central apedrejaram a bilheteria da estação de Nilópolis e colocaram fogo em dois vagões de trem da empresa. Também foram registrados comportamentos semelhantes na estação Deodoro e Engenho de Dentro.

Desrespeitados pela Supervia cotidianamente, no último dia 07 as pessoas foram obrigadas a caminhar pelos trilhos do trem, colocando suas vidas em risco, e para piorar a situação, a empresa não ressarciu o dinheiro das passagens, provocando a indignação da grande maioria dos usuários que não possuíam recursos para tomar outra condução. A Tropa de Choque da Supervia, ou melhor, da Polícia Militar, foi chamada para conter a indignação popular.

Um dia depois deste incidente, enormes paralisações de trens novamente prejudicaram milhares de trabalhadores e expuseram a precariedade do serviço de transporte do Rio de Janeiro. Na Central do Brasil, maior estação de trem do Rio de Janeiro, após intenso protesto popular, a polícia usou gás lacrimogênio e feriu mais de 20 pessoas, inclusive idosos. Após as manifestações radicalizadas da população, o governador Sérgio Cabral chamou os trabalhadores de ?vândalos? [1] e ?vagabundos?; o governador talvez ignora que estes mesmos ?vagabundos? tomavam o trem justamente para retornarem ou cumprirem suas extenuantes e longas jornadas de trabalho, muito distintas das mordomias que gozam os parlamentares.

A atitude correta e justa dos trabalhadores na estação de Nilópolis colocou em evidência duas questões: a precariedade dos transportes coletivos e a crítica de determinados setores a este tipo de reação popular, classificando-a de vandalismo ou baderna.


Precariedade dos Transportes no Rio de Janeiro


É mais do que evidente a precariedade da rede de transportes coletivos do Rio de Janeiro. O metrô, mesmo com as recentes obras e imensas promessas (que se renovam a cada ano), não atende suficientemente bem a população: o valor do bilhete é abusivo (o mais caro do país), os vagões estão sempre superlotados e a rede possui poucas estações (são 33 estações, à título de comparação, em Nova Iorque funcionam 468 estações, e em Santiago del Chile são mais de 90). As condições de trabalho dos trabalhadores e trabalhadoras do metrô são péssimas, e a implantação dos cartões pré-pagos visa diminuir a quantidade de bilheteiros/as nas estações, aumentando os lucros da administradora do metrô (Opportrans de Daniel Dantas, envolvido em diversos escândalos de corrupção) e gerando mais desemprego.

Os ônibus atendem muito mal a população; principalmente na zona oeste e as linhas que em seu trajeto cruzam a Avenida Brasil. E com a retirada de circulação de muitas linhas de vans, fruto do acordo entre prefeitura e os grandes capitalistas do ramo dos transportes, o custo de deslocamento do trabalhador aumentou consideravelmente.

Já os trens por sua vez, são o exemplo de total desrespeito. Como é um transporte utilizado majoritariamente por setores populares a precariedade é explícita. Para se ter idéia, a malha ferroviária brasileira encolheu [2] de 38 mil quilômetros (1957) para 30 mil em 2005. A Supervia (empresa privada), com apoio do governo do estado, sucateou totalmente os trens e proibiu os camelôs de trabalharem nas linhas, mesmo com o aval da população que consome suas mercadorias; estes quando o fazem são agredidos pelos capatazes da empresa (que recentemente foram flagrados chicoteando a população ? fatos como este, a Supervia tenta esconder com a proibição de máquinas fotográficas nos terminais). Os trens atrasam frequentemente, sempre funcionam lotados, e as panes na linha são regulares. Em 2007 oito pessoas morreram e mais de cem ficaram feridas em um único acidente.

Tal realidade dos transportes coletivos revela uma política estatal que priorizou em grande medida a iniciativa privada e o estímulo ao transporte individual, investindo em rodovias, viadutos e estimulando o uso do automóvel; transporte individualista que não resolve, mas agrava os problemas da mobilidade urbana. Tal política equivocada, além de gerar poluição e engarrafamentos é simplesmente inviável para a mobilidade do trabalhador e causa grandes transtornos para a própria geografia da cidade, que permanece refém da política motorizada que recorta os espaços, sempre insaciável por mais asfalto. Recordemos que as empresas de ônibus e as administradoras do metrô (Opportrans) e dos trens (Supervia) são empresas privadas que recebem concessões do estado para explorarem o transporte coletivo, vital para o funcionamento das cidades. Além disso, os investimentos na expansão desses serviços vêm dos impostos que nós trabalhadores pagamos. Pagamos mas não usufruímos das melhoras, e muito menos decidimos como elas serão implementadas. Há uma relação aberta entre empresas privadas, prefeitura, e governo estadual. As doações das eleições municipais e estaduais que o digam [3], pois estas empresas são tradicionais financiadoras de campanhas eleitorais (como atesta a campanha do ex-prefeito Cesar Maia) e costumam cobrar esse investimentos quando precisam do aval dos governos para aumentarem as tarifas.


A legitimidade e o direito da Ação Direta Popular


Quando uma situação extrema de desrespeito dos patrões e governos explicita a estrutura de classes e conduz os trabalhadores a uma atitude radical que demonstre em atos práticos sua real indignação, é normal ouvirmos os veículos de comunicação, a classe-média medrosa, as elite$ ongueira$ e até setores da chamada ?esquerda responsável? classificarem estes atos como vandalismo ou irresponsabilidade.

É fácil para estes setores, que em sua maioria não enfrentam conduções lotadas diariamente, posicionarem-se contra a destruição de ?patrimônio público? (e que diga-se de passagem muitos destes setores não utilizam, mas dizem hipocritamente proteger). São os mesmos que defendem medidas inócuas de mobilização, como vestir-se de branco em caminhadas na orla da cidade, ou abaixo-assinados virtuais.

Obviamente não defendemos a destruição pela simples destruição de quaisquer serviços que atendam (mesmo que mal) o trabalhador, mas no caso específico de uma situação extrema que põe em relevância um histórico de abusos, a única forma de chamar a atenção para um problema que se arrasta durante anos é a ação direta popular.

Esta solução pode parecer radical para aqueles que ainda possuem conforto o suficiente para aguardar melhoras nos próximos duzentos anos, ou ainda tem tempo para revigorarem suas ilusões nas urnas, mas a ação direta contra a Supervia é devidamente justa para aqueles que se indignam e não suportam mais o tratamento desumano que lhes é oferecido cotidianamente.

No caso em particular, em nenhum momento as reportagens que noticiaram o fato questionaram a violência cotidiana sofrida pelos trabalhadores nos trens lotados, cujas absurdas condições são terrivelmente cruéis em longo prazo. Recordemos o aumento crônico da utilização de antidepressivos e analgésicos, do abuso do álcool e das inúmeras doenças que são causadas em grande parte por uma rotina estressante que a situação do transporte muito contribui para fortalecer.

Esta violência cotidiana, terrivelmente sórdida, pois poderia ser evitada por políticas de investimento e priorização do transporte coletivo, é ocultada pela grande mídia e negada como uma prática de violência - a violência que é visível para a mídia é a violência contra objetos ou mercadorias.

Lembremos que a ação direta dos trabalhadores carrega-se de conteúdo político no contexto em que foi gerada, pois não foi realizada a esmo ou individualmente, mas coletivamente, depois de mais um incidente de abuso da empresa. Lamentamos apenas a fugacidade e a curta duração dos protestos populares, espontâneos em sua origem, porém justos e racionais em seu conteúdo. Somos obrigados a ressaltar que o caminho para enfrentar o desrespeito das empresas é prosseguir nesse tipo de manifestação com base numa organização popular crescente ou numa soma de organizações populares que tenham o transporte como um de seus eixos primordiais e que não se deixe dominar por políticos profissionais que tentam capitalizar o movimento em torno de suas candidaturas ou partidos.

Lembremos que apenas após os frequentes ?quebra-quebras? nas estações das Barcas Rio-Niterói que o caso ganhou minimamente atenção na imprensa, e até motivou a criação da CPI das barcas no terreno pantanoso da política parlamentar. Somente depois das ocupações de terra do MST que a reforma agrária virou tema de discussão nacional e apenas depois das ocupações urbanas protagonizadas pelo movimento sem-teto que ouviu-se falar pela primeira vez em reforma urbana? na imprensa deste país.

Isso reforça a tese de que determinados eixos de reivindicação popular só tornam-se parte das agendas ?públicas? do estado burguês quando a organização popular pressiona-as com práticas concretas de enfrentamento e ação direta. As mudanças na estrutura do transporte público não entrarão na pauta e nem serão implementadas por nenhum governo sem que haja em contrapartida uma organização popular cada vez maior e consciente de que a gestão do transporte coletivo deve estar na mão dos trabalhadores e usuários (autogestão) e que isto passa necessariamente por uma mudança radical do papel dos transportes coletivos na estrutura social contemporânea.


Notas:


[1] http://rjtv.globo.com/JornalismoRJTV0,,MUL1334414-9097,00CABRAL+VAGABUNDOS+TEM+QUE+SER+PRESOS+IDENTIFICADOS+E+PUNIDS.html
Acessado em 08/10/2009



[2] http://www.apocalipsemotorizado.net/apocalipse-em-numeros/
Acessado em 08/10/2009


[3] Conferir doações de campanha em: http://www.tse.org.br.
Estranhamente não foi possível verificar os doadores devido a erros recorrentes no bando de dados da página do TSE. Verificamos outras informações e descobrimos que os nomes de determinados doadores de campanha foram omitidos pelo candidato vencedor, o prefeito Eduardo Paes, que distribuiu a informação apenas para a imprensa.

Tráfico, favelas e violência


A política de segurança adotada por sucessivos governos da cidade e do Estado comete equívocos e dialoga com público, através das mídias, de modo ainda mais equivocado. Ao não aceitar ajuda federal, o atual governador situou o problema na esfera local, dizendo que, por ora, tinha como resolvê-lo. As questões de fundo que são as verdadeiras causas de tudo isto foram, mais uma vez, para debaixo do tapete da política e da história. O artigo é de Luis Carlos Lopes.

Luis Carlos Lopes

Os últimos incidentes referentes à luta entre policiais-militares e o tráfico, ocorridos na cidade do Rio de Janeiro ganharam espaço nas grandes mídias do Brasil e de inúmeros países do chamado Primeiro Mundo. Como se sabe, o Brasil não está em guerra interna ou externa. Por aqui, não há motivo aparente, no atual contexto, para espetáculos de ações diretas, registrados e reproduzidos fartamente pelas mídias.

É estranho que um helicóptero tripulado por soldados da PM tenha sido abatido em pleno vôo, com duas mortes e dois feridos. A tragédia não foi maior porque foi possível o pouso forçado da aeronave em chamas, em campo aberto. As imagens de sua completa destruição física parecem cenas da Guerra do Iraque, da Colômbia ou do Afeganistão. Mas, não são. Tudo ocorreu em um outrora pacato bairro da Zona Norte – Vila Isabel. Este é ocupado por parcelas das classes médias da cidade, que são vizinhos de muitas comunidades faveladas e foi um dos berços do samba moderno brasileiro.

Jamais isto tinha ocorrido antes. Parece, que existiram tentativas, mas esta foi a primeira vez que se conseguiu concretizar a façanha. Acendeu-se uma lâmpada de alerta. O Rio de Janeiro é uma cidade conflagrada. Talvez, se isto tivesse acontecido antes de sua escolha para sediar as Olimpíadas de 2016, o resultado tivesse sido outro ou a vitória bem mais difícil.

A política de segurança adotada por sucessivos governos da cidade e do Estado comete equívocos e dialoga com público, através das mídias, de modo ainda mais equivocado. Ao não aceitar ajuda federal, o atual governador situou o problema na esfera local, dizendo que, por ora, tinha como resolvê-lo. As questões de fundo que são as verdadeiras causas de tudo isto foram, mais uma vez, para debaixo do tapete da política e da história.

Os problemas sócio-urbanos do Rio de Janeiro são muito graves e se arrastam desde o fim da escravidão, ou mesmo de antes. Tem-se uma cidade dividida entre uma parcela mais rica que mora no ‘asfalto’ e cerca de 600 ou mais comunidades faveladas construídas, em sua maioria, em morros, muitos deles de difícil acesso. Estas comunidades são, de há muito, usadas pelo crime como local de recrutamento e homiziamento. Obviamente, que nada disto é exclusivo à esta cidade, mas nela, esta situação ganha características especiais.

Mais do que um, em cada três cariocas, mora em uma das favelas da cidade. Diferentemente de outras, a geografia do Rio levou e continua levando os excluídos e os imigrantes para os morros e algumas regiões planas de baixo interesse imobiliário. Estas são, por vezes, distantes e periféricas. A origem destas comunidades remonta à época da escravidão. Nesta, negros fugidos – quilombolas – ou abandonados pelos seus senhores usavam os morros para morar e muitas vezes plantar e criar animais.

Quando do fim da Guerra de Canudos (1897), o Morro da Favela, nas proximidades da Central do Brasil, abrigou muitos retirantes do conflito, que vieram para a velha capital. Daí, a origem e a popularização do nome. No local, ainda existe uma impressionante favela, que parece debruçada sobre uma pedreira – o Morro da Providência – que é um dos locais de conflito na cidade. Sua antiguidade e pobreza testemunham anos e anos de descaso público.

Estas comunidades cresceram todas as vezes que houve ciclos de prosperidade no país. Parece paradoxal, mas o que ocorria e ainda ocorre é que imigrantes, vindos para trabalhar na construção civil e outras atividades urbanas, não tinham como morar nos prédios que levantavam e nos bairros onde trabalhavam. A opção era a de construir barracos, se possível, no morro mais próximo de onde labutavam.

Hoje, quase não existem mais barracos. A madeira ficou cara. O tijolo e o cimento são abundantes e relativamente mais baratos do que no passado. As habitações são, quase sempre, construídas em tijolos. Como nem sempre há dinheiro para o reboco externo, muitas favelas, vistas de longe, parecem jogos infantis avermelhados e amontoados. A alvenaria externa é mais facilmente encontrável nas favelas mais antigas e nas mais “ricas”, onde se concentram trabalhadores empregados com carteira assinada ou biscateiros bem-sucedidos. É lógico, que numa mesma favela é possível encontrar as duas situações, bem como se podem ver ainda barracos, agora, construídos com resto do lixo urbano.

O mundo favelado é altamente complexo e não cabe neste pequeno artigo. Nele existe uma estrutura social com imensas diferenças internas. A maioria dos seus habitantes são trabalhadores ou desempregados. Um pequeno percentual dedica-se às atividades criminosas. O preconceito do “asfalto” é antigo, até porque grande parte dos seus moradores e negra, quase negra, de origem nordestina, mineira e vindos de outros bolsões da miséria brasileira. Para as classes médias mais reacionárias, favela é lugar de marginal, de gente que não presta. Esta mesma gente não tem qualquer cerimônia em explorar o trabalho dos que lá vivem.

Entre os governos de Carlos Lacerda e de Chagas Freitas prevaleceu a idéia de que a solução para a questão favelada era a remoção para conjuntos habitacionais construídos pelo governo na periferia do Rio de Janeiro. Pouco a pouco, a proposta de remover perdeu terreno pela a da urbanizar. Aliás, o atual prefeito levantou a mesma questão da remoção, sem nada ainda ter feito de concreto nesta direção. Também, junto com o atual governador do Estado foi feita a polêmica proposta de algumas favelas serem ‘separadas’ por muros do resto da cidade. Os atuais PACs têm projetos engajados em algumas obras de urbanização básica dos mesmos locais.

Os casos de remoção conhecidos nada mudaram para os favelados, liberando terrenos valiosos para a especulação. Os mesmo problemas que existiam na origem foram remontados nos conjuntos habitacionais, rapidamente favelizados. Os projetos municipais urbanizadores, tal como o chamado Favela-Bairro, mudaram muito pouco a realidade destas comunidades. A questão central é que em nenhum destes projetos desenvolvidos ou propostos até hoje houve a preocupação com a distribuição de renda entre os habitantes. O problema do desemprego continuou a ser gravíssimo, afetando, com muita força, os jovens.

Existem milhares e milhares de jovens favelados sem emprego, escolas decentes, comida em casa, saneamento básico, tratamento médico necessário. Os que conseguem trabalho ganham mal e não raro não têm seus direitos respeitados. Neste quadro, fica fácil ao tráfico e a outras atividades criminosas fazer o recrutamento constante. A cada preso ou morto há uma fila de substitutos, de gente capaz e disposta a arriscar a vida para alguns momentos fugidios de glória e de ascensão. A política de matar, torturar e prender em massa nada muda. Ao contrário, cria heróis e mártires, estimulando novas adesões. Por isto, é difícil crer que se deseje, de fato, acabar com o problema.

De todas as favelas cariocas, em torno de dezoito, teriam bolsões mais nítidos do tráfico. O Rio não é Mendellin, na Colômbia. Por aqui, não existem cartéis e nem máfias muito organizadas. A droga vendida no Rio, como se sabe, ou vem do Nordeste (maconha), do Paraguai, da Bolívia, da Colômbia e do Peru. Logo, ela atravessa, certamente por terra, alguns milhares de quilômetros, até estar disponível em um ponto de revenda local. Como passa desapercebida, é um ‘mistério’ a resolver. Parte destes carregamentos sai do Rio para a Europa e EUA. Logo, a cidade é também um entreposto.

Em parte das favelas, onde não existe tráfico ou ele foi banido, funcionam as famosas milícias – nova versão do crime social local, com a clara participação de pessoas de algum modo ligadas às forças repressivas. Quase em todas comunidades existem pequenos grupos de pessoas que se dedicam a vários tipos de atividades criminosas. É difícil que o número de criminosos em uma favela seja superior a um por cento de seus moradores. O número de desempregados ou de subempregados pode chegar a mais da metade do conjunto da comunidade.

Os grupos de traficantes mais comuns são pequenos bandos de, em torno, vinte pessoas, desarticulados e por vezes inimigos entre si que adotam siglas de organizações que só existem atualmente no universo nebuloso das mídias, sem muito respaldo no real. No Rio, felizmente, não há nada como o PCC paulista. É verdade, que uns atiram nos outros e/ou tentam tomar o território dos rivais. O capo, normalmente é alguém mais velho, com várias passagens policiais e com ligações com o crime mais ou menos organizado existente dentro dos presídios. Os soldados do tráfico são jovens, por vezes bem jovens, que têm uma esperança de vida média de dois anos nesta atividade para lá de perigosa.

As armas de guerra que conseguem por efeito da corrupção e do dinheiro acumulado pela venda de drogas, são as mais usadas nas lutas entre as facções. Muitas delas foram produzidas nos EUA, na Inglaterra, em Israel e em países do Leste europeu. Outras, sobretudo munições, se originam também em aquisições feitas no contrabando e as que são oficialmente compradas pelas forças armadas e policiais brasileiras. Sabe-se, que com dinheiro e contatos, não é difícil comprar um fuzil-metralhadora moderno, bem como a munição necessária. O problema está em se imaginar como circulam estes artefatos no mundo contemporâneo. Certamente, há muitos interesses em jogo.

O episódio do helicóptero chama a atenção, porque jamais algo similar havia acontecido. Normalmente, os traficantes atiram na polícia somente quando estão encurralados, que é o que deve ter acontecido. Eles preferem guardar suas balas para seus iguais e para garantir seus reinados nas comunidades onde atuam. Eles evitam um confronto maior com as polícias, porque sabem que serão, no passo seguinte, perseguidos até o destino final.

A atual política de ocupações policiais permanentes de algumas favelas, três até o momento, funciona bem nos locais tomados pela polícia. Mas, tem como efeito colateral estimular os bandos a buscar a quem invadir outras criando guerras, como a que se viu no Morro dos Macacos em Vila Isabel.

Trata-se de uma situação complexa que precisa ser analisada a fundo e que sejam tomadas medidas que tenham efetivo poder de desmontar as bombas relógio sociais da atual fase da modernidade. Uma política de emprego, de divisão de renda, de escolarização real e não formal para todos, de respeito aos direitos humanos e, sobretudo, o exemplo de honestidade pública do poder poderiam fazer a diferença. A exclusão semeia a violência e o caos, levando à uma realidade sem saída.

domingo, 18 de outubro de 2009

ESTATUTO – A VITÓRIA DA ELITE FUNDIÁRIA


Yedo Ferreira



Os que desde a muito são contra o Estatuto de Promoção da Igualdade Racial e agora com sua aprovação mais ainda, não podem deixar passar este momento que de maneira negativa entra para a história do povo negro no Brasil.

Quando a aprovação deste malfadado Estatuto é recebida com cantoria e demonstração de alegria por negros – e negras também - de mãos dadas com representantes da elite fundiária este fato lastimável não pode ficar sem registro, afinal a história sempre severa há de julgar todos nós; os contra – que muito embora sejam contra são omissos – e os a favor, sobretudo aqueles que antes defendiam o Estatuto, mas hoje medindo a dimensão desta aprovação às custa das aspirações dos quilombolas, se escondem no silêncio dos covardes.

- Como se deu a aprovação deste Estatuto?

O deputado Federal do DEM/RJ, Índio da Costa, responde:

Mudamos o Estatuto da Igualdade Racial. Prossegue; “... chegamos ao limite de atrasar a votação... Por isso, nesta terça-feira, me reuni com o Ministro Edson Santos, ao lado do relator Antônio Roberto PV/MG e do deputado Onyx Lorenzoni, DEM/RS.”

- O que resultou desta reunião?

A resposta ainda é do deputado federal Índio da Costa:

“Conseguimos retirar do Estatuto as cotas de negros para empresas, escolas, FACULDADES, mestrados e doutorados”;

Limitar o poder dos Quilombolas de escolher terras sem que haja prova de que os pertencem histórica e atualmente e ajustar o texto para que a justiça não tenha dúvida quanto ao interesse do legislador de que as produções de TV e cinema não tenham que ter 50% de negros e de brancos.”

O Estatuto aprovado, portanto é um Estatuto concedido pelos brancos latifundiários racistas que o seu preposto Índio da Costa com arrogância – sempre familiar aos seus iguais da UDR – ainda afirma que “nós democratas não votaremos favorável ao Estatuto” e mais adiante conclui com desmedida prepotência que “retiramos do texto os absurdos.”

Desta afirmação de Índio da Costa, pode-se prevê que o DEM, mesmo impondo o seu ponto de vista – aceito todos eles pelos (as) negros (as) que festejaram esta aberração – ainda assim, se preciso for não votam aprovação do Estatuto, mesmo agora moldado a seu feitio.

Neste sentido há de reconhecer que a grande vitória alcançou os brancos latifundiários e racistas do DEM em cima do lombo preto dos (as) negros (as) pró-Estatuto presentes na Câmara dos Deputados.

A vitória não ficou apenas sobre os (as) negros (as) que compareceram ao festim de Crono, onde os convivas eram comidos – por via oral evidentemente – pelo anfitrião, mais uma vitória imposta a todos os pró-Estatuto espalhados pelo Brasil, porem em particular a todos (as) negros (as) do Partido dos Trabalhadores juntos com os do PC do B, que desejam ardentemente que no 20 de novembro, o Presidente da República sancione este Estatuto – mesmo com os absurdos impostos pelo DEM como política de Estado para negro do Governo Lula.

A verdade é que Estatuto aprovado na Comissão da Câmara dos Deputados com demonstração explícita de alegria de negros (as) é derrota dos anseios dos quilombolas, dos negros cotistas – os favoráveis a cotas e os que delas se beneficiam diretamente – e dos artistas negros, sem contar que aspirações de outros negros não estão previstas neste Estatuto, como os que têm as favelas, mocambos e alagados como moradia e os subempregos que encontram na “camelotágem” um meio para sua sobrevivência.

A pergunta aos negros pró-Estatuto é o que pensam de um Estatuto que – segundo eles – vai fazer a igualdade entre todas as “raças”, mas no momento em que é aprovado estabelece a divisão entre os indivíduos de uma delas, justamente da “raça negra” que o Estatuto se propõe fazer iguais as demais. Aceitar como imposição do DEM, a retirada das aspirações dos quilombolas do texto do Estatuto – Índio da Costa parlamentar do DEM impôs esta condição – para a qualquer custo aprovar este Estatuto como proposta dos negros do PT, agravou mais ainda, entre a militância do Movimento Negro a divisão ideológica cuja existência é antiga. A divisão entre os Integracionistas – os que desejam a integração do negro na sociedade de classes (apenas alguns negros é evidente) e, portanto são subordinação do povo negro a um Estatuto, retirando-o da tutela da Constituição Federal e os que lutam pela libertação do povo negro, libertação do subemprego no qual se encontram e entre outras a libertação das condições de moradia em que vive.

Mas afinal o que fizeram os (as) negros (as) presentes na aprovação deste Estatuto que agora é do DEM e não mais do PT? – As “pérolas” que disseram falam por si mesmo.

Para a presidenta do Conselho de Comunidade Negra de São Paulo; “sem sombra de dúvida foi um grande avanço para nós, ativistas.” – Será que Elisa Rodrigues pensou no que falou?

Se existe avanço com este Estatuto, com certeza não é para a militância negra e sim para o Partido Democrata que com o acordo feito, este Estatuto troca de dono, deixa de ser dos (as) negros (as) do PT e passa a ser dos ruralistas do DEM. O Estatuto como política de Estado para negro do Partido Democrata. Elisa! Que belo avanço.

O senador do PT, Paulo Paim que como a Elisa considera um avanço se do projeto original foram retirados tudo o que demais importante o Estatuto tinha. Como o Fundo Financeiro e agora os direitos dos quilombolas e dos jovens negros que acreditam nas cotas como formas de integração na sociedade de classes.

As melhores “pérolas” faladas por aqueles (as) que não querem aceitar a realidade tem-se a da Cida Abreu, da Secretaria de Combate ao Racismo do PT que considera a aprovação deste Estatuto de fancaria, como “reconhecimento da história de luta do movimento negro brasileiro”.

A Cida Abreu sem sombra de dúvidas pela sua participação efetiva,embora invisível no processo de combate ao racismo empreendido pela militância negra, é pessoa altamente qualificada para dizer que este Estatuto é “o reconhecimento da História de luta do movimento negro brasileiro. Cida! Entre frase de ocasião e prática de luta há uma distância considerável. Por exemplo, entre as cidades de Rio de Janeiro e Miracema.

Neste festival de canto e dança, com negros e negras de mãos dadas com ruralistas da UDR/DEM, alegres cantando o “Sorriso Negro”, parlamentares do Partido dos Trabalhadores não se fizeram de rogados. A deputada federal pelo PT/SP, Janete Pietá, sacou que “queremos elogiar as políticas públicas que este Estatuto ampliará” e Carlos Santana, deputado federal pelo PT/RJ, não ficou atrás, com “considero o momento de festa e de muita esperança para o nosso povo negro”.

A atitude eufórica dos filiados do PT – dos parlamentares e dos (as) negros (as), os presentes ao ato e os ausentes em todo o Brasil – é devido o Estatuto da “Igualdade Racial” ser da autoria do senador do PT, Paulo Paim. Mas, por exemplo, se o projeto do Estatuto fosse do deputado Índio da Costa DEM/RJ, com as mudanças que ele introduziu e ainda, sem o fundo financeiro, a mesma atitude com toda certeza não aconteceria, a alegria seria substituída por esgar de raiva e muitos impropérios proferidos.

Não há como negar que esta atitude atesta que entre as aspirações da massa negra da população definida povo negro e o corporativismo partidário petista, negros e negras filiados do Partido, indistintamente ficam com o partido. Que lastima, diriam, certamente nossos antepassados.

Mas o deplorável nesta aprovação do Estatuto está na declaração de três militantes negros que se fizeram presentes no coro de vozes cantando “Sorriso Negro” e de mãos dadas com os representantes da elite fundiária, um deles, o deputado federal pelo DEM/RS; Ônix Lorenzoni que elogiou o texto aprovado e ainda, com certa arrogância afirmou que “o DEM lutou para que o Estatuto fosse mestiço como é o Brasil. Não há espaço para racionalização ou para uma nação bicolor.”

Como pode ser deduzido, mesmo com um Estatuto agora apropriado pela UDR/DEM, ainda assim para Edson França, Coordenador Nacional da UNEGRO, “a decisão (aprovação do Estatuto) reafirma a vanguarda do Brasil no ordenamento jurídico par a promoção de igualdade racial”. Uma frase como esta expressa a visão estreita de negros/negras que por não reconhecer a luta dos negros em África e na Diáspora, tem olhar que nunca vai além de seu umbigo preto. Assim, acreditam que aprovação de Estatuto por si só coloca negros (as) do Brasil como os mais conscientes e combativos do mundo. Edson! Presunção é incompatível em atividades políticas e ser pretensioso não é uma atitude inteligente.

Os outros militantes não foram diferentes. O representante dos Agentes Pastoral do Negro (APNs), Nuno Coelho, a aprovação do Estatuto com as propostas do DEM/UDR, “foi um golaço do ministro Edson Santos” e para Eduardo Oliveira da CONEN, “ a aprovação (do Estatuto) é uma grande vitória da luta negra”.

A nosso juízo porém, o golaço do ministro feito na “rede do povo negro” é gol de “bola murcha” e a “vitória da luta negra” é uma vitória de Pirro.

Os negros (as) que ficaram alegres e felizes com a aprovação deste Estatuto que acintosamente por ordem dos parlamentares do DEM/UDR discriminou os quilombolas, sem dúvida que a história com eles será severa no seu julgamento.Voltaremos ao assunto.


Yedo Ferreira é militante e dirigente do MNU-Movimento Negro Unificado.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A Guerra no Século XXI ou a terceirização da guerra


Em entrevista ao jornal argentino Página 12, Dario Azzelini, pesquisador italiano das novas guerras, defende que "a guerra não é mais para instalar outro modelo econômico; ela é o modelo". "O sentido da guerra mudou. Tradicionalmente era para trocar as elites e o controle das economias, ou introduzir outro modelo de domínio econômico ou político. Agora, em muitos casos as guerras são permanentes. Não se faz a guerra para implementar outro modelo econômico, mas a guerra mesmo é o mecanismo de lucros", afirma o historiador.

Natália Aruguete e Walter Isaía - Página 12

A idéia do conflito permanente cria condições para o surgimento de um modelo econômico que seria impossível de instalar em condições de paz. Ao mesmo tempo, é cada vez mais importante a intervenção de Companhias Militares Privadas (CMPs) em todo o mundo, do Iraque até a Colômbia.

Que significa a denominação de novas guerras que o senhor usa no livro O Negócio da Guerra?

Azzelini: No debate acadêmico e − em parte − o político, a expressão novas guerras foi introduzida para denominar o fato que mais e mais guerras não se dão entre países mas no interior dos países ou, pelo menos, entre um exército regular e um irregular. A expressão, porém poderia se ampliada porque com as modificações de estratégias de sua condução, vemos que até os países com exércitos regulares estão transferindo a violência para empresas privadas ou estruturas paramilitares: atores que não são os tradicionais nas guerras comuns.

Acabaram as guerras entre Estados?

Azzelini: Não é que tenham acabado. Pelo contrário, na última década também houve um aumento das guerras entre países, mas se apresentaram de outra maneira. Os ataques ao Afeganistão ou Iraque foram guerras entre países, mas a porcentagem das guerras irregulares em comparação com as regulares está aumentando.

Isso obedece à lógica neoliberal?

Azzelini: Dizemos que obedece a certas lógicas do neoliberalismo no sentido de aumentar lucros. O sentido da guerra mudou. Tradicionalmente era para trocar as elites e o controle das economias, ou introduzir outro modelo de domínio econômico ou político. Agora, em muitos casos as guerras são permanentes. Não se faz a guerra para implementar outro modelo econômico, mas a guerra mesmo é o mecanismo de lucros.

Por exemplo?

Azzelini: Por exemplo, Colômbia. Muito dos lucros nesse país são porque − praticamente − é um país em guerra. Durante os últimos 20 anos, a passagem da pequena e média agricultura para a agroindústria se fez com uma guerra. Se não fosse assim, não teria sido possível expropriar as terras de milhões de camponeses e fazer uma reforma agrária ao contrário, na qual os latifundiários e paramilitares se apropriaram de 6 milhões de hectares de terra.

Neste cenário, como fica o lugar do Estado?

Azzelini: Em todo o discurso liberal se diz que o Estado está supostamente perdendo o controle desses atores armados. Fundamentalmente, no caso da Colômbia. Creio que os Estados não perdem o controle e, se o perdem, é em pequenos pontos. Simplesmente estão terceirizando as funções repressivas ou de guerra, criando mais confusão. Os grupos paramilitares colombianos foram criados pelas dificuldades do Estado em conseguir financiamento internacional nos anos 80, pela responsabilidade do exército ou da polícia em delitos contra os direitos humanos. Logo se montou o show da suposta desmobilização dos paramilitares, mas já no final dos 90 era de conhecimento público que o paramilitarismo estava coordenado, fomentado e controlado pelo exército e as autoridades colombianas.

Em 2000, a Human Right Watch publicou uma análise da Colômbia cujo título era Paramilitarismo, a sexta divisão do exército colombiano (o exército colombiano tinha cinco divisões). Nesse informe esclarecem que o paramilitarismo é parte integral da situação do exército colombiano e que o processo de desarmamento é uma farsa. Os supostos paramilitares desmobilizados aparecem em outras zonas da Colômbia onde ainda se necessita o paramilitarismo como estratégia ou como supostos grupos rearmados.

Como e quando nascem as Companhias Militares Privadas (CMPs)?

Azzelini: As primeiras nascem imediatamente depois da II Guerra Mundial, porque o exército dos Estados Unidos tinha grande capacidade de transporte que já não necessita manter e começou a privatizar parte do transporte. Porém o verdadeiro boom dessas empresas começou em fins dos anos 80 e foi reforçado de forma maciça nos 90. Na primeira guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, a relação entre os empregados das CMPs e os soldados era de 1 para 100. No Afeganistão, de 1 para 50/40. Agora, no Iraque há 180 mil empregados das CMPs, segundo dados do próprio exército norte-americano. Quantidade maior do que a dos soldados do exército.

Que atividades exercem estas companhias?

Azzelini: Todas as que alguém possa imaginar. O emprego de armas sofisticadas (como aviões não tripulados, radares ou mísseis de navios estadunidenses) na primeira onda de ataques ao Iraque foi realizado por especialistas de empresas privadas. Além disso distribuem a correspondência, cozinham ou lavam a roupa dos soldados, montam os acampamentos militares, as prisões. No caso da prisão de Abu Ghraib houve julgamentos e investigações contra menos de 10 soldados dos Estados Unidos, quando deveria haver muitos mais implicados. A verdade é que a prisão era administrada em todas as suas funções por duas empresas privadas: CACI e Titan.

Quais são as vantagens de terceirizar esse tipo de tarefas para as CMPs?

Azzelini: Como formalmente são civis, não podem, portanto, ser julgados pela Justiça militar. Ao mesmo tempo, em seus contratos lhes é assegurado que não podem ser submetidos à Justiça civil dos países em que eles atuam. Praticamente se criou um campo de impunidade. E a única via para fazer algo contra esses crimes é iniciar processos nos Estados Unidos contra essas empresas. Quantas vítimas têm a possibilidade de fazer isso. Quase ninguém.

Cria-se uma espécie de marco normativo para acionar estas empresas?

Azzelini: Sim. Legaliza-se todo o negócio dos mercenários com esse marco de impunidade. Além disso, terceiriza-se a responsabilidade. Milles Frechette, ex-embaixador dos Estados Unidos na Colômbia, disse que é muito cômodo trabalhar com essas empresas porque se morrem, não são soldados dos Estados Unidos e, se fazem algo errado, a responsabilidade tampouco recai sobre os Estados Unidos. No caso da DinCorp que faz as fumigações de supostas culturas de amapola e coca, na Colômbia há um processo internacional porque fumigaram parte do Equador. Mas a empresa alega que eles não podem dizer nada porque parte de seu contrato é não dar informação a terceiros. O contrato vem do Pentágono. Então, se um congressista lhe solicita prestação de contas, o Pentágono apresenta o contrato e diz: eles fazem estas tar efas. Se faz algo mais não podemos controlá-la porque é uma empresa privada.

Estas empresas, geralmente estadunidenses, são contratadas pelo Pentágono?

Azzelini: A maioria. De fato, a maior parte do financiamento vem dos Estados Unidos. Do gasto militar no âmbito mundial os Estados Unidos executa a metade. Há empresas também na Europa, empresas russas, na Ásia. Mas as dos Estados Unidos só trabalham sob o consenso do Pentágono. Pode ser que treinem o exército da Coréia do Sul, mas com o de acordo do Pentágono. As empresas russas ou outras de países do Leste, contrata-as quem tem dinheiro.

Como convive o exército norte-americano com as CMPs?

Azzelini: Depende de que setores do exército falemos. No campo concreto provavelmente haja conflitos, já que os empregados dessas empresas de segurança costumam ganhar mais do que os soldados. Trabalham em assuntos de maior risco com menos segurança. Porém trabalhar juntos funciona muito bem porque as empresas de segurança são fundadas e organizadas por ex-membros do exército dos Estados Unidos. Também muitos políticos são donos ou copartícipes dessas empresas. Há empresas como a MPRI, fundada por generais dos Estados Unidos da primeira guerra contra o Iraque, que estiveram durante um tempo nas reuniões do Pentágono. Há ligações pessoais muito estreitas. A Eagle Aviation Services and Technology (EAST), que prestou serviços à CIA nos anos 80, é a encarregada do transporte de maquinaria no marco do Plano Colômbia e do Plano anti-drogas na América do Sul.

Quanto dinheiro movimentam estas empresas?

Azzelini: É um negócio que deve estar movimentando ao redor de 150 a 200 bilhões de dólares por ano no mundo. As pequenas foram compradas pelas maiores, movimentam muito dinheiro, várias têm cotação na Bolsa. Tornou-se um mega negócio no qual participam empresas que trabalham em outros campos. Mas também há ligações entre empresas transnacionais de recursos naturais como petrolíferas e mineradoras.

Pode nos dar um exemplo?

Azzelini: Na guerra no Congo, antes que Laurent Cabila ganhasse, havia mineradoras transnacionais que pagavam a mercenários ou a empresas militares privadas para acompanhar as diferentes facções. Uma vez liberado um território mineiro, já havia engenheiros e as CMPs com as mineradoras tinham o controle do território e faziam um acordo com a facção ganhadora para explorar a jazida.

Como é a contratação das CMPs?

Azzelini: São contratadas para fazer trabalhos. E esse também é outro assunto para escapar do controle. A lei norte-americana estabelece que todos os contratos que superem 50 milhões de dólares têm que ser aprovados pelo Congresso. Normalmente fracionam-se os contratos para que sejam inferiores e o Congresso nem se intera desses contratos ou do que estejam fazendo essas missões. É a possibilidade de os Estados Unidos fazer intervenções militares em outros países sem que apareçam como tais, porque não são seus soldados que atuam. Todos sabemos o impacto público que causa a imagem dos soldados mortos com a bandeira yankee que regressam aos Estados Unidos. Isso não acontece se morre um empregado de uma empresa privada: não causa indignação pública porque é como se morresse um empregado da IBM em Cingapura. Ninguém se importa com isso. No Iraque pode-se estimar que haja morrido, no mínimo, 2 mil empregados das CMPs. Isso ajuda a manter o número de baixas num nível baixo.

Contratam empregados na América Latina?

Azzelini: O recrutamento na América Latina cresceu muito nos últimos quatro anos. Antes recrutavam muito nas Filipinas, Nepal, Fiji, Estados Unidos, Inglaterra, França. Mais acostumados a trabalhar com certa modalidade. No Nepal, os gurkas têm uma tradição de 150 anos de mercenários e os de Fiji obtiveram muita formação em missões da ONU.

Como essas empresas aparecem nos meios de comunicação?

Azzelini: Um caso que passou muito pela imprensa foi em 2004 em Falluja, onde houve imagens fortes de uns supostos civis − como explicou em princípio a imprensa − que foram cercados pela população iraquiana , assassinados e seus corpos queimados e pendurados em uma ponte. A imprensa disse que esse pessoal acompanhava um comboio. Formalmente eram civis, mas eram empregados da Blackwater, uma das maiores empresas no campo militar. Estavam protegendo um comboio de soldados norte-americanos, uma tarefa militar. O problema é qual informação é obtida e é apresentada pela imprensa. Toda a informação que se tem do conflito do Iraque passa pelo departamento de relações de imprensa do exército dos Estados Unidos. São repórteres de imprensa militares. Eles só relatam ações nas quais participam os soldados do exército norte-americano, porém, como há mais empregados das empresas militares do que soldados, não temos nenhuma informação sobre muitas ações. Houve empregados de empresas privadas que repeliram o ataque das forças rebeldes iraquianas quando a cidade de Falluja esteve tomada pela resistência. As forças da empresa Blackwater se infiltraram para fazer atentados e pôr bombas.

Os empregados das CMPs são os contratistas que a cadeia CNN menciona, por exemplo?

Azzelini: Sim. São os empregados destas empresas. O exército contrata as empresas e a as empresas a estas pessoas. Porém não apenas o exército. No Iraque todas as embaixadas e empresas contratam CMPs para custódia e segurança. Na Colômbia, a colombiana Ecopetrol, que explora campos petrolíferos junto com a OXI dos Estados Unidos, contrata a CMP AirScan da Flórida para fazer sobrevôos e obter informação de tropas insurgentes que estejam perto dos campos e o oleoduto desde Caño Limon até o porto onde se exporta petróleo para os Estados Unidos. Em 1998, a vila de Santo Domingo foi bombardeada por helicópteros do exército colombiano e causaram quase 20 mortos. Fez-se uma investigação, julgaram os pilotos do exército colombiano que disseram que bombardearam, mas somente seguindo ordens. A AirScan passou informação ao exército de que nessa vila havia uma coluna guerrilheira , por isso a bombardearam.

Então cuidam dos negócios das empresas e brindam serviços ao exército.

Azzelini: É parte do trabalho. No caso do campo petrolífero de Cano Limon é uma cooperação bem organizada e partilhada. A empresa de segurança é paga pelas empresas e apoiada pelo exército colombiano e pelos Estados Unidos com tecnologia. É um conjunto de empresas públicas e privadas, exércitos, CMPs e polícias que formam uma rede que garante a saída do petróleo da Colômbia para os Estados Unidos.

Nessa trama, as CMPs têm relação direta com os Estados e os exércitos?

Azzelini: A operacionalização é a seguinte: os Estados Unidos fazem o Plano Colômbia e grande parte do dinheiro nunca chega à Colômbia, só atravessa a rua do Pentágono, já que em frente estão as sedes de muitas das empresas militares privadas que vão trabalhar na Colômbia. Há que destacar que enquanto nas guerras clássicas os soldados tinham o interesse de terminar a guerra, estas empresas não, porque só ganham se há conflito. Provavelmente não agem com o espírito de terminar com esses conflitos porque perderiam seu ganha-pão.

Há vínculos comprovados com o narcotráfico na Colômbia?

Azzelini: Houve casos de vários empregados de empresas que estiveram implicados em casos de narcotráfico. É muito difícil averiguar, mas pode-se supor que haja alguns contatos entre algumas empresas e o narcotráfico.

Dentro das tarefas das CMPs na Colômbia, inclui-se agir contra dirigentes sindicais?

Azzelini: Sim. A British Petróleo contratou uma empresa que fazia trabalhos de inteligência com movimentos sociais e indígenas que estavam na zona. Os paramilitares assassinaram líderes sociais e se sabe que as CMPs passavam informação ao exército. Os militares dizem que não os mataram, que foram os paramilitares, mas a ligação fica clara.

Como atuam estas companhias no México?

Azzelini: Há alguns mercenários israelenses que apoiaram o treinamento para a formação de grupos paramilitares em Chiapas. Mas é pouco claro. A construção do paramilitarismo no México é diferente do colombiano. Na Colômbia organizaram-se tropas irregulares que se apropriaram das terras, casas, etc. No México criaram-se comunidades paramilitares. Elas são infiltradas, preparadas e se tornam comunidades paramilitares.

Como se vincula a ação destas companhias com a violência sexual na Guatemala?

Azzelini: O caso da Guatemala é anterior ao das construções paramilitares como as autodefesas civis, pagas para apoiar o exército em seu trabalho genocida. A violência sexual se encaixa porque é parte integral da guerra desde sempre. Assassinavam os homens e violavam e ficavam com as mulheres. Isso rompe o tecido social de toda a comunidade.

Estas estruturas paramilitares, com as CMPs e os Estados, formam modos de controle social e paraestatalidades?

Azzelini: Sim, paraestatalidades porque têm território ou representam o Estado. Salvador Mancuso, ex-chefe paramilitar colombiano que foi extraditado em 15 de maio último para ser julgado nos Estados Unidos − disse em uma entrevista à RCN que controlavam congressistas e que, para chegar ao cargo, tinham que concordar com eles, se não, não recebiam votos. A Colômbia é claramente um narco-Estado paramilitar. Não controlam zonas senão as que estejam no Estado. Isso também explica as ligações com as empresas privadas. No norte da Colômbia, empresas bananicultoras pagavam uma porcentagem por cacho de bananas aos paramilitares para a segurança.

Há empregados das CMPs reféns das FARC?

Azzelini: Há três (*), mas é um caso complicado. Um avião pequeno, emprestado pelo Pentágono a uma empresa, sobrevoava as zonas guerrilheiras para transmitir informação sobre as colunas e os chefes guerrilheiros e foi abatida. Supunha-se que os estadunidenses em mãos das FARC eram da empresa, mas logo se soube que eram da CIA e que se usava a empresa como véu.

(*) Devem ser os três americanos libertados junto com Ingrid Betencourt.

Existe alguma estratégia dos Estados Unidos para a América Latina na qual participem as CMPs em médio ou longo prazo?

Azzelini: Há dois elementos, um é a grande base de dados de ex-militares formados que participaram de ditaduras e foram adaptados às novas formas de atuação do exército dos Estados Unidos para trabalhar no Iraque. Há milhares de empregados latino-americanos trabalhando para as CMPs: ex-militares da Argentina, Chile, Honduras, El Salvador e polícias especiais do Brasil e Peru. Neskowin tinha sua sede em Montevidéu e recrutava ex-militares argentinos e uruguaios para a Blackwater no Iraque. A segunda é a ampliação maciça do paramilitarismo em alguns países da América Latina. Na Venezuela começa a haver contatos com grupos da oposição. Na Bolívia também com os autonomistas de Santa Cruz. E no Equador, para formar como uma espécie de contra (revolução) reserva (stand by) a médio prazo. Na Venezuela pode-se traduzir em uma combinação entre as estruturas paramilitares e o pessoal contratado que monte algo similar a contra (revolução) como foi na Nicarágua.

(**) A Companhia das Letras editou Blackwater, a ascensão do exército mercenário mais poderoso do mundo, de Jeremy Scahill (R$ 41,00), com a história da CMP que, em menos de dez anos, tem contratos oficiais de US$ 600 milhões só com o governo dos EUA.

A Blackwater comprou da Embraer um Super Tucano, avião para treinamento militar avançado, e que foi entregue em 22 de fevereiro de 2008. Segundo a revista ASAS de abril/maio de 2008, a empresa norte-americana é a primeira operadora civil do Super Tucano.
Retirado da Carta Maior

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

domingo, 11 de outubro de 2009

Sobre o I Festival de Música Instrumental em Cabo Frio






Hey Fellas




Dia 10 de outubro fizemos um intervenção no I Festival de Música Instrumental em Cabo Frio, Mais precisamente na chamada Casa dos 500 anos. Bom, o evento é de música instrumental, mas tivemos um certo crédito por ser participação especial. Sempre é interessante estar apresentando trabalhos para um público desacostumado a ouvir rap.


O público específico era o que nas entrelinhas, chamamos de "cool", uma tendência que pode ser exposta para efeito de ilustração, identificada na Banda Los Hermanos. Bem, as idéias libertárias para esse público específico causaram um pouco de desconforto, até porque eles detem o conforto e talvez o direcionamento das nossas letras venham de encontro a omissão deles. Tivemos os simpatizantes, mas para o efeito desejado, até que cumprimos bem o nosso papel.


A Bandeira Negra continua tremulando, isso que importa!




Abraços...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Os 12 de "O Globo" e os "pelegos" da UNE


Uma dúzia de alunos de escolas particulares da Zona Sul do Rio, "apartidários" e "apolíticos", lançam um "novíssimo movimento estudantil" pela reforma do ensino. Os leitores, eu e a torcida do Flamengo temos visto muitas fraudes no passado recente. Sabemos que às vezes elas nascem assim. Por que uma dúzia de moças e rapazes bonitos e bem vestidos, do Leblon, Ipanema, Gávea e adjacências, tornam-se notícia dessa forma em “O Globo” - quase sempre amplificada depois por outros veículos audiovisuais do mesmo império Globo de mídia? O artigo é de Argemiro Ferreira.

Argemiro Ferreira

Ao deparar na internet - aqui na Argentina, onde estou hoje - com a primeira página de “O Globo” de quarta-feira, 7, enfeitada pela foto a cores de uma dúzia de graciosos alunos de escolas particulares da Zona Sul do Rio, “apartidários” e “apolíticos”, a lançar “novíssimo movimento estudantil” pela reforma do ensino, não resisti à tentação de questionar outra vez esse jornalismo.

Os leitores, eu e a torcida do Flamengo temos visto muitas fraudes no passado recente. Sabemos que às vezes elas nascem assim. Por que uma dúzia de moças e rapazes bonitos e bem vestidos, do Leblon, Ipanema, Gávea e adjacências, tornam-se notícia dessa forma em “O Globo” - quase sempre amplificada depois por outros veículos audiovisuais do mesmo império Globo de mídia?

Pergunto, em primeiro lugar, se jornalisticamente aquela reuniãozinha de adolescentes bem nascidos merece tal espaço na mídia nacional. Que diabo, como filhos do privilégio representam muito menos do que, por exemplo, um grupo de adolescentes sofridos do Nordeste, tão afetados como eles pelo adiamento da prova do Enem - o pretexto invocado em “O Globo”.

A aristocracia da elite branca

A diferença entre alunos do Nordeste e os de escolas particulares da Zona do Sul do Rio começa nos sobrenomes. Se prevalecem lá os Silva, como a família do atual presidente, os reunidos em “O Globo” são De Lamare, Di Célio, Bevilacqua, Lontra, Bustamante, Bekken, Glatt e outros de igual linhagem - famílias talvez afinadas com a ideologia dos irmãos Marinho.

A foto posada (com grande angular) da primeira página, feita em condomínio da Gávea, permite a suposição de que o tal “novíssimo movimento estudantil” anunciado pela sigla Nove (de “Nova Organização Voluntária Estudantil”) pode ter nascido na própria redação de “O Globo” e tem entre suas causas até o repúdio à ação afirmativa. São todos brancos, se não de sangue azul.

Para o jornalista Ali Kamel, guardião zeloso da doutrina da fé empenhado em uniformizar o discurso ideológico nos veículos do império Globo, “não somos racistas” no Brasil. A partir dessa tese nossa elite rejeita em nome da igualdade racial quotas destinadas a favorecer o ingresso na universidade de não brancos - talvez para perpetuar os privilégios atuais até o final dos tempos.

Nas páginas internas da mesma edição impressa de “O Globo”, conforme tive o cuidado de conferir na versão digital que a reproduziu, a reportagem foi estrategicamente colocada ao lado da coluna de Merval Pereira - a que abraça com fidelidade canina as ordens da cúpula do império de mídia mais arrogante do país e ostensivamente dedicado desde 2005 à derrubada do presidente.

A tradição coerente do golpismo

Os 12 (ou Nove) de “O Globo” parecem representar exatamente a tradição desse jornal (e dos Marinho), que ao longo dos anos, em matéria de educação, foi sempre retrógrado e antidemocrático - em especial quando a UNE e as entidades estaduais filiadas a ela lutavam contra o golpismo militar e na subseqüente ditadura que torturou, matou, censurou a imprensa e perseguiu o movimento estudantil.

Não por acaso o império Globo floresceu à sombra da ditadura por aplaudir os generais. Orgulha-se hoje - ao lado do “El Mercúrio”, pinochetista do Chile, e do “Clarín” argentino - de estar entre as maiores corporações de mídia do continente, premiadas pelos algozes da democracia e pelos interesses externos porque sempre ficaram contra os dos respectivos países.

Em texto posterior, publicado na quinta-feira, 8, e motivado pela reação do presidente da União Nacional dos Estudantes, Augusto Chagas, o jornal condescendeu em expor a resposta deste aos 12 de “O Globo”. Mas além de ter tido o cuidado de minimizá-lo e situá-lo ao pé de outra página, ainda aduziu minieditorial no qual acusa a UNE de “peleguização”.

Contra os interesses nacionais

Fica claro que “pelegos”, na visão dos irmãos Marinho, são os líderes da UNE, criada corajosamente na década de 1940 para defender os interesses do país contra o avanço do Eixo nazifascista. De nada importa ao jornal a explicação de que os fóruns da entidade não são gatos pingados da elite; reúnem mais de 1.500 centros acadêmicos do país, nos quais atuam centenas ou milhares de estudantes.

Como Chagas, também o presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), Ismael Cardoso, tentou informar ao império Globo de mídia que as entidades realmente representativas dos estudantes há muito debatem a questão do Enem e até fizeram críticas à pressa para implantar a nova prova - pressa que pode ter contribuído para o vazamento.

A motivação dos 12 de “O Globo” é outra. Se não foram escolhidos por ninguém, representam quem - ou o que? Têm só de se submeter à ideologia golpista do jornal, na contramão da história e do aperfeiçoamento democrático. É o que basta para sairem na primeira página. Resta agora guiarem-se pelos editoriais. Por exemplo, aplaudindo a Colômbia submissa, sob ocupação militar dos EUA, e a Honduras do golpe, repudiada no mundo inteiro.





OBS: O Bandeira Negra repúdia muitas das práticas da UNE e UBES, mas a reportagem como um corpo vale o registro...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A resistência continua e a ditadura se enfraquece!


A resistência contra o golpe militar em Honduras continua, apesar da ainda maior repressão dos últimos dias. (veja fotos: I II III). Trinta e oito camponeses que foram presos na sede do INA (Instituto Nacional Agrário de Honduras) na semana passada, iniciaram uma greve de fome para serem reconhecidos como presos políticos e como forma de resistir à ditadura de Micheletti. Atividades culturais e assembléias seguem como forma de resistência já que sair às ruas tem sido quase impossível depois do estado de sítio decretado no dia 26 de setembro. Entretanto, depois de 10 dias, na última segunda feira 5 de outubro, o governo golpista teve de ceder e suspendeu o estado de sítio, mas deixou como saldo duas emissoras de rádio com equipamentos roubados, dezenas ou centenas de presos políticos a mais, documentos sobre reforma agrária roubados, e mais gente assassinada - nada disso "volta ao normal" mesmo com o fim do estado de sítio.

Enquanto isso a resistência popular permanece firme, mesmo com perdas irreparáveis. A Frente Nacional contra o Golpe de Estado decidiu que irá manter três ações para os próximos dias: 1. Independente de Zelaya, a Frente levará adiante o processo para a Assembléia Constituinte, promovendo debates, eventos educativos e mobilização para construir a nova constituição; 2. Irá boicotar as empresas que estão apoiando o Golpe; 3. Continuará com as ações de limpeza das propagandas eleitorais espalhadas pelas cidades já que a resistência é contra ter as eleições com uma ditadura no país (mesma posição da comunidade internacional que já avisou que não irá reconhecer as eleições se forem feitas desta forma).

A classe política negocia uma saída para a questão do poder. Micheletti, além de suspender o estado de sítio, está aceitando negociar com a OEA, levando em conta a restituição de Zelaya, que faz parte do acordo proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, o famoso 'Acordo de San Jose'. O presidente golpista retirou o prazo dado para o Brasil entregar Zelaya, que permanece abrigado na embaixada, e disse que vai punir quem tirou Zelaya do país, numa clara contradição do governo golpista, tentando manobrar para que saia impune dos crimes que cometeu. Micheletti e os apoiadores do golpe já estão bastante acuados e divididos diante da pressão popular e internacional. Entretanto, a Frente de Resistência contra o Golpe de Estado lançou um comunicado apontando condições importantes para ter uma diálogo sério e que realmente considere as reinvidicações do povo hondurenho.

No comunicado a Frente coloca que sua posição de que se continua a repressão que vem acontecendo desde 28 de Junho, violentando direitos constituicionais e direitos humanos fundamentais, não haverá um ambiente propício para que este diálogo seja válido. A Frente também exige a liberdade imediata para todos/as Presos/as Políticos detidos pela ditadura. E demandam que o diálogo deve ter como resultados: 1. A saída do poder da ditadura militar-civil; 2. A restituição do Presidente Manuel Zelaya ao seu cargo sem condições, de forma imediata e segura; 3. Definição de mecanismos para a convocatória da Assembléia Nacional Constituinte democrática, inclussiva e participativa.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"Mães de Maio" na estréia de "Salve Geral"


O grupo "Mães de Maio" é formado por centenas de familiares, amigos e amigas das vítimas dos ataques da polícia durante uma das maiores chacinas da história brasileira, os "Crimes de Maio" de 2006. Durante o mês de maio de 2006, em uma suposta resposta ao que se chamou na imprensa de "ataques do PCC", foram assassinadas no mínimo 493 pessoas, entre mortos e desaparecidos. Sendo que a imensa maioria delas - mais de 400 jovens negros, afro-indígena-descendentes e pobres - executados sumariamente pela polícia militar do Estado de São Paulo. Até hoje não houve justiça em relação aos crimes cometidos em 2006, todos os casos foram arquivados.

O filme "Salve Geral", uma produção hollywoodiana sobre os acontecimentos de Maio de 2006, que provavelmente concorrerá ao Oscar no ano que vem, foi produzido sem sequer consultar nenhum parente das vítimas. Com a estréia marcada para hoje, 2 de Outubro, o grupo "Mães de Maio" chama todos e todas para um ato Político-Cultural em frente ao Espaco Unibanco de Cinema em São Paulo. O ato será as 18 horas e a convocação pede para as pessoas levarem velas, tambores, fotos e camisas das vítimas históricas do Estado Brasileiro.

A data 2 de Outubro, marca também outra chacina, em 1992 a Casa de Dentenção Carandiru, onde os agentes do estado promoveram a matança conhecida como "Massacre do Carandiru", que deixou pelo menos 111 mortos (número oficial). O Massacre virou filme, livro e outras formas de mercantilização da desgraça do povo brasileiro. Mas até hoje não houve justiça para os familiares das vítimas e os agentes do estado que participaram do massacre continuam sem serem punidos. A lista de casos como este no Brasil é enorme e a maioria continua sem punição, listamos aqui alguns desses casos: a Chacina da Candelária e de Vigário Geral no Rio de Janeiro (1993), o Massacre de Corumbiara em Rondônia (1995), o Massacre de Eldorado dos Carajás (1996), o Massacre da População de Rua na Praça da Sé em São Paulo (2004), a Chacina da Baixada Fluminense (2005), a chacina do Complexo do Alemão (2007) a chacina de Canabrava, de Plataforma e a matança generalizada em Salvador na Bahia (2006-2009).

Lista de mortos em Maio de 2006 pela Policia e Encapuzados.



Retirado de CMI Brasil