domingo, 29 de maio de 2011

A limpeza de praças na Espanha

Apesar do fato de as elites políticas da Espanha, nesta nova era de dominância da direita, estarem mostrando seu uso em massa da força, eles têm encontrado um movimento não-violento bem organizado. Se o movimento mantiver os seus princípios, e outros países europeus juntarem-se na luta, vai ser a União Europeia que será forçada a conter essa brutalidade policial, e acabará por ter de fazer concessões a essa luta democrática e não-violenta dos cidadãos. Se o movimento se espalhar, como já muitos sinais parecem indicar, as elites políticas e econômicas da Europa terão que decidir entre reforma e revolução. O artigo é de Pablo Ouziel.

Na sexta-feira 27 de maio, cinco dias após uma vitória esmagadora dos partiidos de centro-direita nas eleições locais e regionais em toda a Espanha, o país acordou para a amarga realidade de como os movimentos não-violentos que lutam por democracia econômica, justiça política e paz irão se relacionar com as forças policiais do país nesta nova era de dominação política da direita.

Apenas 24 horas após a maior companhia espanhola de telecomunicações, a Telefónica, anunciar uma nova rodada de demissões afetando 8,5 mil pessoas, 25% da força de trabalho, e com o G8 se reunindo em Deauville, França, para discutir entre outras coisas o descontentamento que varre a Europa, a polícia da Catalunha - Mossos d'Esquadra - seguindo ordens da Prefeitura, sob controle do Partido Nacionalista Catalão, cercou os manifestantes não-violentos que acamparam na Plaza Catalunya, no centro da cidade de Barcelona. Armados com equipamento anti-rebelião completo, cassetetes e espingardas com balas de borracha, a polícia encurralou os manifestantes, impossibilitando que pessoas entrassem ou saíssem da praça.

Com a desculpa de limpar a praça, por razões de segurança, em preparação para a final da Liga dos Campeões da Europa entre Barcelona e Manchester United, o governo da cidade pediu a dispersão dos manifestantes, a fim de permitir que as equipes de limpeza entrassem. Embora essa fosse a posição oficial, logo ficou evidente que a limpeza da praça não era a verdadeira intenção, e que o verdadeiro objetivo da operação era apreender computadores, impressoras e documentos das comissões do movimento de direção, e pôr um fim a esta revolta popular que representa uma ameaça para as elites políticas e econômicas do país.

Assim que a polícia cercou a multidão e as emissoras de televisão e rádios locais começaram a noticiar os eventos, os cidadãos começaram a deixar seus locais de trabalho e foram até a praça, a fim de mostrar a sua solidariedade para com aqueles que estavam na mira da polícia. A cena que encontraram parecia um dos lendário atos de desobediência civil de Gandhi - os manifestantes sentados no chão, em silêncio, com as pernas cruzadas e as mãos no ar, simbolizando seu desafio à natureza opressiva e brutal desta ação policial.

Ao contrário do período pré-eleitoral, há onze dias, quando o movimento 15M começou a se reunir nas praças das cidades em todo o país com mensagens de indignação, desta vez a polícia não hesitou. As ordens eram claras. Eles começaram a apontar suas armas para aqueles que estavam fora da praça e gritavam "Esta é a nossa democracia", e um por um, começaram a puxar quem estava sentado no interior da praça - e bater neles com os cassetetes. Acabei de ouvir que o professor de economia Arcadi Oliveras (o Noam Chomsky da Espanha), esteve entre aqueles que sofreram com o uso indiscriminado de cassetetes da polícia.

No momento em que escrevo, milhares de cidadãos estão indo em direção à praça de Barcelona, e na sequência de duas detenções e 99 feridos, cerca de 5 mil manifestantes reocuparam a praça da cidade. Em Madri Esperanza Aguirre, que preside a região autônoma e o Partido Popular de Madrid, pediu ao Ministério do Interior para expulsar os manifestantes de Puerta del Sol. Por sua parte, os manifestantes na praça de Madrid têm enviado mensagens de solidariedade para com aqueles que estão sendo atacados em Barcelona. A polícia na cidade de Lerida também despejou os acampados na praça da cidade usando canhões de água, e dois manifestantes foram presos. Enquanto que na cidade de Granada a prefeitura está em negociações com o governo central sobre como esvaziar a praça da cidade.

O ambiente na praça de Barcelona agora é tranquilo. Uma vez que a cidade mostrou seu apoio aos manifestantes, a polícia foi forçada a sair, e apesar do fato de muitos laptops e panfletos terem sido confiscados, e barracas e equipamentos destruídos, as pessoas pretendem ficar. Uma grande faixa no meio da praça em espanhol diz: "Você limpou o nosso cansaço e agora estamos de volta".

Apesar do fato de as elites políticas da Espanha, nesta nova era de dominância da direita, estarem mostrando seu uso em massa da força, eles têm encontrado um movimento não-violento bem organizado. Se o movimento mantiver os seus princípios, e outros países europeus juntarem-se na luta, vai ser a União Europeia que será forçada a conter essa brutalidade policial, e acabará por ter de fazer concessões a essa luta democrática e não-violenta dos cidadãos. Se o movimento se espalhar, como já muitos sinais parecem indicar, as elites políticas e econômicas da Europa terão que decidir entre reforma e revolução.

(*) Pablo Ouziel é ativista e escritor independente baseado na Espanha. Seus artigos e ensaios estão disponíveis em pabloouziel.com.

Texto originalmente publicado em CommonDreams.org.

sábado, 28 de maio de 2011

Luto: morre nos Estados Unidos, Gil Scott-Heron, grande influência da música rap


O cantor e compositor norte-americano Gil Scott-Heron, considerado um dos responsáveis por lançar as bases da música rap, morreu na última sexta-feira (27/5), aos 62 anos. A informação foi confirmada por uma amiga do músico, Doris C. Nolan, por telefone em sua gravadora em Nova York. Segundo ela, Scott-Heron morreu na tarde do dia 27/5 no hospital Saint Luke, após retornar debilitado de uma viagem à Europa. Ainda não se sabe a causa da morte.

O "padrinho do rap", apelido que Gil recebera e rejeitava, é o autor do hit "The revolution will not be televisioned" ("A revolução não será televisionada") e influenciou uma geração inteira de artistas do rap/hip-hop, que ainda hoje utilizam em suas criações porsões de suas músicas.

Gil Scott-Heron nasceu na cidade de Chicago, no dia 1º de abril de 1949, mas viveu a maior parte de sua vida entre as cidades de Jackson, no Tennessee, e Nova York, antes de entrar para a Universidade Lincoln, na Pensilvânia.

[+] Acesse o website oficial do artista

Fonte: G1

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Conflito no campo: um condenado para cada 17 assassinatos

No Pará, onde na terça-feira casal ambientalista foi morto em emboscada, apenas mandante de matar missionária está preso. Foto: AFP
Nos últimos 25 anos, 1.614 pessoas foram assassinadas no Brasil em decorrência de conflitos no campo. Até hoje, apenas 91 casos foram julgados - e resultaram na condenação de 21 mandantes e 72 executores. Isso significa que a Justiça no Brasil levou às grades um criminoso para cada 17 pessoas assassinadas em todos esses anos.
O levantamento, feito pela reportagem de CartaCapital com base em números fornecidos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), indica a situção de impunidade existente no País, que, na última terça-feira 24, testemunhou a morte anunciada meses antes de duas lideranças ambientais após uma emboscada no Pará. Os números contabilizados se referem aos crimes ocorridos entre 1985 e 2010.
A maioria das vítimas é de lideranças locais, assentados e quilombolas. Entre elas estão personalidades que se tornaram símbolos da resistência ambientalista, como o seringueiro Chico Mendes e a missionária Dorothy Stang.
Somente na última década, 376 pessoas foram assassinadas em decorrência de conflitos no campo motivados denúncias como desmatamento e assentamentos. O Pará é, disparado, o recordista de ocorrências: entre 1985 e 2010 foram registrados 408 casos (cerca de 35% dos incidentes no Brasil), com 621 vítimas, de acordo com a CPT. Destes casos, apenas 15 tiveram julgamentos, com 11 mandantes e 13 executores condenados. Hoje, porém, apenas o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, que encomendou a morte da missionária americana Dorothy Stang em 2005, está preso por estes crimes.
Suspeito de ser o mentor do crime, Regivaldo Pereira Galvão foi condenado a 30 anos de prisão, mas aguarda o recurso apresentado em sua defesa em liberdade. O pistoleiro Rayfran das Neves Sales, condenado a 28 anos de prisão, acusado de ser o executor do assassinato, cumpre pena em regime semi-aberto desde 2010.
História que se repete
O assassinato dos extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva são os mais recentes casos de ocorrências envolvendo conflitos de terra no estado. O casal foi alvejado em Nova Ipixuna, a 390 quilômetros de Belém, região onde vivia há 24 anos.
Integrantes do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, organização criada pelo ambientalista Chico Mendes – morto em 1988 pelo fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho, Derli -, defendiam o manejo sustentável da floresta, denunciando extração ilegal de madeira, desmatamento e carvoarias ilegais.
Ameaças
Há cerca de um mês, um grupo suspeito teria invadido a propriedade do casal e disparado tiros para o alto e contra animais. Além disso, em um vídeo de novembro de 2010, gravado durante uma palestra sobre a preservação da floresta amazônica, José Cláudio afirmou que sofria ameaças.
“A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a Irmã Dorothy querem fazer comigo. Eu estou aqui conversando com vocês, daqui um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci. Me perguntam: tenho medo? Tenho, sou ser humano, mas o meu medo não me cala. Enquanto eu tiver força pra andar eu estarei denunciando aquele que prejudica a floresta”, disse.
Em contato com CartaCapital, o procurador da República em Marabá responsável pelo caso, Tiago Modesto Rabelo, afirmou, na quarta-feira 25, que José Cláudio e Maria do Espírito Santo não registraram nenhuma ocorrência relatando ameaças no Ministério Público Federal.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Morre Abdias do Nascimento, guerreiro do povo negro

Faleceu nesta manhã de terça, 24, no Rio de Janeiro,  o escritor Abdias do Nascimento. Poeta, político, artista plástico, jornalista, ator e diretor teatral, Abdias foi um corajoso ativista na denúncia do racismo e na defesa da cidadania dos descendentes da África espalhados pelo mundo. O Brasil e a Diáspora perdem hoje um dos seus maiores líderes. A família ainda não sabe informar quando será o enterro. Aos 97 anos, o paulista de Franca, passava por complicações que o levaram ao internamento no último mês. Deixa a esposa Elisa Larkin, o filho e uma legião de seguidores, inspirados na sua trajetória de coragem e dedicação aos direitos humanos.  

Foto: doolharnegro.blogspot.com


ABDIAS DO NASCIMENTO

Nascido em Franca, São Paulo, 14 de março de 1914.


Professor Emérito, Universidade do Estado de Nova York, Buffalo (Professor Titular de 1971 a 1981, fundou a cadeira de Cultura Africana no Novo Mundo no Centro de Estudos Porto-riquenhos).
Artista plástico, escritor, poeta, dramaturgo.


Formação acadêmica

Bacharel em Economia, Universidade do Rio de Janeiro, 1938.
Diploma pós-universitário, Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), 1957.
Pós-graduação em Estudos do Mar, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/ Ministério da Marinha, 1967.
Doutor Honoris Causa, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1993.
Doutor Honoris Causa, Universidade Federal da Bahia, 2000.
Doutor Honoris Causa, Universidade do Estado da Bahia, 2008




Cargos Eletivos e Executivos Exercidos


Deputado federal (1983-86).
Secretário de Estado, Governo do Rio de Janeiro, Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras (SEAFRO) (1991-1994).
Senador da República (1991-99). Suplente do Senador Darcy Ribeiro, assumiu a cadeira no Senado, representando o Rio de Janeiro pelo PDT em dois períodos: 1991-1992 e 1997-99.
Secretário de Estado de Direitos Humanos e da Cidadania, Governo do Estado do Rio de Janeiro, 1999. Coordenador do Conselho de Direitos Humanos, 1999-2000.


Atividades e Realizações Principais

1930-1936. Alista-se no Exército, e na capital de São Paulo participa da Frente Negra Brasileira. Participa das Revoluções de 1930 e 1932, na qualidade de soldado. Combate a discriminação racial em estabelecimentos comerciais em São Paulo.
1936. Muda para o Rio de Janeiro com o objetivo de continuar seus estudos de economia, iniciados em São Paulo.
1937. Protestando contra a ditadura do Estado Novo, é preso e condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional e cumpre pena na Penitenciária da Frei Caneca.
1938. Organiza junto com um grupo de militantes negros em Campinas, SP, o Congresso Afro-Campineiro, com o objetivo de discutir e organizar formas de resistência à discriminação racial.
1938. Diploma-se pela Faculdade de Economia da Universidade do Rio de Janeiro.
1940. Integrante da Santa Hermandad Orquídea, grupo de poetas argentinos e brasileiros, viaja com eles pela América do Sul. Em Lima, Peru, faz uma série de palestras na Universidad Mayor de San Marcos (Escola de Economia). Assiste à peça O Imperador Jones, de Eugene O'Neill, estrelada por um ator branco, Hugo D'Evieri, brochado de preto. A partir das reflexões provocadas por esse fato, planeja criar o Teatro do Negro Brasileiro ao retornar a seu país. Na Argentina, onde mora por mais de um ano, participa de movimentos teatrais com o objetivo de melhor conceitualizar a idéia do Teatro Negro.
1941. Voltando ao Brasil, é preso na Penitenciária de Carandiru, condenado à revelia por haver resistido a agressões racistas em 1936. Funda o Teatro do Sentenciado, organizando um grupo de presos que escrevem, dirigem e interpretam peças dramáticas.
1943. Saindo da prisão, procura em São Paulo apoio para a criação do Teatro do Negro. Não encontrando receptividade junto a intelectuais como o escritor Mário de Andrade, e outros, muda para o Rio de Janeiro.
1944. Funda, com o apoio de um grupo de negros e de setores da intelectualidade carioca, o Teatro Experimental do Negro (TEN). Na sede da UNE, realizaram-se os primeiros cursos de alfabetização, treinamento dramático e cultura geral para os participantes da entidade.
1945. Dirige o TEN na sua estréia no Teatro Municipal com o espetáculo O Imperador Jones, estrelado pelo genial ator negro Aguinaldo Camargo, em 08 de maio, dia da vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Daí em diante, até 1968, o TEN teve presença destacada no cenário cultural e teatral brasileiro.
1945. Com um grupo de militantes, funda o Comitê Democrático Afro-Brasileiro, que luta pela anistia dos presos políticos.
1945-46. Organiza a Convenção Nacional do Negro (a primeira plenária realizando-se em São Paulo e a segunda no Rio de Janeiro), que propõe à Assembléia Nacional Constituinte a inclusão de um dispositivo constitucional definindo a discriminação racial como crime de lesa-Pátria. A iniciativa, apresentada à Assembléia Nacional Constituinte pelo Senador Hamilton Nogueira, não é aprovada.
1946. Participa da fundação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) no Rio de Janeiro.
1948. Funda, junto com Sebastião Rodrigues Alves e outros petebistas, o movimento negro do PTB.
1949. Organiza, com a colaboração do sociólogo Guerreiro Ramos e do etnólogo Édison Carneiro a Conferência Nacional do Negro, preparatória do 1º Congresso do Negro Brasileiro.
1949-1951. Funda e dirige o jornal Quilombo, órgão de divulgação do TEN.
1950. Realiza no Rio de Janeiro o 1º Congresso do Negro Brasileiro, evento organizado pelo TEN.
1955. Realiza o Concurso de Artes Plásticas sobre o tema do Cristo Negro, evento polêmico que mereceu a condenação de setores da Igreja Católica e o apoio do bispo Dom Hélder Câmara.
1957. Forma-se na primeira turma do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Estréia a peça de sua autoria, Sortilégio: Mistério Negro, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e de São Paulo.
1968. Funda o Museu de Arte Negra, que realiza sua exposição inaugural no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Encontra-se alvo de vários Inquéritos Policial-Militares e se vê obrigado a deixar o país. Convidado pela Fairfield Foundation, inicia uma série de palestras nos Estados Unidos.
1968-69. Durante um semestre, atua como Conferencista Visitante da Yale University, School of Dramatic Arts. Inicia sua atuação como artista plástico, pintando telas que transmitem os valores da cultura religiosa afro-brasileira e da luta pelos direitos humanos dos povos africanos em todo o mundo. (Ver lista de exposições abaixo).
1969-70. Convidado pelo Centro para as Humanidades da Wesleyan University (Middletown, Connecticut), participa durante um ano, com intelectuais como Norman Mailer, Norman O. Brown, John Cage, Buckminster Fuller, Leslie Fiedler, e outros, do seminário A Humanidade em Revolta.
1970. É convidado para fundar a cadeira de Culturas Africanas no Novo Mundo, no Centro de Estudos Portorriquenhos da Universidade do Estado de Nova York em Buffalo, na qualidade de professor associado, no ano seguinte titular, e lá permanece até 1981.
1973. Participa da Conferência de Planejamento do 6º Congresso Pan-Africano em Kingston, Jamaica.
1974. Participa do Sexto Congresso Pan-Africano, Dar-es-Salaam, Tanzânia, como único representante da região da América Latina.
1976-77. Convidado pela Universidade de Ife, Ile-Ife, Nigéria, passa um ano como Professor Visitante no Departamento de Línguas e Literaturas Africanas.
1976. Participa, a convite do escritor Wole Soyinka, no Seminário Alternativas para o Mundo Africano, reunião em que funda-se a União de Escritores Africanos, em Dakar.
1977. Participa na qualidade de observador, perseguido pela delegação oficial do regime militar brasileiro, do Segundo Festival Mundial de Artes e Culturas Negras e Africanas, realizado em Lagos. Denuncia, no respectivo Colóquio, a situação de discriminação racista vivida pelo negro no Brasil. Na Europa e Estados Unidos, participa da fundação, desde o exílio, do novo PTB (mais tarde, Partido Democrático Trabalhista - PDT).
1977. Participa, na qualidade de delegado e presidente de grupo de trabalho, do Primeiro Congresso de Cultura Negra nas Américas, realizado em Cáli, Colômbia.
1978. Participa em São Paulo do ato público de fundação e das reuniões organizativas do Movimento Negro Unificado contra a o Racismo e a Discriminação Racial. Participa da reunião internacional de exilados brasileiros O Brasil no Limiar da Década dos Oitenta, em Stockholm, Suécia.
1979. A convite do Bloco Parlamentar Negro (Congressional Black Caucus) do Congresso dos Estados Unidos, e do Sindicato de Trabalhadores do Correio, profere conferência na sede da Câmara dos Deputados em Washington, D.C.
1980. Participa, na qualidade de delegado especial, do Segundo Congresso de Cultura Negra das Américas, realizado no Panamá, e é eleito pelo plenário Coordenador Geral do Terceiro Congresso. No Brasil, lança o livro O Quilombismo e ajuda a fundar o Memorial Zumbi, organização nacional voltada à recuperação, em benefício da comunidade afro-brasileira e do mundo africano, das terras da República dos Palmares, na Serra da Barriga, Alagoas.
1981. Funda o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO) na PUC-SP. Integra a executiva nacional do PDT e funda a Secretaria do Movimento Negro do PDT, no Rio de Janeiro e a nível nacional. Participa da coordenação internacional do projeto Kindred Spirits, exposição itinerante de artes afro-americanas.
1982. Organiza e é eleito para presidir o Terceiro Congresso de Cultura Negra das Américas, realizado nas dependências da PUC-SP com representantes de todo o mundo africano exceto o Pacífico.
1983. Assume a cadeira de Deputado Federal, eleito suplente pelo PDT-RJ. É o primeiro deputado afro-brasileiro a exercer o mandato defendendo os direitos humanos e civis do povo afro-brasileiro. A convite da ONU, participa do Simpósio Regional da América Latina em Apoio à Luta do Povo da Namíbia pela sua Independência, em San José, Costa Rica. Visita a antiga sede da UNIA de Marcus Garvey em Limón. Viaja também a Nicarágua, participando de sessões da Assemblea Nacional e conhecendo as populações de origem africana em Bluefields, litoral oriental do país. Em Washington, D.C., participa do seminário Dimensões Internacionais: a Realidade de um Mundo Interdependente, a convite do Bloco Parlamentar Negro (Black Congressional Caucus), na sede do Congresso Nacional dos Estados Unidos.
1984. Cria, junto com um grupo de intelectuais e militantes negros, a Fundação Afro-Brasileira de Arte, Educação e Cultura (FUNAFRO), integrando o IPEAFRO, o Teatro Experimental do Negro, a revista Afrodiaspora, e o Museu de Arte Negra.
1985. A convite da ONU, participa da Simpósio Mundial em apoio à Luta do Povo da Namíbia pela sua Independência, em Nova York. Participa, novamente, de reunião internacional patrocinada pelo Bloco Parlamentar Negro dos Estados Unidos: a Conferência Internacional sobre a Situação dos Povos do Terceiro Mundo, na sede do Congresso norteamericano em Washington, D.C. Integrando comitiva oficial brasileira, visita Israel a convite do respectivo governo.
1987. Participa, na qualidade de delegado de honra,da Conferência Internacional sobre a Negritude e as Culturas Afro nas Américas, Florida International University, Miami. Integra o Conselho de Contribuintes do Município do Rio de Janeiro.
1987-88. Integra o Comitê Dirigente Internacional, Festival Pan-Africano de Artes e Cultura, Dakar, Senegal. Participa da direção internacional do Memorial Gorée, organização dedicada ao projeto de construção de um memorial aos africanos escravizados na ilha senegalesa que serviu como entreposto do comércio escravista. Integra a direção internacional do Instituto dos Povos Negros, organização internacional promovida com o apoio da UNESCO pelo governo de Burkina Faso e de outros países africanos e caribenhos.
1988. Profere a conferência inaugural da Série Anual de Conferências Internacionais W. E. B. DuBois em Accra, República de Gana, promovida pelo Centro de Estudos Pan-Africanos W. E. B. DuBois, e visita o país a convite do governo. Participa da Comissão Nacional para o Centenário da Abolição da Escravatura. Realiza exposição individual intitulada Orixás: os Deuses Vivos da África, na sede do Ministério da Educação e Cultura, o Palácio Gustavo Capanema.
1989. Na qualidade de consultor da UNESCO para assuntos culturais, passa um mês em Angola. É eleito Presidente do Memorial Zumbi e atua no Conselho de Curadores da Fundação Cultural Palmares, Ministério da Cultura. É nomeado Conselheiro representante do Município no Conselho de Contribuintes do Município do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Fazenda.
1990. A convite da SWAPO (movimento de libertação nacional transformado em partido político eleito ao primeiro governo da nação), participa da cerimônia de independência da Namíbia e posse do Governo Sam Nujoma, em Windhoek.
1990-91. Durante um ano atua como Professor Visitante, Departamento de Estudos Africano-Americanos, Temple University, Philadelphia. Acompanha Darcy Ribeiro e Doutel de Andrade na chapa do PDT para o Senado, sendo eleito suplente de senador.
1991. Assume a pasta de Secretário de Estado para a Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras (SEAFRO) no Governo do Rio de Janeiro. A convite do Congresso Nacional Africano (ANC) da África do Sul, participa de sua 48a Conferência Nacional presidido por Nelson Mandela, em Durban. É nomeado membro do Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro.
1991-92. Assume a cadeira no Senado. Integra a comitiva presidencial em visita a Angola, Moçambique, Zimbabwe, e Namíbia. Participa no Primeiro Congresso Internacional sobre Direitos Humanos no Mundo Africano, patrocinado pela organização não-governamental AFRIC e realizado em Toronto, Canadá.
1993-94. Retoma a Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras.
1995. Participa das atividades do Tricentenário de Zumbi dos Palmares, em vários estados e municípios do Brasil e nos Estados Unidos. Lança o livro Orixás: os Deuses Vivos da África, com reproduções de suas pinturas, texto sobre cultura e experiência afro-brasileiras, e textos críticos de diversos autores (africanos, norteamericanos, caribenhos, e brasileiros) sobre a sua obra de artes plásticas. É Patrono do Congresso Continental dos Povos Negros das Américas, realizado no Parlamento Latinoamericano em São Paulo, em comemoração ao Tricentenário da Imortalidade de Zumbi dos Palmares, 20 de novembro de 1995.
1996. Recebe da Câmara Municipal de São Paulo o título de Cidadão Paulistano.
1997. Assume em caráter definitivo o mandato de senador da República. Recebe o prêmio de Menção Honrosa de Direitos Humanos outorgado pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP. Realiza exposição de pintura no Salão Negro do Congresso Nacional.
1998. Participa com um comentário ao Artigo 4º da Declaração de Direitos Humanos por ocasião do cincoentenário desse documento da ONU em 1998, incluído em volume organizado e publicado pelo Conselho Federal da OAB. Outros artigos foram comentados por personalidades como o rabino Henry Sobel, Adolfo Pérez Esquivel, Evandro Lins e Silva, Dalmo de Abreu Dallari, João Luiz Duboc Pinaud, e outros. Realiza exposição de pintura (28 telas) na Galeria Debret em Paris.
1999. Assume, como titular fundador, a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania do Governo do Estado do Rio de Janeiro. É homenageado pela Câmara Municipal de Salvador entre cinco personalidades do mundo africano: Malcolm X, Abdias Nascimento, Martin Luther King, Patrice Lumumba, Samora Machel.
2000. Extinta a Secretaria de Estado de Direitos Humanos, preside provisoriamente o Conselho de Direitos Humanos e volta a dedicar-se às atividades de escritor e pintor. Recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia.
2001. É agraciado pelo Schomburg Center for Research in Black Culture, centro de referência mundial que integra o sistema de bibliotecas públicas do município de Nova York, com o Prêmio Herança Africana comemorativo dos 75 anos da fundação daquela instituição. A comissão de seleção dos premiados foi constituída pelo ex-prefeito de Nova York, David N. Dinkins, a poetisa Maya Angelou, o cantor Harry Belafonte, o ator Bill Cosby, a diretora da editora Présence Africaine Mme. Yandé Christian Diop, o professor Henry Louis Gates da Harvard University, a coreógrafa Judith Jamison, o cineasta Spike Lee e o reitor da Universidade das Antilhas Rex Nettleford. As outras cinco personalidades homenageadas com o prêmio em cerimônia realizada na sede da ONU foram o intelectual senegalês e ex-diretor da UNESCO M. Amadou Mahktar M'Bow, a coreógrafa e antropóloga Katherine Dunham, a ativista dos direitos civis e fundadora da Organização das Mulheres Negras dos Estados Unidos Dorothy Height, o fotógrafo Gordon Parks, e músico e fotógrafo Billy Taylor.
Convidado pela Fórum Nacional de Entidades Negras, faz o discurso de abertura da 2ª Plenária de Entidades Negras Rumo à 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo, Rio de Janeiro, 11 de maio de 2001.
É agraciado com o Prêmio Cidadania 2001, da Comunidade Bah'ai do Brasil, conferido em Salvador em junho.
Inaugura-se em julho o Núcleo de Referência Abdias Nascimento, contra o Racismo e o Anti-Semitismo, e seu Serviço Disque-Racismo, iniciativas da Fundação Municipal Zumbi dos Palmares, Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de Janeiro.
Profere discurso de abertura do 1º Encontro Nacional de Parlamentares Negros, Salvador, Bahia, 26 de julho de 2001.
Convidado pela Coalizão de ONGs da África do Sul (SANGOCO), profere palestra na mesa Fontes, Causas e Formas Contemporâneas de Racismo, Fórum das ONGs, 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo, Durban, África do Sul, 28 de agosto de 2001.
É agraciado com a Ordem do Rio Branco, no grau de Oficial, Brasília, outubro de 2001.
É agraciado com o Prêmio UNESCO, categoria Direitos Humanos e Cultura de Paz, outubro de 2001.
2002. Lança os livros O Brasil na Mira do Pan-Africanismo (CEAO/ EdUFBA) e O Quilombismo, 2ª ed. (Fundação Cultural Palmares).
É convidado pelo Liceu de Artes e Ofícios da Bahia a ser o palestrante da segunda de suas novas Conferências Populares, continuando essa tradição centenária no seu 130o aniversário.
Participa das comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra em Porto Alegre, 20 de novembro.
É homenageado pela Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, na sua 4ª Conferência Nacional realizada em Brasília em 11 de dezembro, como personalidade destacada na história dos direitos humanos no Brasil.
Exposição Abdias do Nascimento: Vida e Arte de um Guerreiro, Centro Cultural José Bonifácio, Rio de Janeiro, inaugurada em dezembro.
2003. Discursa, na qualidade de convidado especial, na inauguração da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Brasília, 21 de março.
É homenageado pela Fala Preta! Organização de Mulheres Negras de São Paulo, como personalidade destacada na defesa dos direitos humanos dos afrodescendentes brasileiros, 22 de abril.
Publica em maio edição em fac-símile do jornal Quilombo (São Paulo: Editora 34).
Recebe o Diploma da Camélia, Campanha Ação Afirmativa/ Atitude Positiva, CEAP e Coalizão de ONGs pela Ação Afirmativa para Afrodescendentes, Rio de Janeiro, 17 de novembro.
Recebe o Prêmio Comemorativo das Nações Unidas por Serviços Relevantes em Direitos Humanos, Rio de Janeiro, 26 de novembro.
2004. No Seminário Internacional Políticas de Promoção Racial, recebe o Prêmio de Reconhecimento da Secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. Brasília, 21 de março de 2004.
Recebe homenagem da Presidência da República aos 90 anos "do maior expoente brasileiro na luta intransigente pelos direitos dos negros no combate à discriminação, ao preconceito e ao racismo". Brasília, 21 de março de 2004.
Recebe prêmio de Reconhecimento 10 Years of Freedom - South Africa 1994-2004, do Governo da África do Sul, abril de 2004.
Profere palestra "Memorial de Luta", no Seminário O Negro na República Brasileira: Pautas de Pesquisa, promovido pelo Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afro-Descendente da PUC-Rio, maio de 2004.
Participa do VII Congresso da BRASA, Associação de Estudos Brasileiros, na qualidade de homenageado no Painel sobre a sua vida e obra, realizado em sessão plenária do dia 10 de junho de 2004, na PUC-Rio.
Participa do Fórum Cultural Mundial, realizado em São Paulo em julho de 2004, como homenageado no painel Abdias Nascimento, um Brasileiro no Mundo, organizado pela SEPPIR, em que é lançado oficialmente o seu nome para o prêmio Nobel da Paz, ampliando a repercussão da indicação feita pelo Instituto de Advocacia Ambiental e Racial - IARA.

domingo, 22 de maio de 2011

Rap 2.0 - Blogs do Movimento: Faixa de Gazah

Data: 22/05/2011

Foto: divulgação
Foto: divulgação
Foto: divulgação
O topo do Blog Faixa de Gazah
Blog é vitrine para trabalhos que seguem o caminho do contraponto

Produzir o novo e construir pontes para a reflexão em meio ao turbilhão de ideias e padrões que levam os jovens ao individualismo. Este árduo trabalho é desenvolvido pelos responsáveis pelo blog/selo Faixa de Gazah. Na segunda entrevista da série Rap 2.0 – Blogs do Movimento, Fábio Emece, integrante do grupo Bandeira Negra e um dos fundadores do Faixa de Gazah, aborda temas espinhosos e assuntos que são evitados por muitos na cena hip-hop.

Central Hip-Hop (CHH): O blog Faixa de Gazah é um blog que divulga o hip-hop social e militante?
Fábio Emece: O Blog Faixa de Gazah existe para difundir as idéias do selo artistíco/fonográfico Faixa de Gazah, que engloba música, literatura, audiovisual, graffiti e fotografia. E qual seria a conceito do selo? O conceito é trabalhar com a beleza das áreas consideradas de exclusão. A área que a elite não quer, que o governo não quer, pode ser chamada de Faixa de Gazah. O nosso objetivo é exaltar a beleza em um lugar onde ninguém quer. Mostrar que da rachadura pode nascer uma flor e essa flor é maximizada através dos artistas oriundos desta área. Este é o objetivo máximo do blog que, aos poucos, está sendo incrementado com singles, fotos, vídeos, biografias dos artistas e discos para download. Atualmente, temos o single "Nas Ruas" de Felipe Alem, cujo disco Documentário de um Anti-Héroi sairá no dia 17 de julho, também um EP de instrumentais do Clovis Bate-Bola, além de um manifesto sobre o 13 de Maio, fora uns textos e fotos. Sobre divulgar o hip-hop social e militante, podemos dizer: o artista vai definir qual caminho a seguir, sendo que a beleza em um lugar caótico pode ser uma forma de militância bastante eficaz, sem precisar de um discurso previamente elaborado. Romper com a estética imposta, seja através das palavras, seja através da beleza, seja através do subjetivo, é o objetivo do Faixa de Gazah.

CHH:  Vocês tem uma equipe? Qual a rotina de trabalho do blog?
Fábio Emece: Não é exatamente uma equipe, mas alguns artistas se propõem a estar sempre atualizando o blog com conteúdo dentro do conceito proposto. Aos poucos o blog vai ser incrementado para ser referência para quem quiser conhecer os artistas ligados ao Faixa de Gazah e ter acesso ao material produzido.

CHH: Falta análise e crítica política na mídia alternativa do hip-hop?
Fábio Emece: Não penso que falte exatamente análise e crítica politica, o que eu penso é que falta uma estrutura maior de mapeamento do que está rolando nos quatro cantos do Brasil. Ainda existe um pequeno vício de mídia tradicional em elencar determinadas personagens como eles fossem o supra-sumo da produção do hip-hop brasileiro. Como eu falei, existe muita coisa interessante acontecendo, muita mesmo, mas passa batido, ninguém escuta, absorve ou não dá o devido valor. A crítica politica é aquilo, antes de mais nada, somos artistas funcionando em uma determinada esfera que nos permite, através da nossa arte, fazer uma análise profunda do meio em que vivemos. Mas não é uma obrigação da mídia alternativa em si. A mídia alternativa tem que dar voz a quem faz essa análise profunda, isso precisa ser feito.

CHH:  Parte do rap se preocupa mais em ser aceito ao invés de discutir as questões estruturais da desigualdade?

Fábio Emece: Ser aceito sempre é importante, mas o rap não deve ter essa pecha de discutir as questões estruturais da desigualdade. Não é um compromisso do rap em si. É um compromisso de um artista que se preocupa com isso e externa cantando rap. Até porque o rap é um estilo no qual se tem total amplitude para se falar sobre esse tipo de questão. Mas apenas se torna interessante porque tem alguém que consegue conduzir bem o discurso que ele se propôs a fazer. Eu penso que o rap, antes de mais nada, é a palavra criativa em movimento. Então, para se falar de amor, sexo, desigualdade, violência, revolução, o  artista tem que ser criativo. Talvez ser aceito não tenha relação direta com a criatividade, tenha mais haver com quem você se associa para difundir o seu trabalho. Eu acredito na veia militante do rap e tento fazer isso, mas não sou cientista social para discutir as questões estruturais da desigualdade. Sou apenas um jovem preto que acredita que pode contribuir para que um grupo de pessoas tenha acesso ao que produzo  e tenha uma reflexão crítica. Estou certo? Isso é ser aceito? Depende. Os caminhos são múltiplos e a aceitação sempre vai ser relativa. O que não podemos negar é que o embate de idéias é certo, seja qual caminho você seguir e sendo criativo no caminho no qual escolheu, alguém vai aceitar. Dedicação, trabalho e confiança. Cabe saber se você quer mudar o meio ou não.

CHH:  Quais artistas do hip-hop ainda carrega a veia politizada da cultura de rua?

Fábio Emece:  Acredito que isso não se perdeu de fato, pelo menos nos artistas que estão em evidência atualmente. Houve uma ampliação de temas, até devido ao que vivemos atualmente - a sociedade do "hipertexto" (risos).  Estamos sempre abrindo janelas e janelas, conectando informações, num verdadeiro balaio de gato, que não deixa de ser válido. Quando escuto "É necessário voltar ao começo", do Emicida, putz, percebo um exemplo criativo do que é militância. Projota,  com a música "64 linhas", também, e por aí vai. Posso citar um monte de artistas que não abandonaram a veia politizada da cultura de rua, uns radicais, outros nem tanto: Pertnaz, da Paraíba, Afronto, do Piauí, O Quadro, da Bahia, Davi Perez, de Florianópolis, Uafro, do ABC Paulista, Anti- Éticos e O Levante, da capital do Rio de Janeiro . Marcão Baixada, Leo da XIII e Dudu de Morro Agudo, da Baixada Fluminense, Thiago El Niño, de Volta Redonda. São muitos artitas. Só estou querendo dizer que a frase "ainda carrega" é equívocada, pois a veia politizada está longe de ser abandonada. O que podemos sentir no momento é que alguns andam optando por um discurso radicalizado. É uma vertente válida.

CHH: Quais são as novas faces do capitalismo?
Fábio Emece: Rapaz, como eu disse, nem sou um cientista político e nem social (risos). Vamos tentar responder. Temos o capital especulativo, o dinheiro que não existe, não é palpável, que transita pelos bytes afora e que define os rumos de países, estipulando como se elaboram políticas públicas. As bolsas de valores e seu poder de deixar com fome quem nunca passou fome e quem está com fome, com mais fome. Wall Street e seus banqueiros controlando PIB mundial. Podemos apontar também o aprofundamento da sociedade do espetáculo com sua mediação pautada da superficialidade das imagens. Não sabemos o que  é mais o ser humano. Há uma proposta de abandono das relações sensíveis em detrimento de imagens pré-moldadas de algo que o ser humano em sua capacidade física e mental, não chega nem perto. O “pão e circo” também se aprofunda com os heróis que caem a cada confissão de não perfeição e com eles caem seus milhares de seguidores ávidos por exemplos de ações perfeitas. Qual é o melhor lutador, o melhor rapper, o melhor músico, o homem mais gostoso, a mulher mais gostosa, o cara mais legal, o disco do ano e por aí vai. Quem define isso tudo? Meia dúzia de pessoas que nós legitimamos  e o que acontece que a maioria está longe de ter acesso ao que é produzido objetivamente na sociedade. Uma merda né?

CHH: Parte do rap aceita e reproduz o preconceito e as formas dominação?
Fábio Emece: Bem, quem faz rap está inserido na sociedade e essa sociedade está intimamente relacionada com o preconceito que define as formas de dominação, então é compreensível que o rap aceite e reproduza isso. Não significa que isso seja aceitável no ponto de vista de quem quer mudar algo, até porque  o rap é um ótimo instrumento revolucionário, mas ele não precisa ser revolucionário. Quem dá o tom revolucionário ao rap é o artista que conduz a música, com sua levada, técnica e letra. Veremos raps com veia sexista, homofóbica, reproduzindo valores da classe dominante, isso veremos. Mas também veremos o contraponto. É  isso que torna o rap uma música válida de ser ouvida absorvida. Qual caminho escolher? Eu escolho o caminho do contraponto.

CHH: Geralmente, os mais jovens se afastam do tom professoral e superior que o hip-hop militante impõe. Como mudar esta situação e se aproximar da juventude?

Fábio Emece: Não acredito que esse é o tom do hip-hop militante: professoral e superior. Professoral porque tenta explica detalhadamente qual seria o problema? E superior por que? Por causa do conhecimento exposto ou por achar que esse seria o único caminho aceitável? Bom, pode existir uma tendência do rap em ser professoral e superior, seja qual vertente for. Em algumas vertentes funcionam e aproximam a juventude, até porque o tom professoral e superior vem carregado com uma pitada de valores do capital. Se aproximar da juventude usando o rap é um desafio no qual não tenho uma resposta pronta para te dar, só sei que o rap é uma música complexa por estar trabalhando com uma sequência de palavras que juntas produzem um efeito impactante, que é o efeito usado de acordo com a maneira que o MC ou a MC se desenvolve. Não é qualquer um que vai entender o que está sendo falado e isso é menos culpa do MC do que outra coisa. Somos um país de iletrados que acredita que a palavra elaborada pode mudar algo. Quem realmente a gente pode atingir e quem a gente atinge, pode ter forças para mudar alguma coisa? Eu não tenho essa resposta, estou olho do furacão.

CHH: Muitos falam sobre uma economia solidária que se distancie dos moldes capitalistas. O hip-hop pode contribuir para essa economia solidária?

Fábio Emece:  A economia é uma ciência criada para manusear o capital, então a economia solidária é um engodo. Como ser economicamente solidário? Pensar que isso vai se distanciar dos moldes capitalistas seria um paradoxo. Ou seja, o hip-hop pode contribuir para essa economia solidária, mas somente para que mais meia dúzia de pessoas tenha recursos para produzir alguma coisa. Sempre alguém será excluído do processo, pois a economia é a ciência da exclusão, porque o capital é a forma relacional de exclusão e o termo solidário é um termo apenas para amenizar essa exclusão. Precisamos de recursos objetivos para a produção que fuja dos moldes capitalistas, mas não vai ser com a economia solidária, não vai mesmo.

Pela Web
faixadegazah.blogspot.com
soundcloud.com/faixadegazah
myspace.com/abandeiranegra
soundcloud.com/clovisbatebola
myspace.com/alemfelipe
twitter.com/fabioemece


Por: DJ Cortecertu 

Fonte: Central Hip Hop 

sábado, 21 de maio de 2011

"Para que haja paz, Israel precisa reconhecer dor palestina"

Chegou o tempo de remover o abcesso e de arejar o ferimento. Não estamos falando em parar a roda da história, no retorno de milhões e no fim do Estado de Israel, como a direita está tentando nos amedrontar para acreditar. Estamos talando de entendimento do outro lado e da garantia de alguns de suas expectativas – aceitar a responsabilidade moral por 1948, uma solução para o problema dos refugiados e, é claro, o mínimo dos mínimos, as fronteiras de 1967. Quem ainda não entendeu isso está convidado a dedicar mais tempo ao assunto e ver como isso é benéfico para nós e para eles. O artigo é de Gideon Levy.

Vejam o que algumas centenas de militantes podem fazer num dia: 1948 está na agenda. A quebra da cerca nas Colinas de Golã foi o suficiente para romper uma cerca muito mais antiga e complexa, trazendo 1948 ao centro da discussão política.

Ainda estávamos estragando tudo e nos enganando até a morte a respeito de 1967 – o Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu pronunciaria as palavras “fronteiras de 1967” como se fizesse alguma diferença o que ele diz. Ainda estávamos nos enganando que o mal vindo do norte, que na verdade pode ser bom, está se aproximando, e a discussão de repente mudou de direção. Netanyahu, que está bastante ciente da situação, está se fazendo de mudo: ele toma para si a responsabilidade pelo estado das coisas, juntamente a todos os seus predecessores.

É assim que acontece quando se adia as coisas, faz pouco caso e engana, quando você pensa que a inação é a solução, quando você se mantém indolente frente à decisão de pôr um fim à ocupação. Depois de 44 anos de dominação militar cujo fim não está à vista, depois de um punhado de migalhas em Oslo que não melhorou a situação dos palestinos, os planos de paz que acumulam poeira nas gavetas são falas vazias e inumeráveis, sem levar a cabo uma só ação corajosa, salvo a evacuação da Faixa de Gaza, o gênio está fora da lâmpada.

Todos os que não quiseram 1967 agora estão levando 1947. Todos os que não quiseram evacuar os assentamentos de Ariel agora serão forçados a discutir Carmiel. Os que não quiseram um compromisso histórico agora estão com o portfólio de 1948 nas suas portas de entrada. A direita está eufórica, não está claro a respeito de quê, a esquerda há muito que está morta e a caravana segue adiante, deixando Israel numa situação que se deteriora dia após dia.

1948 recebeu o enterro de um jumento em Israel [Jeremias, 22:19]; nunca houve uma genuína discussão pública a esse respeito aqui, mas seu espírito nunca morreu, nem por um minuto, na Palestina e na diáspora palestina. Seus sobreviventes, os refugiados e seus netos carregam sua memória e sua dor até hoje, assim como os judeus carregam suas próprias memórias e dor. Isso deveria ter sido reconhecido há muito tempo atrás. É nesse sentido que realmente apreciamos o comportamento dos militantes da Síria: eles lembraram aos israelenses de acontecimentos esquecidos.

Podemos prendê-los e interrogá-los o quanto quisermos, mas o olhar dos jovens palestinos da Síria que chegaram a Jaffa para visitar seus lares ancestrais foi uma visão extremamente impressionante da história do conflito. Pode ser que agora nós comecemos a entender suas raízes e soluções. Pode ser que comecemos a entender que, para o povo palestino, as fronteiras de 1967 são a mãe de todos os acordos e concessões, uma aceitação muitíssimo mais dolorosa para eles do que para nós. Não apenas porque significa desistir de três quartos de seu país, mas principalmente desistir de anseios e desejos.

Durante anos, palestinos e seus líderes estiveram prontos para concessões. Quando começaram a se desesperar, depois de todos esses anos escandalosos de estagnação, sua demanda voltou à tona com força total. O presidente palestino Mahmoud Abbas, o maior dos transigentes, jamais teria publicado o artigo recente no New York Times, em que discute a narrativa histórica palestina, tivéssemos implementando um acordo. Agora os americanos sabem o que acontece quando não fazem nada. Agora um anúncio vazio do gabinete do primeiro ministro de que Israel está comprometido com a solução de dois estados não é mais suficiente. Está “comprometido” exatamente com o quê? E o que fez para implementar essa solução? Só mais e mais assentamentos.

É difícil exagerar a importância da mudança que está tomando lugar diante de nossos olhos arregalados, que estiveram bem fechados todos esses anos. Os territórios ainda estão longe de serem evacuados, a terceira intifada não está para começar, ainda, e Netanyahu está confortavelmente sentado na sua cadeira, jogando com o tempo com palavras fazias e fórmulas ocas. Mas a partir de agora Israel, inclusive seu primeiro ministro, será forçado a entender que toda solução deve estar atenta aos anseios do outro lado do conflito.

Chegou o tempo de remover o abcesso e de arejar o ferimento. Não estamos falando em parar a roda da história, no retorno de milhões e no fim do Estado de Israel, como a direita está tentando nos amedrontar para acreditar. Estamos talando de entendimento do outro lado e da garantia de alguns de suas expectativas – aceitar a responsabilidade moral por 1948, uma solução para o problema dos refugiados e, é claro, o mínimo dos mínimos, as fronteiras de 1967. Quem ainda não entendeu isso está convidado a dedicar mais tempo ao assunto e ver como isso é benéfico para nós e para eles.

Tradução: Katarina Peixoto

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Milhares de manifestantes ocupam o centro de Madri

Milhares de pessoas reuniram-se esta terça-feira na Puerta del Sol, em Madri, em protesto contra as medidas de austeridade. Os manifestantes pretendem ocupar as ruas até o próximo 22 de maio, dia das eleições autônomas e municipais. As redes sociais têm ajudado a mobilizar milhares de pessoas em diversas cidades da Espanha, em um movimento conhecido inicialmente como “os indignados” e que recentemente ganhou o nome de "15M". O movimento tem invadido as ruas e as redes sociais em defesa de mudanças na economia e na condução política do país.

Mais de 10 mil pessoas, de várias idades, responderam terça-feira a um apelo feito em redes sociais e concentraram-se na Puerta del Sol, em Madrid, em protesto contra a crise econômica e as políticas anti-sociais implementadas pelo governo espanhol. Segundo o jornal El Mundo, às duas da madrugada, mais de 2000 pessoas permaneciam no local. O objetivo é manter este acampamento improvisado até 22 de maio, dia das eleições autônomas e municipais.

Segundo noticiou o El Pais, foi estabelecida uma rede de voluntários de forma a apoiar os manifestantes. Foram criadas cinco comissões: alimentação, comunicação, infra-estrutura e actividades, e aconselhamento jurídico.

Mais de 300 polícias cercaram a Praça e controlam as ruas adjacentes.

Em Granada, três pessoas foram detidas após a polícia ter dispersado os manifestantes que se preparavam para pernoitar no Paseo del Sálon. Os detidos são acusados de “resistência à autoridade”, acusação que negam. Durante a noite de hoje, os manifestantes voltarão a concentrar-se em Granada, na Plaza del Carmen. Para Sevilha está marcada uma concentração de duração indefinida a partir de quinta-feira.

No domingo, 18 pessoas foram presas durante os protestos convocados para mais de 50 cidades espanholas. Na segunda-feira, a polícia espanhola prendeu mais um manifestante que se preparava para acampar na Puerta del Sol, em Madrid. Cinco pessoas, menores de idade, continuam detidas, segundo divulga o El Pais.

Os representantes da Plataforma Democracia Real ya!, que convocou os protestos do domingo passado, dia 15 de Maio, afirmam que, neste momento, são os próprios cidadãos que organizam estas ações.

Redes sociais ajudam espanhois a protestar contra a crise

Por PC World - Espanha

As redes sociais têm ajudado a mobilizar milhares de pessoas em diversas cidades da Espanha, em um movimento conhecido inicialmente como “os indignados” e que recentemente ganhou o nome de "15M". O movimento tem invadido as ruas – e as redes sociais, sob hashtags como #democraciarealya e #nolesvotes.

Milhares de pessoas têm-se mobilizado por toda a Espanha para reivindicar mudanças, principalmente no nível político, em antecipação às eleições regionais e locais marcadas para domingo (22/5). A praça Puerta Del Sol, em Madri, tornou-se o marco zero para este protesto específico, e as redes sociais (lideradas pelo Twitter) mobilizam centenas de cidadãos em vários tipos de protestos e manifestações.

Como ocorreu em outros países, centenas de espanhóis têm tomado as ruas em protesto contra a situação política, econômica e social existente no país. Sem um líder claro, este grupo difuso e indefinido tem sido formado por milhares de pessoas para protestar contra os políticos e pedir mudanças.

Lei Sinde
O movimento formou-se em torno da oposição à chamada Lei Sinde, que vai regulamentar os downloads de Internet na Espanha. A oposição das pessoas a essa regulamentação gerou a hashtag #nolesvotes, que convocava os cidadãos a não votar em partidos políticos que apoiam esta iniciativa: PSOE (no governo), PP (principal partido da oposição) e CiU (o partido catalão). Enrique Dans, professor do Instituto de Empresa e forte defensor do movimento, explicou a filosofia da iniciativa em seu blog.

Esta iniciativa, aliada à crise econômica espanhola (que já levou o Fundo Monetário Internacional e outros órgãos a advertir sobre uma “geração perdida”), e o impacto de manifestações semelhantes em outros países e nas redes sociais têm dado origem aos protestos nas cidades espanholas.

A plataforma DemocraciaRealYa (http://democraciarealya.es) convocou para uma manifestação em várias cidades em 15 de maio. Em Madri, a reunião levou a confrontos com a polícia, levou o grupo às primeiras páginas dos jornais locais e culminou com a decisão de algumas dezenas de pessoas de acampar na praça Puerta del Sol como forma de protesto.

A DemocraciaRealYa afirma ser um movimento que é “apartidário, forjado no calor da Internet e das redes sociais e que tem como único propósito promover uma discussão aberta entre aqueles que desejam se envolver na preparação e na coordenação de ações conjuntas.”

Na noite de segunda-feira (16/5), a polícia tentou desmontar o acampamento que os “indignados” montaram na praça Puerta del Sol. O YouTube está repleto de vídeos da ação policial e os usuários das redes sociais têm expressado sua oposição em relação ao que tem ocorrido.

Desde então, centenas de hashtags apareceram nas mensagens do Twitter, incluindo #spanishrevolution, #acampadasol, #yeswecamp e #nonosvamos.

Embora Madri esteja atraindo a maior parte da atenção, os acampamentos de protesto têm sido organizados em outras cidades na Espanha. Muitos deles são retratados em blog. (Arantxa Herranz)

Foto: Segundo noticiou o El Mundo, às duas da madrugada, permaneciam na Puerta del Sol, em Madrid, mais de 2000 pessoas. Foto de EPA/Pablo Talamanca

As informações são do portal Esquerda.net e do PCWorld/Espanha

domingo, 15 de maio de 2011

Marcha contra Wall Street reúne milhares em Nova York

Cerca de 10 mil pessoas participaram, quinta-feira, de um protesto nas imediações do coração do mundo financiero: a Bolsa de Valores de Nova York. Os manifestantes marcharam pelas ruas da cidade para exigir que os bancos e os empresarios ricos paguem os custos da crise econômica que eles causaram, e não os trabalhadores que enfrentam uma onda de demissões e um ataque político em nível nacional contra seus direitos trabalhistas.Um grupo de professores que participou da manifestação garantiu: “esta é a última vez que nos comportamos bem; na próxima, tomaremos a cidade”. O artigo é de David Brooks, do La Jornada.

Nova York, 12 de maio“Fuck Wall Street”, gritava hoje um manifestante ao marchar pela área, enquanto que a polícia impedia que milhares de professores, funcionários públicos, de manutenção e de vários setores de serviços, imigrantes, estudantes e ativistas comunitários se aproximassem do monumento do mundo financeiro: a Bolsa de Valores de Nova York.

Os manifestantes – mais de 10 mil segundo alguns cálculos – marcharam pelas ruas ao redor do setor financeiro e político desta cidade para exigir que os bancos e os empresários ricos paguem os custos da crise econômica que eles mesmos detonaram, e não os trabalhadores que enfrentam uma onda de demissões e um ataque político em nível nacional contra seus direitos trabalhistas.

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, quer demitir mais de 5 mil professores, fechar várias estações de bombeiros, reduzir serviços para crianças e programas para habitantes da terceira idade, entre outras medidas para equilibrar o orçamento. Por outro lado, nega-se terminantemente a aumentar os impostos para os ricos, sobretudo para o setor financeiro, com o argumento de que isso teria um efeito negativo na economia.

Mais emprego e mais serviços públicos
"Ouça, Bloomberg, o que diz disso? Quantos cortes ordenaste hoje?", gritava uma parte da marcha enquanto outros caminhavam desde vários pontos para deixar quase cercada a famosa rua de Wall Street. Acompanhados por bandas de metais e tambores, gritavam palavras de ordem contra a avareza empresarial e carregavam cartazes com demandas de emprego, escolas, serviços públicos e que os ricos paguem pelo desastre que criaram. “Nós pagamos impostos. Por que vocês não pagam?” – gritavam ao passar na frente de luxuosos edifícios. Poucos antes de partir, um contingente de professores advertiu entre aplausos e gritos: “esta é a última vez que nos comportamos bem; na próxima, tomaremos a cidade”.

Os governos em nível municipal, estadual e federal estão aplicando a mesma receita de austeridade por todo o país, acompanhada de um ataque feroz contra os sindicatos e, em alguns casos, contra os imigrantes. A história é a mesma: para resolver o déficit orçamentário provocado pela pior crise financeira e econômica desde a Grande Depressão, a decisão política é repassar o custo para os trabalhadores.

Ao mesmo tempo, os executivos e suas empresas desfrutam de uma prosperidade sem precedentes. O Wall Street Journal reportou que a remuneração para os principais executivos das 350 maiores empresas do país aumentou 11% e, em valor médio, chega a 9,3 milhões de dólares, um prêmio por seu grande trabalho em reduzir custos e elevar os rendimentos de suas empresas. Os líderes em receita são Phillipe Dauman, da Viacom, com 84,3 milhões de dólares anuais, seguido por Lawrence Ellison, da Oracle, com 68,6 milhões de dólares, e Leslie Monnves, da CBS, com 53,9 milhões de dólares.

Essa receita econômica é acompanhada de uma feroz ofensiva política contra trabalhadores e seus sindicatos. Forças conservadoras, tanto no âmbito político como no empresarial, promovem medidas com o propósito explícito de destruir sindicatos, em particular os do setor público. Iniciativas neste sentido foram promovidas em estados como Wisconsin, Michigan, Indiana e Ohio, entre outros, onde além de propor reduções de salários e direitos dos trabalhadores, incluem-se medidas para anular os direitos de negociação de contratos coletivos.

Dois estados, New Hampshire e Missouri, promoveram projetos de lei para somar-se aos 22 estados que têm leis com o nome orwelliano de “direito a trabalhar”, que, na verdade, limitam severamente a sindicalização ao permitir que os trabalhadores optem por não se filiar a sindicatos estabelecidos no setor privado. No total, 18 estados impulsionaram esse tipo de iniciativa somente no último ano, todos com a justificativa de que são necessárias para diminuir o déficit e quase todas promovidas por legisladores ou governadores republicanos, relatou ainda o Wall Street Journal.

As leis têm o objetivo de debilitar o poder político dos sindicatos que costumam apoiar o Partido Democrata e iniciativas liberais no país.
Isso levou a uma rebelião que reuniu centenas de milhares de trabalhadores em Wisconsin no início do ano, a qual se somaram estudantes, agricultores, imigrantes e organizações comunitárias que, durante várias semanas, tomaram o Capitólio doestado como parte de uma mobilização popular que gerou esperança neste país, e que muitos – incluindo os manifestantes – compararam com o que estava ocorrendo no Egito.

“Protesta como um egípcio”, foi uma das consignas da mobilização.
“Estamos com Wisconsin”, lia-se em cartazes e ouvia-se nas palavras de ordem nesta quinta-feira em Nova York. Do mesmo modo, surgiram expressões de resistência em Michigan, Ohio e Indiana contra medidas para debilitar os sindicatos.

Na Califórnia, os professores da California Teachers Association lançaram esta semana um movimento chamado Estado de Emergência para pressionar os legisladores a por fim aos cortes na educação. O sistema educacional sofreu cortes de 20 bilhões de dólares em três anos e 30 mil professores foram demitidos neste Estado.

Esta semana uma funcionária federal que está por ser demitida enfrentou o
presidente Barack Obama em um fórum transmitido pela televisão e perguntou-lhe o que faria se estivesse em seu lugar. Obama respondeu que é um momento difícil e tentou dar explicações, mas não conseguiu responder a pergunta.

Noam Chomsky escreve que o que está ocorrendo nos Estados Unidos é parte de uma guerra entre Estado e corporações contra os sindicatos, que está sendo travada em nível mundial deixando os trabalhadores em uma condição de precariedade como resultado de programas de enfraquecimento dos sindicatos, flexibilização e desregulação.

Mas os manifestantes de Nova York, nesta quinta-feira, também falaram do surgimento de uma resposta de resistência e rebelião que, embora ainda não seja massiva, vem ganhando pouco a pouco dimensões surpreendentes. Tom Morelli, ex-integrante de Rage Agains the Machine (banda hardrock dos EUA, uma das mais influentes e polêmicas da década de 1990), afirmou que os sindicatos são um contraponto crucial contra a cobiça empresarial que afundou a economia e ameaça o meio ambiente e o futuro.

Depois de participar das mobilizações de trabalhadores na capital de Wisconsin, disse que, de Cairo a Madison, os trabalhadores estão resistindo e os tiranos estão caindo, e apresentou uma nova canção que, segundo ele, é uma trilha sonora para a luta nos EUA. A letra afirma: este é uma cidade dos sindicatos/mantenham a linha; se vocês vierem retirar nossos direitos/vamos enchê-los de porrada.

Tradução: Katarina Peixoto

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Amenizando os Efeitos... Autopreconceito?


Por Fábio Emecê

Bem, lendo a última coluna do Anderson Macleyves, publicado no jornal “O Completo” e de inúmeras colocações expostas, o termo “Autopreconceito” realmente me incomodou. Incomodou a tal ponto de eu me propor a elucidar os argumentos colocados a partir da visão de um militante.
Para começar, o racismo não é um sentimento, não é algo que brota de dentro da pessoa. É uma teoria ideológica com viés político, tendo como base os impulsos imperialistas das nações européias. É a ideia de que com um biotipo x que produz cultura y é superior aos demais biotipos e culturas.
O conceito de raça tomou corpo a partir de 1800, tendo como base as incursões dos europeus em África. Para justificar a dominação do ponto de vista científico, foram elaborados teses a partir do tamanho do crânio, sangue, comparação de culturas e cor da pele.
Evocando Deus ou a ciência, o europeu tentava justificar a usurpação das riquezas, a matança indiscriminada, a escravização e comércio dos africanos. O racionalismo europeu fervia com suas teses que diziam que os negros eram inocentes, sensuais, primitivos, com baixa capacidade intelectual, sem alma, fisicamente propensos ao trabalho compulsório e sexualmente desregrados.
Ah, o Brasil aboliu a escravatura, certo? Em 1888 na capital do Império, em uma população de mais ou menos 200 mil negros, apenas 5 mil eram escravos. Sem contar que a mão de obra especializada ou não, eram feitas em sua maioria por negros. De carregadores de fezes a tipógrafos.
Bondade de Isabel então? A Inglaterra pressionou por causa da expansão de mercado e outra, a elite brasileira estava com medo de que o Brasil se torna-se um novo Haiti, ainda mais com os constantes levantes e saques as fazendas.
Vale ressaltar que o escravo que era classificado como objeto, mercadoria e abolição traria o ônus da humanização para o Estado Brasileiro. Houve esforços para garantir essa humanização?
Vamos tentar entender os argumentos do Macleyves, primeiro com relação ao casamento inter-racial e o cabelo afro x alisamento.
Entender esse processo é entender as relações de dominação. Se temos um grupo com um biotipo e cultura dominantes, para que esse domínio tenha êxito, o dominado tem que acreditar no ideal de biotipo e cultura. Escolher uma loira ou alisar o cabelo pode ser considerado uma tentativa de adesão a cultura dominante.
Uma questão: questionar a escolha afetiva ou estética passa a ter sentido quando você faz parte de um movimento de reinvidicação ou não?
Com relação aos negros ricos não falarem com negros pobres. Ora, os ricos brasileiros não são caracterizados como pessoas que andam, frequentam, dialogam e casam com pobres. Nem em novela isso rola. Se tivesse essa parcimônia toda, o Brasil não seria campeão em carros blindados, muito menos não existiriam condomínios com muros altos, câmeras e cercas elétricas. Questionamento chulo, diria.
Com relação as cotas e acões afirmativas, sabe qual foi a primeira grande ação afirmativa do Estado Brasileiro? Trazer imigrantes europeus para ocupar a suposta carência de mão de obra pós abolição. A mão de obra especializada já existia, afinal os negros trabalhavam em todas as esferas. Ah, sabe com que recursos trouxeram os europeus? Com a cota de impostos que os traficantes de escravos pagavam ao Império.
Por que o espanto com relação as ações afirmativas? Para me mostrar capaz, tenho que ter espaço e quando o Estado Brasileiro acena para essa possibilidade de garantia de espaço, não pode porque demonstra que os negros são incapazes. Sem espaço que somos incapazes, cara pálida.
Em um momento histórico de embate, seja de classes, ideológico, de forças, em uma estrutura que não há garantias de direitos básicos, o movimento reivindicatório é mais do que legitímo. Em um país de origem escravocrata, de formação republicana pautada no racionalismo europeu, ter um movimento negro é no mínimo plausível.
A questão da desigualdade social x desigualdade racial, o que me incomoda é os termos não são opostos, pelo menos em países de origem escravocrata, não o são. Os antigos escravos e seus descendentes automaticamente são pobres e miseráveis em um Estado que nunca se preocupou em inseri-los ao acesso dos recursos materias produzidos. Alías, a imigração européia justamente retirou os negros dos postos de trabalho e o termo vadiagem, só para se ter uma noção foi usado a partir do momento em que os negros estão sem emprego, sem moradia, sem utilidade. E o que foi sedimentado para controlar esses negros? A Polícia Militar.
Os negros deixando de ser pobres e miseráveis, o racismo acaba? Lembro do relato do Professor Doutor Joel Rufino dos Santos, que apesar de sua graduação, ainda olhavam para ele como o ser potente sexual, sexualmente desregrado.
Existe um esforço separatista por parte dos negros militantes? O chamado “Autopreconceito”. Dizer isso em uma sociedade racista é a lógica de dizer que o oprimido é culpado pela violência do opressor pelo simples fato de estar no lugar errado, na hora errada.
Ter igualdade, paz e união é um anseio da humanidade, mas temos que ter acumulo teórico e prático para entender que estamos bem longe das flores e admitir isso é o processo histórico e ideológico no qual estamos inseridos.
Estamos aqui para combater, para questionar e se libertar de todas as formas de opressão. O combate ao racismo está na pauta. Está...

terça-feira, 10 de maio de 2011

As 10 transnacionais secretas que controlam as matérias primas

Como é possível que no século 21 ainda existam empresas "secretas" e/ou piratas, que se dão ao luxo de não ter ações nas bolsas de valores, mas que gozam de todas as vantagens do "livre mercado", incluindo operações suspeitas em paraísos fiscais. Pode manter-se "secreta" a atividade dessas dez transnacionais "gigantes" que controlam os alimentos e a energia, usados como "armas de destruição maciça" contra a maioria do gênero humano? O jornal The Daily Telegraph revelou a identidade oculta das principais 10 transacionadoras globais de petróleo e matérias primas. O artigo é de Alfredo Jalife-Rahme.

Antecedentes: Zheng Fengtian, professor da Escola de Economia Agrária da Universidade Renmin, na China (Global Times, 13/4/11), fustiga "o monopólio dos cereais que o Ocidente exerce" e a "manipulação deliberada dos preços pelos especuladores internacionais" graças à desregulação de que gozam em Wall Street e na City, assim como nos paraísos fiscais (nomeadamente a Suíça): "não podemos depender apenas dos Estados Unidos (EUA) para resolver a crise alimentar global" nem das "quatro (sic) gigantes (sic) transnacionais".

Não especifica quais, mas os leitores podem consultar os meus artigos sobre o "cartel anglo-saxão da guerra alimentar" e o seu "meganegócio" (Radar Geopolítico; Contralínea, 30/1/11). Fengtian adota a velha tese de Bajo la Lupa sobre a "guerra alimentar" que trava Washington para submeter o mundo: "no passado (sic), os EUA aproveitaram as vantagens do seu papel dominante no mercado global de alimentos para adotá-los como arma (¡supersic!) política".

Atos: O mundo anglo-saxão cacareja vaziamente sobre a transparência e a prestação de contas, enquanto oculta simultaneamente as suas "10 gigantes (sic) transnacionais secretas (¡supersic!)" que "controlam a comercialização dos hidrocarbonetos e das matérias primas", segundo The Daily Telegraph (15/4/11). Como se não bastassem as depredadoras transnacionais (BP, Tepco, Schlumberger/Transocean, etc.) que estabelecem suas cotações desapiedadamente na bolsa!

Para além dos tenebrosos grupos da plutocracia – como o grupo texano Carlyle (ligado ao nepotismo dos Bush) e o inimputável Blackstone Group (controlado por Peter G. Petersen e Stephen A. Schwarzman, cujas façanhas remontam ao macabro recebimento dos seguros das Torres Gémeas do 11/9) – The Daily Telegraph revela a identidade oculta das "principais 10 transacionadoras globais de petróleo e matérias primas":

1. Vitol Group: sede em Genebra e Roterdan, com resultados de 195 mil milhões de dólares na comercialização de hidrocarbonetos; a primeira petrolífera a exportar com pontualidade da região controlada pelos rebeldes na Líbia.

2. Glencore Intl.: sede em Baar (Suíça), com resultados por 145 bilhões de dólares em metais, minerais, produtos agrícolas e de energia; fundada pelo israelo-belga-espanhol Marc Rich; acusada pela CIA (¡supersic!) de subornar governantes; controla 34 por cento da mineira global suíço-britânica Xstrata; apostou na subida do trigo durante a seca russa (The Financial Times, 24/4/11); o banqueiro Nat Rothschild "recomendou" o seu polêmico novo director Simon Murray (The Daily Telegraph, 23/4/11); destaca a circularidade financeira do binômio Rotshchild-Rich.

3. Cargill: sede em Minneapolis, Minnesota, com resultados por 108 bilhões de dólares em agronegócios, carnes, biocombustíveis, aço e sal; severamente criticada pela desflorestação, contaminação de todo o gênero (incluindo a alimentar) e abusos contra os direitos humanos.

4. Koch Industries: sede em Wichita, Kansas, com resultados por 100 bilhões de dólares em refinação e transporte de petróleo, petroquímicos, papel, etc.; empresa familiar (a segunda mais importante nos EUA depois da Cargill) manejada pelos irmãos ultraconservadores David e Charles Koch, que financiam o Tea Party.

5. Trafigura: sede em Genebra, com resultados por 79,200 bilhões de dólares em petróleo cru, comercialização de metais; depredadora tóxica em África; provém da separação de várias empresas do israelo-belga-espanhol Marc Rich.

6. Gunvor Intl.: sede em Amsterdã e Genebra, com resultados por 65 bilhões de dólares em petróleo, eletricidade e carvão.

7. Archer Daniels Midland Co.: sede em Decatur, Illinois, com resultados por 62 bilhões de dólares em milho, trigo, cacau; listada na Bolsa de Nova Iorque; atuação escandalosa e processada por contaminação reiterada; beneficiou com os subsídios agrícolas do governo dos EUA.

8. Noble Group: sede em Hong Kong, com resultados por 56 700 bilhões de dólares em açúcar brasileiro e carvão australiano; sólidos laços com a HSBC e a polêmica empresa contabilística Pricewaterhouse Coopers; cotada no Índice Strait Times (Singapura).

9. Mercuria Energy Group: sede em Genebra, com resultados de 46 bilhões de dólares em petróleo e gás.

10. Bunge: sede em White Plains, Nova Iorque, com resultados de 45,7 bilhões de dólares em cereais, soja, açúcar, etanol e fertilizantes; multada nos EUA por emissões contaminantes.

The Daily Telegraph adiciona surpreendentemente como "menção especial" a Phibro, hoje subsidiária da Occidental Petroleum Corporation (Oxy): sede em Westport (Connecticut), com 10 por cento dos resultados do banco Citigroup em 2007 em petróleo, gás, metais e cereais, onde iniciou a sua "aprendizagem" o israelo-belga-espanhol Marc Rich.

Das 11 transnacionais piratas, cinco pertencem aos EUA, três à Suíça (notável paraíso fiscal bancário), duas são suíço-holandesas e uma é de Hong Kong (ligada à Grã-Bretanha). Se as 11 fossem cotadas na bolsa colocar-se-iam da posição sete até à 156 na classificação da Fortune Global 500. Sem penetrar na genealogia dos seus testa-de-ferro e verdadeiros donos, destaca-se a nefasta sombra do israelo-belga-espanhol Marc Rich em três empresas piratas: Glencore Intl., Trafigura e Phibro.

O israelo-belga-espanhol Marc Rich merece uma menção honrosa e com uma biografia mafiosa revela quiçá uma das razões do hermetismo das "gigantes" transnacionais que não estão cotadas nas bolsas e que movimentam nocivamente verdadeiras fortunas sem o menor escrutínio governamental ou cidadão. Será mera causalidade que Rich apareça em três das "secretas" 11 empresas "gigantes" que especulam na penumbra com os preços dos alimentos, hidrocarbonetos e metais?

Marc Rich, perseguido por evasão fiscal nos EUA (logo perdoado, polemicamente, por Clinton), foi denunciado como "espião da Mossad israelense" (Niles Latham, New York Post, 5/2/01) e "lavador de dinheiro" das mafias (The Washington Times, 21/6/02).

O investigador William Engdahl expôs há 15 anos "a rede financeira secreta (¡supersic!)" por trás dos banqueiros escravagistas Rothschild, o megaespeculador "filantropo" George Soros e Marc Rich. Cada vez se afirma mais o papel determinante de Israel na lavagem de dinheiro global (ver Bajo la Lupa, 20/4/11).

Conclusão: Como pode uma transnacional "gigante" passar sem ser detectada na época da antiterrorista "segurança interna"? Será possível que no século 21 ainda existam empresas "secretas" e/ou piratas, que se dão ao luxo de não se cotar nas bolsas, mas que gozam de todas as vantagens do "livre mercado", incluindo operações suspeitas em paraísos fiscais.

São "gigantes secretos" e/ou "clandestinos" tolerados pelo sistema anglo-saxão e seus mafiosos paraísos fiscais? Pode manter-se "secreta" a atividade dessas transnacionais "gigantes" que controlam os alimentos e a energia, usados como "armas de destruição maciça" contra a maioria do gênero humano?

(*) Tradução de Paula Sequeiros para o Esquerda.net