sábado, 31 de dezembro de 2011

Para ir 2012 refletindo!

2012 chega e os embates continuarão: Vamos refletir, pois seremos alvo!




quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

TEENAGE RIOT: ATENAS

* Ajustem a legenda para o português



terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Cláudia Leitte e a síndrome das sinhazinhas baianas e brasileiras

O Caso NêgaLôra – Cláudia Leitte
claudia leite nega lora

Por: Guellwaar Adún, no Correio Nagô

• Algumas situações me convencem de que todas as áreas do conhecimento deveriam incluir a semiótica em seus cursos.
Reparem o que vou dizer e vejam se estou completamente equivocado ou se ao menos ventilo outra possibilidade de encarar essa estratégia de marketing recorrente, entre muitos/as artistas brancos/as do mundo inteiro.
O racismo não se estrutura apenas economicamente. Ousaria dizer que o racismo se sustenta, sobretudo, semioticamente, e daí se retroalimenta em todos os outros campos da vida em sociedade, como um vírus mutante.
Por exemplo: A Sra. Milk, nessa campanha, não se apropria apenas de signos ou ícones da cultura Negra, à exemplo de indumentárias, musicalidades, danças e ritmos da mulher Negra brasileira. Seus publicitários foram muito mais competentes que isso. Nessa campanha, que evoca a ultrapassada e supostamente insustentável tese da democracia racial, a apresentam como a "Mulher Negra" em si; portanto, trata-se da constituição de um índice. Do ponto de vista simbólico isso é muita coisa. A Claudia Leite agora é a NêgaLôra da Bahia.
Me fez lembrar as novelas antigas citadas na Negação do Brasil de Joel Zito Araújo, o famoso Pai Thomás dentre tantos outros personagens negros que eram representados por atores brancos pintados de negros – desempregando os atores Negros. CL poderia ter aceitado o apelido de Negalora e continuado seu caminho. O xis da questão é que ela se fantasia de mulher negra e com isso ridiculariza o universo Negro feminino com seu deboche habitual.
A campanha é fantástica em termos de penetração, pois gera o que mais se busca ao se promover um produto: A propaganda e contra-propaganda espontânea. Lembram-se do famoso "Falem mal, mas falem de mim!" do velho Cabeça Branca?
Volto a dizer, do ponto vista publicitário essa peça é extraordinária, no entanto eticamente nasce encalacrada até o pescoço e talvez aí resida seu maior risco. Toda campanha publicitária opera no fio da navalha.
Ao mirar no público americano (sua meta atual), buscando legitimar sua ascendência em um batismo equivocado de Carlinhos Brown, evocando uma suposta identidade múltipla, travestindo-se de Nêgalôra, um exemplar grandiloqüente do hibridismo racial que ratifica o famoso "pode misturar" da baianidade momesca, talvez, involuntariamente, detone um canal de diálogo mais intenso sobre o camaleônico racismo brasileiro.
Meter o dedo nessa ferida racista é algo que nos interessa muito.
A compreensão de que esse genérico não carrega consigo as diversas interdições sofridas pela mulher Negra real, derruba várias máscaras. Acredito que é nessa brecha que devemos investir; na reafirmação da existência e persistência do crônico racismo brasileiro, suas transmutações e como o mesmo se constitui no cotidiano da mulher Negra brasileira.
A atitude do Brown não é menos inocente, pois revela o quanto nós, homens Negros, somos licenciosos e omissos em relação ao universo de nossas mulheres.
Dou seguimento à discussão me perguntando o que essa campanha tenta, 'silenciomente', dizer às nossas cantoras Negras, a exemplo de Gal do Beco, Graça Onaxilê, Juliana Ribeiro, Marcia Castro, Margareth Menezes, Mariella Santiago, Mariene de Castro, Will Carvalho dentre outras.
Não estaria Claudia Leite dizendo simplesmente que pode ser o que ela quiser, até cantora Negra, se lhe der na telha? É a síndrome do "posso tudo" das sinhazinhas baianas e brasileiras.


Fonte: Maria Frô

domingo, 25 de dezembro de 2011

A mágica dos 2milhões de turistas no Verão de Cabo Frio (parte 1)















* Retirado do Bloco do Clovis

Todo ano "pipocam" na imprensa e na boca de cabos eleitorais números astronômicos de visitação de turistas para as festas de Natal, Ano Novo e Carnaval em Cabo Frio.

Números nada científicos (muito menos humildes) marcam o período de festas na cidade que vive praticamente da prefeitura e do verão.

Há mais de 10anos se repete uma prática política que virou tradição em afirmar a visitação de 2milhões de pessoas. 1 milhão de turistas no Natal/Ano Novo e o outro milhão no Carnaval.

O objetivo dessa postagem é tentar entender como uma pequenina cidade como Cabo Frio seria capaz de comportar tanta gente tendo poucas vias de acesso e estradas estreitas.

A mágica dos números arredondados

Números arredondados são sempre fáceis de pronunciar e de se apresentar para o eleitorado, principalmente em uma imprensa domesticada. Esse ano, já tem gente falando que a cidade terá entre 820mil/900mil pessoas visitando até o Ano Novo.

Como era de se esperar, já começaram a jogar os números na imprensa como se jogassem milho para pombos na Praça Porto Rocha. Após a Rodoviária Novo Rio levantar estimativa de circulação de pessoas em aproximadamente 820mil (PARA TODO ESTADO), não demorou até que blogueiros se apropriassem desses números para manter a tradição da visitação mágica .

São Gonçalo dentro da pequena Cabo Frio

Vamos pensar um pouco sobre as leis da física e as leis da política de turismo iniciada por Alair Correa no derradeiro da década de 90 (perpetuada por seu sucessor Marcos Mendes).

Para efeito comparativo, vamos analisar por alto as cidades de Cabo Frio e São Gonçalo.

Cabo Frio é uma cidade com cerca de 171.551 habitantes (IBGE 2010). Um público que, em sua maioria, faz uso de um transporte público irregular que nunca dá conta da demanda de pessoas na virada de ano (aliás, não dá conta em qualquer data). Se locomovem de carro, bicicleta e ônibus. Dstes 171.551, a mairoia vive em redor do centro.

Vamos ver o exemplo de São Gonçalo na Região Metropolitana do Estado, de aproximadamente 945.752 pessoas(IBGE 2010), a segunda maior cidade do Estado do Rio de Janeiro em habitantes. A cidade dormitório de Niterói é habitada por uma imensidão de pessoas que trabalham em Niterói ou na Capital. Tem um dos trânsitos mais caóticos do Estado, principalmente no trajeto para a capital. Mais da metade desse número de habitantes se locomovem de ônibus, de van e de trem (raramente).

Agora, imagine que, de uma hora para outra, a população de São Gonçalo (945.752) adentrasse as pontes Feliciano Sodré e Vitorino Carriço (atual ponte Márcio Correa). Monstruoso de se pensar, não é?

190 mil carros no trânsito de Cabo Frio durante o Verão

Antes que algum engraçadinho venha usar as estimativas da Via lagos para afirmar esta visitação a partir do número de veículos que adentram a Região dos Lagos pelo pedágio, vale lembrar que esse número se refere a pessoas que irão passar o Natal e fim de ano em toda a Região dos Lagos e parte do Norte Fluminense. Mas, tudo bem, vamos simular o que aconteceria se esses milhares de veículos viessem só para Cabo Frio.

É como se houvesse uma inundação de carros se locomovendo em 24horas entre as pistas estreitas do centro, engarrafando a ruas curtinhas. Imagine que uma frota de mais de 190mil carros (que é a estimativa média de carros que passam pela Concessionária Via Lagos em dias de feriados e que corresponde a média de 5 pessoas por veículo) seria capaz de ocupar as pequenas ruas da cidade de Cabo Frio.

Agora, vamos ter uma noção ampliada do que representam 190mil carros circulando em uma estrada e como essa lógica é ilusória de se aplicar na cidade de Cabo Frio.

Se enfileirarmos estes 190mil veículos daria para ocupar uma pista de 76km. Isso não levando em conta os ônibus e os caminhões na pista.

Seria o mesmo que enfileirar carros da ponte Feliciano Sodré até a Praia de Cavaleiros em Macaé. Já pensou enfileirar 190mil carros na minúscula cidade de Cabo Frio?

Sei que é difícil de acreditar como conseguiram convencer a imprensa e empresários de que centenas de milhares de carros se esconderiam em algum lugar na cidade a cada verão. Mas é essa a mágica ilusória maravilhosa que os prefeitos apresentaram desde 97.

Sim, ou você acha que no plano de governar Cabo Frio por 30anos sem oposição Marquinho fosse abrir mão da fórmula criada pelo seu professor Alair Correa?

sábado, 24 de dezembro de 2011

No Planeta Elite não tem crise (Informações Natalinas)

Para o planeta elite, que usufrui das benesses e dos produtos do mercado de luxo e seus 191 bilhões de euros (número de 2010), os problemas econômicos do capitalismo não existem. Muito pelo contrário. Na Itália, para comprar o último lançamento do carro esportivo Lamborghini Aventador a espera é de 1,5 ano. E os utilitários custam US$ 400 mil. No Brasil, a Louis Vuitton, conhecida por suas bolsas que custam quase 3 mil dólares, está ampliando o número de lojas de seis para nove. O artigo é de Najar Tubino.

Como disse o ex-premiê Silvio Berlusconi se os aviões estão lotados e há filas nos restaurantes, não tem crise econômica. Na Itália, além disso, para comprar o último lançamento do carro esportivo Lamborghini Aventador a espera é de 1,5 ano. E os utilitários custam US$ 400 mil. Um outro italiano, Sérgio Marchionne, presidente da Fiat, também comentou na feira de automóveis de Frankfurt, na Alemanha, em setembro:

- Quando estava na estande da Ferrari não ouvi nenhum cliente chorando por causa da crise.

Para o planeta elite, que usufrui das benesses e dos produtos do mercado de luxo e seus 191 bilhões de euros (número de 2010), os problemas econômicos do capitalismo moderno não existem. Muito pelo contrário. O Brasil, por exemplo, recebeu a visita de dois presidentes de grifes mundiais importantes, recentemente: Ives Carcelle, da Louis Vuitton e Pierre Pringuet, da Pernod Ricard. A LV francesa, conhecida por suas bolsas de couro bovino, custam em média quase 3 mil dólares, está ampliando o número de lojas no Brasil, de seis para nove. A maior delas substituirá a do Shopping Cidade Jardim, e terá 1.000 metros quadrados.

Em dois anos, o cliente poderá personalizar os acessórios, ou seja, escolher cinco modelos básicos no computador, depois monta os outros ingredientes, como cor e tipo de couro. Lógico que o preço aumenta, entre 5 e 7 mil reais. Se for couro de crocodilo, o preço dobra. A Louis Vuitton faz parte do conglomerado de luxo do bilionário francês Bernard Arnaut, também acionista do Carrefour. O LVMH (Louis Vuitton, Moet, Hènessy), fatura mais de 20 bilhões de euros anualmente. O bilionário este ano resolveu estender seus contatos a outra marca histórica francesa, a Hèrmes, e comprou quase 20% da empresa, através de ações de terceiros, o que deixou a empresa em pé de guerra. A Hèrmes ainda é controlada por grupos familiares, desde a fundação no século XIX. A sua mais famosa bolsa, a Birkis, custa US$7,5 mil. É feita de couro de bezerro, que por sinal, teve um aumento de mais de 20%, em 2011. Tudo é fabricado manualmente.

GARRAFA DE CRISTAL E OURO
O Brasil emergente do planeta elite recebeu um simpósio de luxo - Hot Luxury -, no mês de novembro em São Paulo, patrocinado pelo jornal inglês, Herald Tribune, coordenado pela editora de moda, Suzy Menkes, figura carimbada do mercado de luxo mundial. Segundo um dos participantes, controla vendas de outlet de luxo na Europa, as grifes, hoje em dia, estão atrás do mercado "aspiracional", normalmente de clientes que gastam mais do que tem. Uma prática que já foi abandonada entre os países ricos, onde as empresas querem é a minoria abastada, que procura exclusividade no luxo. Ou como diz Ives Carcelle não vai ser pela desvalorização das bolsas de valores que os clientes vão deixar de comprar uma bolsa ou um par de sapatos.

De qualquer forma, o Brasil já faz parte do grupo dos 10 clientes mais importantes no mundo da Louis Vuitton, uma definição definida pela empresa, em decorrência das compras dos brasileiros nas butiques da Europa e Estados Unidos. O Brasil também é o segundo mercado, atrás dos americanos, no consumo da vodca Absolut, um dos carro-chefe da Pernod Ricard, que também está inaugurando uma loja no Shopping Cidade Jardim.

- O Brasil tem condições de estar entre os 10 mercados mais importantes da Pernod Ricard. Nós esperamos que a classe média brasileira continue comprando nossas marcas com valor agregado, aumentando o padrão do consumo", disse Pierre Pringuet.

Ele quer que os brasileiros troquem o uísque Natu Nobilis pelo Ballantaines ou o Chivas 12 anos, uma troca de quase 30 reais por R$110. A Pernod também está lançando a vodca Absolut Elyx, ao preço de R$390. Agora, para integrar o planeta elite tem que comprar uma das 50 garrafas do uísque Royal Salute 62 Gun Salute, de cristal e pintada a ouro, custa R$10 mil. Durante o mês de dezembro, a Pernod está distribuindo kits no Cidade Jardim. Ela também é dona da marca Orloff e diz que repaginou a vodca, do tipo popular, chegará ao mercado com nova embalagem, a preços irrisórios (R$21,90).

O luxo também terá de 15 a 20% das 212 lojas do no Shopping JK, do grupo Iguatemi, será inaugurado em março de 2012.

RELÓGIO DE US$3 MILHÕES
No JK, segundo Carlos Jereissati, estreará a grife francesa Goyard, fabricante de malas e bolsas mais luxuosas que a Louis Vuitton. Fundada em 1853, a Goyard só tem 12 lojas no mundo, nos principais mercados do luxo: Estados Unidos (4 butiques) e 48,1 bilhões de euros, seguido pelo Japão (4 butiques) e 18,1 bilhões de euros. As outras quatro estão na Europa. O mercado chinês é o terceiro em faturamento, 9,6 bilhões de euros. O Brasil, segundo a projeção da Bain & Company, que faz a pesquisa mundial do luxo, é um mercado de 2,3 bilhões de euros.

Só para se ter uma ideia da expansão do negócio. A Louis Vuitton dobrou de produção nos últimos cinco anos. Em 2011, o mercado de luxo crescerá 10%. Dividindo por segmento, os índices são os seguintes, ainda conforme os dados da consultoria: artigos de couro l6%, sapatos 11%, joias 15% e relógios 20%.

Sobre relógios foi constatada uma nova tendência, as mulheres estão comprando como investimento. A Omega lançou o Ladymatic ao preço de US$42 mil. Vamos dizer que é um padrão mediano. A Hublot vendeu um modelo cravejado de diamantes por US$3 milhões. E pretende colocar no mercado em 2012 o relógio mais caro da história: US$5 milhões, com 300 quilates de diamantes. Trata-se de um modelo extravagante, tipo milionário asiático ou do Oriente Médio, os que mais compram. Para clientes finos e arrojados, mas sem ostentação, indica-se um modelo da IWC Schaffahausen, única marca suíça no leste do país, onde se fala alemão.

Ela tem relógios básicos a partir de US$4 mil. Mas o melhor modelo foi lançado recentemente: o Portuguese Sidérale Scafusic, levou 10 anos para ser desenvolvido. Tem calendário perpétuo, marca horário sideral, diferente do solar, um mapa atrás em movimento, com as estrelas visíveis no horizonte. É o mais caro da fábrica suíça - US$750 mil, é produzido somente por um relojoeiro, Stefan Brass. A Suíça exportou em 2010, 7 bilhões de euros em relógios. Na conta estão quase 1 milhão de Rolex.

PROBLEMA EXISTENCIAL DA MERCEDEZ
Para completar o quadro, de um segmento muito sensível do mercado de luxo. A Scoth Whisky Association, da Escócia, anunciou que as vendas cresceram 22% no primeiro semestre de 2011. O Brasil importou R$125 milhões em garrafas, nesse período. No mundo, em 2010, os escoceses venderam 569 milhões de garrafas. Mesmo ímpeto é registrado no mercado de carros de luxo. A BMW manteve a liderança no ano passado vendendo 234.175 BMW mini e 196.004 da série 1. A Audi vendeu 2.332 mil e a Mercedez Bens 222.400 das marcas A e B. A Mercedez vive uma crise existencial, como disse o presidente executivo, Dieter Zetsche:

- É impossível dizer aos nossos clientes, funcionários e investidores que temos que aceitar o terceiro lugar".

A Mercedez sempre liderou o mercado de luxo no mundo. Perdeu a posição nos últimos anos. Lançou até um compacto da marca B-class por 26 mil euros, na Europa, onde o S-class custa 72 mil euros. A Porshe vendeu 100 mil carros este ano, aos europeus em crise.

A Universidade de N. York fez uma pesquisa durante dois anos e meio, e chegou a seguinte conclusão:

- Os poderosos não prestam atenção nas outras pessoas.

Para ilustrar a síntese da pesquisa, vamos citar alguns números.

No caso do Brasil. Segundo a Merryl Lynch Global Wealter Management e a Consultoria Capegemini são 155 mil brasileiros com US$1 milhão disponíveis para investir. O Brasil é o décimo primeiro na lista dos milionários do mundo. Porém, é o mercado que mais cresce, inclusive acima da Ásia - 28% nos últimos 12 meses. Segundo a Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), até junho de 2011 eram 64.260 clientes com investimentos no chamado "private banking".

38.095 MILIONÁRIOS NO BRASIL
O volume de recursos aplicados por esse seleto grupo atingiu R$421,8 bilhões. No primeiro semestre deste ano, ingressaram no clube milionário mais 1.036 pessoas. Os motivos são conhecidos: maior circulação de dinheiro entre empresários, altos executivos, consultores e profissionais liberais. Além dos resultados para muitos interessados em fusões e aquisições de empresas. Para quem não sabe um presidente executivo no Brasil ganha uma média de R$2 milhões por ano. Um diretor executivo na faixa de R$240 mil. Estão no topo mundial, às vezes, acima dos ricos desenvolvidos. Hiram Maisonave, vice-presidente do BNP Paribas, banco francês, que atua no Brasil, detalha quem são os participantes do "private banking":

- Não são mais apenas os empresários, altos executivo, ou herdeiros de grandes fortunas. O crescimento econômico desencadeou uma mudança de patamar na renda de profissionais liberais, como médicos, engenheiros, arquitetos, advogados e consultores".

São Paulo, tradicionalmente, concentra o maior número de milionários, mais de 50%, em dinheiro são R$233,53 bilhões sob gestão. Há uma expansão na região norte cresceu 34,1% e no centro-oeste 25,6%, mas em termos de volume de capital não se compra: R$8,47 bilhões no centro-oeste e R$1,26 bilhão no norte. O economista Márcio Pochmann do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas), em um trabalho sobre as famílias mais ricas do país, disse que as 5 mil no topo da lista, possuem um patrimônio equivalente a 40% do Pib, o que daria mais ou menos R$1,65 trilhão.

A Receita Federal tem um estudo detalhado sobre o patrimônio dessas famílias: 997 contribuintes tem patrimônio superior a R$100 milhões; 1.327 entre R$50 e R$100 milhões; 5.047 entre R$20 e 50 milhões; 10.168 entre R$10 e R$20 milhões e 26.206 entre R$5 e R$10 milhões. Se aprovassem um imposto sobre fortunas no Brasil, ele recairia sobre 38.095 contribuintes, e uma alíquota de 1,5 poderia arrecadar R$22 bilhões.

A ILUSÃO ACABOU
Agora vamos examinar o lado, digamos, mais traumático do planeta elite. A crise em Wall Street. A primeira notícia: redução de 30% no bônus anual. O presidente do Fundo de Hedge (risco), Navigator Group, Charles Stevenson, mora perto da praça Zucotti, local dos acampados de Nova York. Ele mora no condomínio Park Avenue, junto com muitos outros membros do planeta elite. Ele declarou ao The Wall Street Journal:

-Não acho que é hora de ganhar dinheiro, este é um momento de nos prepararmos para sobreviver. O futuro não vai ser como um passado que conhecemos. Não há saída deste atoleiro".

Fundos de risco, gestores de patrimônio e, principalmente, os bancos de investimentos, que aprontaram as peripécias que resultaram na maior crise financeira estão com problemas. Um diretor executivo da empresa de recrutamento Options Group, o chamado "headhunter", caçador de talentos, foi tomar um chá com um corretor, de um dos cinco bancões americanos, em um hotel de N. York. A queixa do corretor, de 27 anos, diplomado na Universidade de Ivy League: só ganharia os mesmos US$500 mil de bônus do ano passado e teve que trabalhar mais em 2011. O comentário do caçador de talentos:

-É muito desmoralizante para as pessoas, especialmente para gente jovem, com curso superior, que veio para Wall Street embalada em sonhos de tornar-se milionário e não conseguir".

Mesmo com a queda no valor dos bônus, o Goldman Sachs, que é o maior banco de investimentos do mundo, separou US$10 bilhões para distribuir aos seus 34,2 mil funcionários, uma média de US$292.836 para cada um. Isso é mais que 10 vezes a renda dos 49 milhões de americanos classificados na faixa de pobreza - famílias com dois filhos e renda anual de US$22 mil.

O cenário negativo de Wall Street estão nas demissões. O Bank of America já avisou que vai demitir 30 mil até o ano que vem. Mesmo número do HSBC, maior banco do Reino Unido. O BNP Paribas, maior da França vai demitir 1,4 mil e o Unicredit, maior da Itália, outros 6.150 funcionários. A Agência Bloomberg fez um levantamento sobre as demissões nos serviços financeiros em todo o mundo.

Serão 220 mil, bem maior que os 174 mil em 2009. Os motivos: maiores exigências de capital, pelas regras que entrarão em vigor em 2013, o fracasso dos produtos financeiros exóticos e a redução de negócios com carteira própria. O presidente do Conselho de Administração do UBS, maior banco suíço, Kasper Villiger, comentou o caso:

- Muitos banqueiros de investimentos estavam convencidos de que estamos vivendo hoje um período limitado, em que tudo está um pouco mais difícil, mas depois o velho mundo retornaria. Mas agora essa ilusão acabou".

DE QUEM SÃO OS IATES?
Na América do Norte os bancos, seguradoras e administradores de recursos já anunciaram 50 mil demissões em 2011, mais que o dobro do ano passado, ainda longe dos 175 mil cortes de 2008. Na Europa as companhias financeiras já anunciaram 125 mil demissões, quase o dobro das realizadas em 2008. O número de funcionários da City de Londres e no Canary Wharf, os distritos financeiros, cairá para 288 mil (27 mil a menos), considerado o menor nível desde 1998.

No final de 2011, os corretores e gestores de patrimônio de Wall Street não estarão tão seguros na hora de fazer a piada para turistas, que chegam na baía do rio Hudson e se espantavam com a quantidade de iates. Os turistas perguntavam: quem são os donos desses iates? Ao que o povo de Wall Street respondia - são os corretores e gestores de patrimônio. E os turistas retrucavam: e onde estão os iates dos clientes? Desmancharam na comissão de 2% fixa que os profissionais cobram, além de mais 20% sobre o desempenho.

CHINESES RICOS QUEREM SEGURANÇA
Sobre os pouco mais de 500 mil chineses com renda acima de US$1 milhão para investir circulam muitas informações de extravagâncias. Mas surgiu uma nova tendência. Procurar residência fixa nos países ricos como Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Austrália. Em 2011, quase 3 mil chineses pediram visto de investidor para se fixar nos Estados Unidos. O candidato precisa ter US$500 mil para investir e dar emprego a 10 americanos em dois anos. Em 2007, foram apenas 270 chineses. Boston é uma das cidades escolhidas, assim como Vancouver, no Canadá. Os chineses do planeta elite argumentam que procuram segurança, como empreendedores, não sujeitos à mudanças na legislação ou rupturas políticas.

Na China, mais de 800 empresas licenciadas de serviços de emigração orientam candidatos como proceder em entrevistas, para obtenção do visto. A Well Trend United, de Pequim, cobra US$30 mil por cliente, tem 10 escritórios nas maiores cidades chinesas e 400 consultores, já conseguiu mais de 10 mil vistos desde que iniciou a operação, no final dos anos 1990.

Um problema dos ricos chineses é documentar o patrimônio, principalmente, a origem dos bens. Como a maioria deles não gosta de pagar imposto, como afirma Gao Tang, da empresa de emigração Harmonia Capital," temem ser pegos se tiverem que informar sua renda total".
A verdade é que os ricos chineses, na maioria, tem uma ligação oficial com governantes e tem um "pecado original para conseguir seu primeiro balde de ouro", como comentou outro empresário que tem uma fábrica em Xangai e não quis se identificar, para a revista Business Week.

O medo na verdade é das tensões sociais, que estão se acumulando na China. O número de conflitos entre trabalhadores ou populações despejadas de áreas em obras tem duplicado nos últimos anos. Os chineses não esqueceram que em 1949, na revolução maoísta, mais de um milhão de proprietários foram mortos. Alguns deles, alegaram que a qualidade do ensino nas universidades americanas e canadenses é melhor, que a poluição é um problema grave e existe uma insegurança na hora de consumir alimentos, em consequência do uso de venenos. Sem contar que os filhos dos revolucionários de 1949 andam desfilando de ferraris, lamborghinis e maseratis nas ruas de Pequim, perto do Estádio do Trabalhador, onde se concentram boates e discotecas. Na China, mais uma vez, tem se divulgado com frequência a expressão "fen fu", ódio aos ricos e seus desmandos.

CHAMPANHE DE 130 MIL EUROS
Um dos legítimos representantes do planeta elite é o hotel Cheval Blanc, na estação de esqui construída pelo bilionário Bernard Arnaut em Courchevel (França). É preciso ter US$10 mil dólares para pagar o helicóptero de Genebra até o hotel, com 34 quartos, lotação de 90% entre os meses de dezembro a abril. A maior percentagem de hóspedes são novos ricos russos, país onde 40% da população está na linha de pobreza. Depois são britânicos, franceses e tem mais brasileiros do que americanos. As diárias variam de 1.130 euros a 20 mil euros.

- O luxo é uma experiência natural para nós, diz o diretor geral, Philippe Gourgan, à agência Bloomberg. Não se sente recessão em nossos quartos".

A única preocupação com a inflação é a do gás hélio injetado em balões prateados, recheados de chocolate, que ficam nos quartos. Por 47 mil euros o abastado pode usufruir de um nascer do sol com uma garrafa da safra 1947 do famoso Chatêau Cheval Blanc, de Bordeaux, e posteriormente, tomar um café regado a trufas negras. O hotel tem um chef três estrelas no guia Michelin, uma ceia de Uannick Alleno, com pombo cozinhado no vapor, grãos de cacau derretido em cenouras e cogumelos temperados com favas de cumaru, está no menu. Mais importante: por 130 mil euros, o somelier Sebastian Labe abrirá uma champanhe "Nabucodonosor St Emilion Premier Grand Cru clase 1990", de 15 litros.

Não há um limite em que o luxo torna-se absurdo. Os homens precisam sonhar no Cheval Blanc. Imagine o tipo de sonho. O porteiro Jean Batiste Ran atendeu a um desses pedidos. O hóspede queria comer bolo fresco. Não qualquer bolo fresco. Tinha que ser de uma padaria de Zurique, na Suíça, exatos 924 km ida e volta. O porteiro mandou uma limousine buscar dois bolos frescos de creme em 10 horas.

O Cheval Blanc é estiloso. As camisetas polos dos funcionários chamados de jogadores são tecidas com casimira de pelos de cabra. Funcionários andam pelo hotel fumando charutos cubanos e, dentro de uma iurta mongol, adornada com chifre de cabrito montês da Saboia, carregam conhaque Armagnac, de 100 anos. No balcão do bar de três metros, esculpido em gelo, o cliente pode tomar a sua vodca.

- O Cheval é um clichê, uma dramaturgia de momentos táteis, prazeres perfumados, na qual os hóspedes com óculos escuros para não serem reconhecidos, perambulam pelas dependências como se fossem instalações de um museu", registra o colunista da Bloomberg.

ANÚNCIO DE CÃES NA TV
Para encerrar este relato uma informação de um segmento dos mais resistentes à crise financeira. A Nestlé, maior empresa de alimentos do mundo, com 400 fábricas e faturamento mais de US$100 bilhões, com participação de quase 25% no mercado de alimentos para animais de estimação, chamados de pets. É um mercado que faturou em 2009, logo após a quebra do Lehman Brothers, US$53 bilhões, as vendas aumentaram 9%, nesse ano. O último lançamento da Nestlé é um anúncio para televisão já veiculado na Alemanha e lançado na Áustria, em outubro. Trata-se de uma peça publicitária dirigida diretamente aos cães de sofá. Ou seja, o anúncio emite sons de alta frequência e tons agudíssimos, que provocam frenesi nos animais. O resultado é óbvio: o cachorro corre para a frente da televisão e fica pulando, querendo comer a ração Benefuel.

Na Alemanha aumentaram as vendas. O mesmo deve acontecer na Áustria. Interessante é que no Reino Unido não existe promoção de alimentos pets. Lá é comum satirizar os donos de animais domésticos por gostarem mais deles do que dos filhos. Por sinal, no Reino Unido e no Japão já existem mais animais de estimação do que crianças. A Nestlé deve lançar em breve um sorvete especial para cães e um ipad de jogos para gatos.

Tem mais: nos Estados Unidos, a Qualcom, empresa especializada na produção de chips de rádio, lançou um novo produto, o Tagg, custa US$200. É um acessório usado em coleiras com GPS (sistema de posicionamentos global). Nos Estados Unidos são criados 77 milhões de cachorros e 10 milhões se perdem por ano. O equipamento tem bateria válida por 30 dias.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Ações de solidariedade com os punks detidos na Indonésia pelo mundo

Desde que a polícia da conservadora província de Aceh, na Indonésia, invadiu um show de punk-rock beneficente a um orfanato local detendo e seqüestrando 65 punks que tiveram que se livrar de piercings e correntes, a cabeça raspada e foram forçados a tomar banho em um rio como forma de limpeza espiritual, diversos protestos de solidariedade surgiram na Indonésia e em outros países.
Já foram registrados eventos na frente de consulados e embaixadas da Indonésia na China, Chile, Argentina, Suécia, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos, com manifestantes carregando faixas e gritando lemas pela libertação e contra o ataque aos punks da província de Aceh.
Pelo menos até esta última quarta-feira (21 de dezembro) os 65 jovens permaneciam detidos e seqüestrados na escola de polícia de Aceh, fazendo "reabilitação em aulas de bom comportamento, religião e exercícios de conduta militar que visava estabelecer a disciplina” (fotos em anexo).
Apesar disso, esses jovens punks não mostraram sinais de submissão, pelo contrário. Assim que os policiais viravam as costas, eles gritavam com os punhos cerrados: "O Punk não está morto! Paz!".







quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ocupa Wall Street planeja mobilizações para 2012

Três meses depois do início de um movimento que se define como sem líderes e sem demandas específicas, o "Ocupa Wall Street" continua forte em todo o país. Mesmo em Nova York, onde os manifestantes foram dispersados pela polícia, as atividades não pararam. Pelo menos 100 pessoas de diferentes organizações se reúnem diariamente num espaço público, também na região de Wall Street, para discutir pautas diversas. A reportagem é de Carlos Alberto Jr., direto de Washington.

Peter Jacobs tem 19 anos e nasceu em Brasília. Aos seis anos, foi adotado por um casal de americanos e levado para Nova York. Com o passar do tempo, o português e a cultura brasileira ficaram para trás. Na adolescência, os atritos com a família tornaram a relação cada vez mais difícil. "Fui expulso de casa porque meus pais não gostavam do jeito que eu sou. Passei a viver na rua e na casa de amigos", contou Peter à Carta Maior na última segunda-feira, na McPherson Square. Na praça localizada a poucas quadras da Casa Branca, Peter é mais um dos cerca de 350 integrantes do movimento "Ocupa DC" acampados em Washington.

Numa conversa com amigos há dois meses, Peter soube que um grupo de pessoas no estado de Massachusetts havia começado "um grande movimento para mudar o mundo". Ele gostou da ideia. Pegou um ônibus para Boston e desembarcou na Dewey Square, no centro do "Ocupa Boston". "Quando cheguei lá, foi como ser recebido por uma grande família. Havia comida, um lugar para dormir e muita troca de ideias."

Peter, que se considera um sem-teto e acha que o dinheiro só piora a relação entre as pessoas, chegou a Washington há duas semanas. Ele representa uma parcela dos milhares que aderiram ao movimento de ocupação de espaços públicos em centenas de cidades nos Estados Unidos desde 17 de setembro. Nesse dia, um grupo de ativistas fez em Wall Street, o coração financeiro do país, um protesto para chamar a atenção contra o que considera a ganância das grandes corporações, a desigualdade social e a influência cada vez maior de bancos e multinacionais nas decisões de governos em todo o mundo.

A iniciativa marcou o nascimento do "Ocupa Wall Street" (OWS) e a ocupação do Zuccotti Park, em Lower Manhattan. O uso do twitter e do Facebook ajudou a divulgar o movimento e a coordenar as ações. O OWS espalhou-se rapidamente para outras capitais americanas e para mais de 1.500 cidades em 83 países, segundo Melanie Butler, uma das organizadoras do OWS em Nova York.

Poucos dias depois da primeira ocupação, surgia o slogan "Nós somos os 99%" em textos na Internet, camisetas, panfletos e cartazes. A mensagem, criada por um grupo de ativistas do Zuccotti Park, carregava a mesma força do "Ocupa Wall Street" e, igualmente, alastrou-se com velocidade pelas redes sociais. O novo mote resumia a insatisfação com a disparidade econômica e social nos Estados Unidos, onde 1% da população detém 40% da riqueza do país.

O rápido aumento do número de praças e parques tomados nos EUA virou motivo de preocupação. As autoridades passaram a reprimir as ocupações e a expulsar os manifestantes, muitas vezes por meio de ações violentas da polícia. Desde 17 de setembro, cerca de 1.500 pessoas foram presas em todo o país, a maior parte em Nova York, Boston e Chicago. "Os manifestantes expulsos do Zuccotti Park permanecem acomodados em igrejas e casas de simpatizantes na região de Nova York até conseguirmos autorização para ocupar outra área pública", explicou Melanie Butler.

Três meses depois do início de um movimento que se define como sem líderes e sem demandas específicas, o "Ocupa Wall Street" continua forte em todo o país. Mesmo em Nova York, onde os manifestantes foram dispersados pela polícia, as atividades não pararam. Pelo menos 100 pessoas de diferentes organizações se reúnem diariamente num espaço público, também na região de Wall Street, para discutir pautas diversas.

"Tenho encontrado gente totalmente transformada pelo que aconteceu. Elas estão levando o que aprenderam com o "Ocupa Wall Street" para as suas comunidades. Estamos nos espalhando para lugares em que as pessoas poderão realmente participar do processo político. A ideia é descentralizar a tomada de decisões e começar uma mudança global a partir das pequenas cidades", afirmou Melanie. "Quem diz que não alcançamos nada politicamente, porque não temos demandas específicas, apenas revela uma visão estreita da política. Se você olhar para as grandes transformações da história, verá que todas foram de longo prazo e nunca restritas a uma pequena lista de exigências ou plataforma política".

Os estrategistas do OWS começaram a traçar as linhas de ação para 2012 com o objetivo de iniciar a segunda fase do movimento. "O elemento surpresa será nossa tática a partir de agora", disse à Carta Maior Kalle Lasn, ativista e editor da revista canadense Adbusters, crítica feroz da sociedade de consumo.

"No próximo ano, os campi das universidades serão os grandes campos de batalha do movimento. Vamos passar menos tempo em parques e mais tempo em ocupações surpresa, com duração de um dia. Vamos ocupar a sede do Bank of America. No dia seguinte, tomaremos o quartel general do Goldman Sachs. Em universidades ao redor do mundo, vamos ocupar os departamentos de economia e discutir com os professores o tipo de economia estúpida que eles nos estão ensinando", afirmou.

Lasn nasceu na Estônia, mas está radicado no Canadá desde a década de 1970. Ele e sua equipe da Adbusters criaram o slogan "Ocupa Wall Street" e convocaram as pessoas, por meio de um anúncio na revista e pela Internet, a ocupar espaços públicos e apresentar suas demandas. A inspiração veio dos acontecimentos da "Primavera Árabe". "Foi um momento muito excitante para o ativismo em todo o mundo, especialmente porque queríamos esse tipo de revolução há pelo menos 20 anos", disse Lasn, de Vancouver, por telefone.

Ele conta que, quando viram um regime duro como o do Egito cair pela mobilização dos jovens do país, pensaram que algo semelhante também seria possível nos Estados Unidos. "Também temos um tipo de regime aqui na América. Não é um regime como o egípicio, mas ainda assim é um regime de megacorporações com poder para controlar Washington, o coração da democracia americana, e Wall Street, que controla o destino da economia na América. De certa forma, aqui também precisamos de uma mudança de regime suave".

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

“Vamos levar nosso irmão para casa e vamos lutar para derrubar este sistema”

No último 9 de dezembro, mais de mil pessoas se reuniram no Centro Nacional da Constituição na Filadélfia para apoiar Mumia Abu-Jamal, apesar da intimidação de centenas de policiais que gritaram frases de ódio na rua. Em uma chamada telefônica, Mumia disse: “Pela primeira vez em quase 30 anos não estou fisicamente entre os condenados à morte, estou em outro setor chamado Bloco AC. As celas são idênticas as do corredor da morte, mas ninguém deste setor está condenado à morte, dentre eles, eu mesmo. É algo que se tem de acostumar, ainda estou me aclimatando”.

Em relação a sua reação ante ao fato de que sua condenação à morte se converteu em prisão perpétua, ele respondeu: “Devo admitir que me sinto um pouco surpreso porque estava esperando a audiência, me refiro a uma audiência de sentença. Apesar de que muitos de meus amigos e simpatizantes e inclusive meus advogados diziam que era muito provável que não houvesse audiência, eu acreditava que sim. E segui me sentindo assim até que ouvi a notícia. Nestes dias estarei falando com meus advogados e avaliaremos exatamente este tipo de coisa. Sinto um pouco de decepção devido ao fato de que não haverá audiência, já que acreditávamos que poderíamos conseguir algumas coisas durante esta audiência e travar uma boa batalha, mas teremos que batalhar de outras formas. Quero agradecer a todos os que tem nos apoiado durante tantos anos”.

O orador principal do evento na Filadélfia foi Cornell West, que falou da visão e compromisso social de Mumia, “um homem negro livre no corredor da morte”, cujo espírito não foi derrotado em 30 anos... Um homem que se atreve a dizer a verdade sobre o implacável legado da supremacia branca... Um homem que não se rendeu e não se vendeu, como muitos outros fizeram, um homem com uma visão holística e um compromisso fixo com os pobres e deserdados da terra, um homem que se nega a ser “niggerizado”, ou seja, tornar-se o tipo de pessoa que “ri quando não há nada engraçado e se coça onde não há coceira,… Se nega a tornar-se o tipo de pessoa que fique aterrorizada, traumatizada e estigmatizada”. Por outro lado, Mumia é um exemplo de “amor revolucionário, valor revolucionário e gozo revolucionário”, que sob ameaça de morte segue dizendo a verdade a uma geração submetida a “armas de distração massiva”.

Em uma mensagem de vídeo, Desmons Tutu disse que na África do Sul houve uma sensação de alívio ao receber a notícia de uma pequena concessão no caso de Mumia Abu-Jamal quando a Suprema Corte deu parecer de que ele nunca deveria estar sentenciado à morte. Mas afirma que o veredito de culpado também é totalmente inaceitável devido ao preconceito racial e a má conduta da promotoria durante décadas, e que a imposição da sentença de prisão perpétua é simplesmente outra forma de morte. Tutu disse que por fim peritos tão destacados como o Relator Especial da ONU, Juan Méndez, reconheceram como uma forma de tortura as condições de isolamento a que Mumia esteve submetido durante 30 anos. Disse que devido às massivas injustiças cometidas contra ele, o caso deve ser descartado e Mumia deve sair livre imediatamente.

Ao tomar a palavra no ato, Ramona África disse que quando Seth Williams anunciou na quarta-feira que não iria continuar buscando a pena de morte para Mumia, a seu lado esteve Maureen Faulkner. “Entendemos exatamente o que acontece aqui... Hoje mesmo eles odeiam Mumia ainda mais do que odiaram há 30 anos. Estão furiosos pelo apoio internacional que tem, estão furiosos pelo movimento constante que o apóia, estão furiosos porque um homem negro diz a verdade em oposição às mentiras deste sistema... Sabem que não podem ganhar em uma nova audiência... Mas isto não significa que abandonaram seus planos para assassinar Mumia... Há que se perguntar: por que estão tão desesperados, tão inflexíveis em seu afã de matá-lo? Não podem dizer o nome de alguém condenado pelo assassinato de um policial há seis meses, há um ano, há três anos. Não sabem seus nomes. Mas sabem o nome de Mumia Abu-Jamal. Por que estão tão cheios de ódio por Mumia? Por que não se sentem iguais com relação ao homem acusado de matar seu presidente John F. Kennedy...? Ou os assassinos de crianças? Mumia é nosso irmão e estamos muito preocupados por sua vida. Nunca deixaremos de lutar por ele... Nunca deixaremos de lutar contra este sistema podre. Queremos colocar fim a este tipo de injustiça. Vamos levar nosso irmão para casa e vamos lutar para derrubar este sistema... Da mesma maneira que eles estão resolutos em acabar com Mumia e com nós, nós temos que estar duas vezes, três vezes, dez vezes mais resolutos a fazer o justo e o correto”.

O advogado de defesa Michael Coard afirmou que o sistema que tenta assassinar Mumia Abu-Jamal é o mesmo sistema que encarcera crianças e adolescentes durante períodos mais longos do que qualquer outro estado em qualquer país do planeta, e inclusive há crianças de 14 anos de idade sentenciadas a prisão perpétua. Ao criticar a pena de morte, Coard perguntou: “Se apoiamos a prática de contratar pessoal para assassinar os assassinos, por que não contratar pessoas para roubar os ladrões, para seqüestrar os seqüestradores, para estuprar os estupradores? Vocês poderiam dizer: Isto é obsceno! Isto é escandaloso! É o meu ponto”. A respeito do veredicto de culpabilidade, Coard afirma que Mumia é legalmente não culpável e factualmente inocente.
Para ver fotos e vídeos do evento celebrado em apoio a Mumia no Centro Nacional da Constituição em 9 de dezembro, incluindo mensagens de Cornell West, Desmond Tutu, Amiri Baraka, Ramona África, Michael Coard, Immortal Technique, Goldii, acessem este site:

Dois vídeos da deslumbrante performance dos jovens artivistas da Impact Repertory Theater no Centro Nacional da Constituição em 9 de dezembro:

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Ocupa Wal Street

Talib Kweli aderiu ao Ocupa Wal Street:





segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

A polícia privada entra em campo

Com o empurrão da Fifa, segurança particular deverá ganhar espaço sem precedentes no Brasil
08/12/2011

Eduardo Sales de Lima
da Reportagem


Funcionários de empresa de segurança privada sul-africanas trabalham
em estádio durante a Copa do Mundo de 2010 - Foto: Marcello Casal Jr/ABr
O mercado das empresas de segurança privada, à semelhança do que ocorreu na Copa da África do Sul, em 2010, provavelmente se consolidará definitivamente por aqui. Uma legislação de exceção, a Lei Geral da Copa tende a contribuir substancialmente para isso. Mas, se por um lado as empresas do setor lucrarão com o evento, a sociedade poderá vivenciar um estado de sítio, levado a cabo tanto por agentes públicos quanto particulares.
De acordo com o texto enviado à Câmara dos Deputados, não se estabelecerão limites para os contratos com o setor na Copa de 2014. “O [Joseph] Blatter [presidente da Federação Internacional de Futebol, a Fifa] trará ao Brasil a consolidação do poder dessas milícias por meio desse modelo neoliberal tardio, trazido pela entidade”, afirma Ivan Seixas, presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos do Estado de São Paulo (Condepe) e ex-preso político.
Segundo Antônio Jorge Ferreira Melo, coronel da reserva da Polícia Militar da Bahia, a Lei Geral da Copa, que poderá ser votada ainda neste ano, atribui ao organizador de eventos a responsabilidade pela segurança interna nos estádios e praças de show, mas não imuniza o Estado e, consequentemente, o contribuinte, de assumir corresponsabilidades, sem a devida contraprestação financeira. Antônio é professor e pesquisador do Progesp (Programa de Estudos, Pesquisas e Formação em Políticas e Gestão de Segurança Pública) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Divisão de tarefas
É o modelo que a entidade impôs na Alemanha, na África do Sul e, agora, o faz no Brasil. Nos “jogos-Fifa”, a Polícia Militar cuida da parte externa e os vigilantes da segurança interna. Os últimos se responsabilizam pelo estacionamento interno dos estádios, bilheteria, catracas, torcidas e isolamento do campo de futebol. Mas prevê-se que grupos da PM atuem em casos de intensa perturbação da ordem dentro das arenas.
Já houve experiências com esse modelo no Brasil. Num amistoso da seleção brasileira contra a Holanda, em Goiânia (GO), a empresa espanhola Prosegur realizou a segurança interna e já está se especializando em grandes eventos. Já a brasileira Gocil se encarregou do serviço no jogo entre Brasil e Romênia. Como salienta Ivan Seixas, tal modelo tende a “seduzir” o torcedor, considerando que ele se sentirá seguro “sem a opressão de uma farda”.
A realização da Copa do Mundo na África do Sul, entretanto, mostrou que o raio de ação desse setor extrapolou os limites dos estádios de futebol. Turistas e organizadores do torneio buscaram esquemas próprios de proteção. Segundo agências de notícias internacionais, a soma dos agentes de segurança privada compôs um número quase dez vezes maior do que o de policiais sul-africanos oficialmente encarregados da segurança do país. Enquanto a polícia da África do Sul possuía 44 mil policiais a seu serviço, a associação sul-africana Aliança da Indústria da Segurança disse ter empregado formalmente 395 mil pessoas em 2010.

Consolidação
Por aqui, o caminho é feito do mesmo ladrilho, enveredando para o horizonte dos empresários do setor, que não estão dormindo no ponto. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) promoveu, em 12 de setembro, na sede da entidade, um debate sobre segurança na Copa de 2014 e na Olimpíada de 2016. A discussão entre empresários, políticos e militares girou em torno de temas como gestão, tecnologia, legislação e integração das providências nas cidades-sedes da Copa.
Qual será o raio de ação da segurança privada após os grandes eventos esportivos no Brasil? “A questão será se [a partir da Copa do Mundo] for definido que qualquer tipo de espetáculo, seja esportivo ou artístico, patrocinado por particulares, terá que utilizar a segurança privada, seja qual for o tamanho do evento”, pondera o coronel da reserva da Polícia Militar da Bahia, Antônio Jorge Ferreira Melo.
Segundo ele, para mostrar-se seguro, o Brasil precisa se adequar às “forças do mercado”, atualmente globais – portanto, extraterritoriais –, que verdadeiramente exercerão a governança da grande festa do futebol mundial. Ao Estado, caberá apenas dar-se por satisfeito em garantir a infraestrutura, os meios e os serviços indispensáveis à realização dos jogos e assistir, de camarote, como convidado de honra, aos donos do capital mandarem e desmandarem nos gramados.
Antônio teme ainda que o projeto de lei que cria o novo Estatuto da Segurança Privada, em tramitação na Câmara dos Deputados, possa representar uma radicalização na mercantilização de serviços de segurança em nosso país. O parágrafo 5º do artigo 2º do estatuto, por exemplo, determina que “a segurança privada em estádios e outros locais fechados de eventos, sob a responsabilidade da pessoa física ou jurídica promotora do evento, será obrigatória”. O ex-policial acrescenta que “o processo de privatização da segurança é mundial, não é específico no Brasil nem em relação à questão da Copa do Mundo”.
O Brasil, além de ter de se adaptar a uma legislação de exceção, ainda permitirá a participação de capital internacional nas empresas de segurança, “porque geralmente as empresas que fazem segurança na Copa do Mundo são corporações, não são empresas nacionais”, pontua Antônio.

Exceção
Além da privatização da segurança se consolidar no país, a sociedade será obrigada a enfrentar novos desafios. “Esses eventos, tradicionalmente, permitem a criação de um estado de sítio. Deve-se colocar em discussão que com essa segurança particular, controlada por torturadores, policiais corruptos, policiais da ativa, há uma situação de privatização da segurança como um modelo. Devemos defender o modelo de segurança feito pelo Estado e não pelo particular”, defende Ivan Seixas, presidente do Condepe.
Em entrevista ao Congresso em Foco, o promotor público Maurício Antônio Ribeiro Lopes, do Plano Integrado de Atuação do Futebol do Ministério Público de São Paulo, afirmou que a futura Lei Geral da Copa do Mundo vai signifi car a submissão do Brasil aos interesses da Fifa, além de instituir um estado de exceção. “É um momento em que uma série de garantias hoje constitucionais deixarão de ter vigência”, ponderou.
E atestou ainda que possui sérias restrições a substituir o policiamento público oficial por uma milícia privada. “Não há possibilidade alguma de uma revista feita por um particular. Isso é algo inadmissível no nosso sistema. Nós não temos no Brasil uma empresa que tenha experiência em realização de segurança em grandes eventos como tem a Polícia Militar aqui em São Paulo, por exemplo. É uma atuação típica de Estado, e não de particular, o policiamento preventivo”, afirmou o promotor na entrevista.
Na mesma linha, Marcelo Braga Edmundo, coordenador da Central de Movimentos Populares e do Comitê Social da Copa 2014 e dos Jogos Olímpicos, salienta que, por enquanto, as organizações populares questionam a realização da Copa pelo viés das remoções; mas, com a aproximação do evento, as questões da repressão aos trabalhadores e moradores de rua e do controle do espaço urbano também precisam ser levadas em conta.
“Isso tem sido cada vez mais efetivado. Aumentou o número de carros [de empresas de segurança] nas ruas e a presença de equipamentos que visam espionar os trabalhadores”, pondera Braga. De acordo com ele, com crises ou grandes eventos cria-se o clima ideal para que mesmo os seguranças privados exacerbam suas funções. O grande medo, de acordo com ele, é que esses acordos e decretos continuem depois e qual modelo eles nos deixarão.
O Brasil de Fato entrou em contato com as empresas de segurança privada Gocil e Prosegur para que elas comentassem o tema, mas não obteve resposta.

sábado, 17 de dezembro de 2011

A feroz indústria do casamento na China

Em uma sociedade na qual dinheiro e família são quase tudo, o matrimonio se converteu em um gasto multimilionário. A solidez material é condição indispensável. A competição é feroz. Os solteiros com idade legal para contrair matrimônio (22 anos para os homens, 20 para as mulheres) superam 180 milhões. Em muitos casos, os próprios pais se lançam à aventura migratória para melhorar as perspectivas casamenteiras de seus filhos. Nesta corrida os pobres arrancam com óbvia desvantagem. O artigo é de Marcelo Justo.

Não é fácil se casar na China. Em uma sociedade na qual dinheiro e família são quase tudo, o matrimonio se converteu em um gasto multimilionário. A solidez material é condição indispensável. “Ter casa é o mínimo. Um carro facilita mais as coisas”, me diz rindo um taxista de origem camponesa da antiga capital chinesa, Xian. Também não basta a solidez do tijolo ou a roda. Nos banquetes comemorativos da boda, os chineses têm que jogar a casa pela janela: no ano passado gastaram uns 57 bilhões de dólares em seus festejos de casamento.

Nesta corrida os pobres arrancam com óbvia desvantagem. Com um salário médio de 1800 yuans mensais (uns 285 dólares), os trabalhadores migrantes, verdadeira coluna vertebral do “milagre chinês”, têm escassas possibilidades de poupança. Uma recente pesquisa da organização governamental Federação de Mulheres da China, mostrou que a necessidade de melhorar a renda para casar era uma razão fundamental para migrar, mas que em muitos casos a passagem do campo à cidade não melhorava em nada as coisas. “Não sobra quase nada depois de pagar o aluguel. As mulheres na cidade são muito realistas e jamais sairiam com alguém que não pode pagar uma janta ou levá-las ao cinema”, relatou à Federação Xie Kaiqiang, oriundo de um povoado em Shaanxi, norte de China que hoje trabalha na capital Beijing.

A competição é feroz. Os solteiros com idade legal para contrair matrimônio (22 anos para os homens, 20 para as mulheres) superam 180 milhões. Em muitos casos, os próprios pais se lançam à aventura migratória para melhorar as perspectivas casamenteiras de seus filhos. Desde que o confucionismo se impôs finalmente como ideologia há mais de dos mil anos, a veneração dos ancestrais é quase uma religião: a descendência, uma garantia de manutenção futura e lembrança perene.

Hsiao Hung Pai, autora de “Chinese Whispers” e “Scattered sands”, dois livros fundamentais sobre a migração chinesa, comentou à Carta Maior um dos tantos casos que encontrou em sua investigação. “Este camponês de Hebei, no norte de China, trabalhou ilegalmente em Londres oito anos fazendo todo tipo de trabalhos imagináveis. Seu objetivo era comprar uma casa para que seu filho pudesse casar. Conseguiu. Como ele mesmo me disse, “cumpriu com seu dever””, disse a autora.

É um dever que atravessa todas as classes sociais. Assombrado que há alguns anos eu tivesse começado a estudar chinês, o dono do apartamento que aluguei durante meus estudos me disse com certa inveja: “nós, a partir de certa idade, deixamos de aprender: um pai ocidental tem muito menos obrigações”. Além de casa, do carro e do trabalho com promessa de futuro próspero, vem a celebração da boda.

Os banquetes matrimoniais das classes com aspirações sociais podem custar entre cinco e 10 mil yuans por mesa (770 a 1570 dólares) com cerca de 200 convidados em média. Pechinchar ou procurar atalhos e bagatelas é perigoso porque se pode incorrer em um dos piores perigos sociais: “diu lian” (literalmente “perder cara”: cair no ridículo) Alguma coisa os noivos recuperam com os presentes dos convidados. O “hong bao” (envelope vermelho), que o casal recebe, tem que conter dinheiro suficiente se não quiserem “perder sua cara”. Entre os chineses não é incomum procurar desculpas para não comparecer ao casamento e evitar o custoso gasto do “hong bao”.

Os banquetes não são o ponto final. Os recém-casados têm que pagar por fotos e filmagens especiais em lugares de “sonho”. Com suntuosos vestidos branco e fraques, os casais se deixam fotografar sobre as rochas que margeiam um lago ou ao pé de uma montanha famosa. Este cronista presenciou a aparição um tanto alucinante de dezenas de casais em traje de boda no Lago Celestial (Tian Chi) de Xinjiang ou nas montanhas de Guilin. Por casualidade presenciou o mesmo espetáculo em um lugar mais insólito - Santorini, Grécia -, prerrogativa de casais muito mais endinheirados.

A “crise” econômica (crescimento de 9% em vez de 9,5%) não parece afetar esta maquinaria. Os preços dos banquetes aumentaram 10 % no último ano, o das rosas duplicou. Além disso, por uma questão demográfica, a competição vai se intensificar. Segundo o Escritório de Estatísticas chinês, nascem 119 homens para cada 100 mulheres, em parte devido à política de só um filho instaurada há mais de 30 anos e a tradicional preferência pelo filho macho. Este desequilíbrio populacional homem-mulher implica que no final desta década haverá mais de 30 milhões de chineses em idade legal de casamento que não poderão encontrar par.

Esta vantagem demográfica feminina e a crescente explosão de riqueza que se vê em todo o país, ficam evidentes com o surgimento de academias especiais para que as mulheres possam “caçar um bom partido”. Em março abriu em Chaoyang, o distrito rico da capital Pequim, a “Escola das damas virtuosas” que oferece cursos especiais para que as mulheres aprendam a “se comunicar e amar, a fim de encontrar seu companheiro ideal”. Este fim supostamente romântico e altruísta fica um pouco embaçado pelo título de algumas das matérias, como a que ensina a “como relacionar-se com homens exitosos?” A escola gerou debate na imprensa chinesa com artigos que criticavam esta “idolatria do dinheiro”. Mas nada parece acalmar a febre. Em novembro abriu a “Escola da boa e feliz esposa” que começa seus cursos em março próximo. Fei Yang, diretor da escola, deixa claro que a missão educativa não termina com a boda. “Muitos matrimônios de gente rica terminam em divórcio porque as mulheres não podem manter felizes seus maridos”, assinala.

A febre casamenteira esteve acompanhada por um aumento vertiginoso dos casais divorciados que em 2010 alcançaram 20 milhões, 60% a mais que em 2000. Mas nada desestimula os solteiros que no dia 11 de novembro celebraram seu dia com grande fanfarra à espera do sonhado matrimônio.

Tradução: Libório Júnior

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ação é do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que pede que Supremo Tribunal Federal (STF) se manifeste sobre controle da concessões por políticos com mandato eletivo. Ação lista quase 50 parlamentares por trás de outorgas. Presidente do PSOL diz que prática distorce democracia. Ministro das Comunicações também é contra, mas acha que Congresso não aprova.

BRASÍLIA - Um dia após Marinor Brito (PA) perder o mandato no Senado para o “ficha suja” Jader Barbalho (PMDB-PA), detentor das outorgas de vários veículos de comunicação, o partido dela, PSOL, acionou o mesmo Supremo Tribunal Federal (STF) exatamente para questionar concessões de rádio e TV a políticos com mandato.

A ação elenca 41 deputados e sete senadores que possuem concessões em seus nomes. Para o PSOL, esse é até um número subestimado, pois não raro os políticos têm parentes, empresas e laranjas por trás de concessões.

Segundo o PSOL, a prática, além de inconstitucional, fragiliza a democracia brasileira e perpetua o chamado coronelismo eletrônico. “Quem deve fiscalizar as concessões de rádio e TV no país não pode controlá-las”, disse o presidente do partido, Ivan Valente.

De acordo com ele, o objetivo da ação é impedir novas concessões para políticos com mandato, coibir a renovação das já concedidas e proibir a diplomação e posse daqueles que, por quaisquer motivos, venham driblar esse preceito constitucional.

A alegação de inconstitucionalidade se baseia no descumprimento de onze preceitos constitucionais, entre eles a liberdade de expressão, o direito à informação, o princípio da isonomia, a soberania política e a democracia.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, já disse que é contra a concessão de outorgas a políticos, pelas mesmas razões apontadas pelo PSOL, e que o governo poderia incluir esse veto na proposta de marco regulatório da radiodifusão, que está em estudo. Mas ele acha também dificilmente a proposta passaria no Congresso, que não legislaria contra si.

O partido diz que a ação não foi motivada pela decisão do Supremo que reconduziu Jader ao Senado – embora o paraense possa ser afetado, caso a corte aceite a ação. Já vinha sendo articulada há vários meses, a partir de levantamento apresentado pelo Coletivo Intervozes, uma organização da sociedade civil que pesquisa a comunicação no Brasil.

“Nos procuramos vários partidos ligados à causada da comunicação, mas só o PSOL se dispôs a ingressar com a ação em parceria conosco”, disse o coordenador da organização, Gesio Passos.

Coronelismo eletrônico
Ivan Valente lembra que a distribuição de canais de rádio e TV vem sendo usada como moeda de troca na política brasileira desde a ditadura militar. “O ex-presidente José Sarney distribuiu quase cem canais para garantir a ampliação do seu mandato. E os ex-presidentes FHC e Lula perpetuaram o modelo”, denuncia ele.

A família Sarney, inclusive, é usada como exemplo clássico de coronelismo eletrônico. O ex-presidente José Sarney não possui nenhum veículo em seu nome, mas a filha dele e governadora do estado, Roseana Sarney, e o filho e deputado, Sarney Filho (PV-MA), possuem vários, de diferentes modalidades.

O lider do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ), acredita que quem controla meio de comunicação orienta o caminho da nação. “Esse fato absolutamente agressivo à Constituição brasileira, já naturalizado, não pode continuar sem nenhuma reação da sociedade, porque adultera o processo eleitoral e limita a nossa já frágil democracia”.

Para ele, são ilegalidades como esta que permitem que políticos com a ficha suja, como Jader Barbalho, se perpetuem na política desde a ditadura, exercendo influencia na população por meio de seus canais de rádio e TV.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pastoral da Terra denuncia desapropriações forçadas em projeto do grupo de Eike Batista

*Já descobriu por que o Eike Batista é o homem mais rico do Brasil?


A Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou nota neste sábado (10) contra o processo de desapropriação de agricultores no município de São João da Barra, norte do estado do Rio, onde está sendo construído um complexo industrial ligado ao Superporto de Açu, do grupo EBX, do empresário Eike Batista.
A CPT denunciou que um número que pode chegar a 1,5 mil famílias - nos distritos de Água Preta, Barra do Jacaré, Sabonete, Cazumbá, Campo da Praia, Bajuru, Quixaba, Azeitona, Capela São Pedro e Açu – estão sendo pressionadas a abandonarem suas casas.
A representante da CPT na região, Carolina de Cássia, disse que a vontade de quase todos moradores é permanecer na terra, onde se encontram há gerações, mas se sentem pressionados a saírem. “A obra está avançando de forma muito truculenta, tirando os agricultores e os ameaçando. Lá têm muitos idosos que moram há anos na região e estão adoecendo [com a situação]. Nós encontramos vários deles que entraram em processo de depressão e estão acamados”.
A empresa LLX, subsidiária da área de logística do grupo EBX, informou por sua assessoria que está investindo R$ 150 milhões no processo de desapropriação, inclusive com a construção de uma localidade batizada de Vila da Terra, para onde estão sendo levadas 90 famílias de pequenos agricultores, que tinham até dez hectares.
Segundo a LLX, as casas são dotadas de infraestrutura, móveis e aparelhos eletrônicos, incluindo televisão de tela plana. A dimensão mínima dos terrenos da Vila da Terra mede dois hectares, conforme a assessoria. A proposta de remoção já teria sido aceita por 38 famílias. Os demais proprietários, com terrenos acima dos dez hectares, serão desapropriados e receberão o valor correspondente por suas terras.
A LLX informou que são apenas 400 famílias a serem desapropriadas e ressaltou que todo o processo de desapropriação é responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin) e se baseia no decreto estadual 41.915/2009, que prevê a desapropriação de um total de 7,2 mil hectares.
A representante da CPT informou que as famílias classificaram as condições na Vila da Terra como “favela rural”, pela proximidade entre as casas, pois elas estão acostumadas a viverem em terras mais amplas. Carolina ressaltou que já estão sendo mobilizadas instâncias jurídicas, como o Ministério Público Federal (MPF), para dar assessoria aos moradores.
Segundo ela, também chegaram à região neste final de semana representantes da coordenação nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), para reforçar a luta contra a desapropriação. Segundo a CPT, as terras são férteis e não devem ser utilizadas para a construção de um complexo industrial.
O Porto do Açu é um dos mais ambiciosos projetos de Eike Batista, dotando a região de um porto moderno para grandes embarcações, que embarcariam minério de ferro produzido em Minas Gerais, por meio de um mineroduto com 525 quilômetros (km), além de outras cargas, totalizando 350 milhões de toneladas por ano. Na área próxima ao porto, Eike planeja instalar dezenas de empresas dos setores siderúrgico, metal-mecânico, armazenamento de petróleo, estaleiro, tecnologia da informação, além de uma usina termelétrica.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

domingo, 11 de dezembro de 2011

Qual foi a empresa que mais desrespeitou os direitos humanos ou o meio ambiente no Brasil em 2011?

por: Leonardo Sakamoto
Foram centenas de comentários e mensagens com sugestões e defesas enviadas a este blog, mas também via Twitter, Facebook ou e-mail. Às quatro mais citadas pelo público foi incluída uma quinta, escolhida através de propostas de colegas, grandes jornalistas de política e economia da imprensa. Abaixo, a razão das finalistas terem sido escolhidas. Abstive-me de opinar, acreditem ou não. A minha lista seria outra...
A idéia é lembrar a todos que os impactos socioambientais oriundos da ação direta de empresas ou como efeitos colaterais do desenvolvimento econômico podem afetar muito mais do que pessoas e ecossistemas. Atingem, por exemplo, a imagem pública dos próprios envolvidos. E que, com um empurrãozinho da sociedade, corporações podem deixar de lado determinadas práticas. Ora, se na internet já estão pipocando pesquisas como qual o melhor beijo no cinema, o melhor barraco na TV, o pior carro lançado, a personalidade do ano, por que não elegermos a empresa que causou um grande dano à sociedade?
A enquete está aberta e vai ficar aqui, à direita, até 10 de dezembro, quando se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos, quando conheceremos a vencedora.
Vote. E seja feliz.
Finalistas:
Banco Panamericano
Balanços maquiados esconderam rombo de R$ 4,3 bilhões no banco de Sílvio Santos, que até então pagava bônus generosos aos seus executivos. Um pouco antes do escândalo vir à tona, o proprietário ainda conseguiu vender 36% desse pepino (R$ 739 milhões) para a Caixa Econômica Federal. Ou seja, dinheiro que poderia estar sendo usado em educação, saúde, programas sociais...
Chevron
Perfuração em um dos poços da empresa na Bacia de Campos causou um vazamento que demorou para ser devidamente notificado. Diante da repercussão negativa, um dos seus dirigentes afirmou: "Nunca vi um vazamento tão pequeno gerar tamanha reação. Essa reação exagerada está nos intrigando". Segundo o governo federal, a empresa corre o risco de ser expulsa do país.
Energia Sustentável do Brasil*
A destruição de parte do canteiro de obras da Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, causada por protestos de trabalhadores foi regada a denúncias de falta de tratamento decente aos doentes, não pagamento de horas extras e descumprimento das promessas dos recrutadores que arregimentaram a mão-de-obra. Além disso, há dois anos 38 pessoas foram resgatadas da escravidão enquanto trabalhavam para a uma construtora que prestava serviço ao consórcio responsável pela construção da usina.
(*) Camargo Corrêa, Suez, Eletrosul e Chesf.
Norte Energia SA*
Consórcio construtor da hidrelétrica de Belo Monte é acusado de assediar e ameaçar pequenos agricultores e ribeirinhos, efetuando despejos compulsórios. Duas greves estouraram em menos de 20 dias por péssimas condições de trabalho. O município de Altamira já sente os efeitos da obra – centenas de moradores pobres foram expulsos de seus barracos pela especulação imobiliária – uma vez que as melhorias urbanas e centros de saúde prometidos pelo consórcio não foram cumpridas.
(*) Formado por Eletrobras, Chesf, Eletronorte, Vale, Bolzano Participações, Caixa Cevix, Funcef e Petros.
Zara
Três oficinas que produziam roupas para a empresa foram flagradas com imigrantes ilegais em situação de trabalho escravo. A Zara pediu desculpas, assumiu parte da responsabilidade, mas sustenta que os casos foram isolados. Vem anunciando ações junto a seus fornecedores, mas ainda não concordou com uma proposta de Termo de Ajustamento de Conduta apresentada pelo Ministério Público do Trabalho.
Então, vamos lá:
Qual foi a empresa que mais desrespeitou os direitos humanos ou o meio ambiente no Brasil em 2011?
Norte Energia S/A (Usina de Belo Monte) (31%, 528 Votes)
Zara (29%, 493 Votes)
Chevron (24%, 411 Votes)
Energia Sustentável do Brasil (Usina de Jirau) (10%, 181 Votes)
Banco Panamericano (6%, 113 Votes)
Total Voters: 1.725

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

OS PRESOS DE MARÇO

OS PRESOS DE MARÇO (documentário - curta metragem) from arthur moura on Vimeo.



O documentário Os Presos de Março é um curta-metragem que discute a prisão do dia 18.03.11 pela PM de 13 manifestantes que protestavam contra a vinda do presidente norte-americano no Brasil, em frente à embaixada dos EUA. Três visões numa análise ampla e heterogenea, lançando luz a outras análises a respeito da democracia, liberdade de expressão, direitos humanos e perspectivas políticas. 

Por Arthur Moura

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Mumia Abu-Jamal se livra da pena de morte. O desafio agora é levá-lo para casa

Há poucas horas o Ministério Público da Pensilvânia desistiu de pedir a execução de Mumia Abu-Jamal. Agora, depois de mantê-lo em condições de tortura durante 30 anos, as autoridades estadunidenses pretendem deixá-lo o resto de sua vida na prisão. De nenhuma maneira podemos permitir isto. O movimento conseguiu deter a sua execução. Agora o desafio é levá-lo para casa. Mumia livre já!
Ex-Pantera Negra se livra de pena de morte nos EUA
O ativista negro Mumia Abu-Jamal, ex-membro do grupo Panteras Negras, não será mais executado, anunciou nesta quarta-feira (7) a Procuradoria da Filadélfia, no estado da Pensilvânia, após 30 anos de batalhas legais.
Abu-Jamal foi condenado à pena de morte pela morte do policial branco Daniel Faulkner em dezembro de 1981 e, após a decisão da Procuradoria, cumprirá agora a pena de prisão perpétua, segundo as leis do estado da Pensilvânia.
Grupos de ativistas e de direitos humanos haviam pedido para que mudassem a pena de morte de Abu-Jamal e uma corte federal de apelações dos EUA ordenou um reexame da condenação, sem mudar o veredicto de culpado pelo assassinato.
Abu-Jamal, de 57 anos, sempre negou ter cometido o crime. O caso se tornou uma causa célebre dos críticos da pena capital.
Fonte: agências de notícias internacionais

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O livro novo de Eduardo Galeano: Os filhos dos dias

Galeano precisou de quatro ou cinco anos e de exatas 42.754 palavras para fechar os 366 textos de seu novo trabalho, um para cada dia do ano. Diz que é uma versão pessoal, dele, do gênese segundo os maias. E diz que se somos filhos dos dias, de cada dia nasce uma história que vale a pena ser contada. "Os filhos dos dias" é, revela seu autor, primo-irmão de seu livro anterior "Espelhos" . O novo livro só chegará ao público em março do ano que vem. O artigo é de Eric Nepomuceno.

Na casa do bairro de Malvin, em Montevidéu, há um certo alívio e uma certa expectativa. Alívio, porque o morador terminou há poucos dias um trabalho que consumiu os últimos quatro ou cinco anos de sua vida. Expectativa, porque o resultado desse trabalho só chegará ao público daqui a alguns meses, em março do ano que vem.

O morador se chama Eduardo Galeano e o trabalho que chegará ao público é um livro que se chama ‘Os filhos dos dias’. Galeano precisou desses anos e de exatas 42.754 palavras para fechar os 366 textos de seu novo trabalho, um para cada dia do ano. Diz que é uma versão pessoal, dele, do gênese segundo os maias. E diz que se somos filhos dos dias, de cada dia nasce uma história que vale a pena ser contada.

‘Os filhos dos dias’ é, revela seu autor, primo-irmão de seu livro anterior, ‘Espejos’, um êxito olímpico em castelhano (estacionou e permaneceu por meses no topo da lista dos mais vendidos na Argentina, por exemplo, antes de ser traduzido para dez idiomas), lançado no Brasil pela L&PM. E explica: é primo-irmão porque começou a ser escrito enquanto ele ainda trabalhava em ‘Espejos’.

Cada um dos 366 textos de ‘Os filhos dos dias’ foi escrito várias vezes. Aliás, cada texto de Galeano é escrito um sem-fim de vezes. E nascem ao léu, em qualquer lugar e circunstância. Onde quer que vá pela vida, ele carrega sempre umas cadernetinhas minúsculas, que chama de ‘mi libretita enana’, e é nessa cardernetinha anã que vai anotando palavras. Na maior parte das vezes, em sua casa ampla, cálida, de paredes brancas e jardins bem cuidados. Mas também na mesa do café Brasileiro, em Montevidéu, que funciona como uma espécie de escritório, onde trabalha, dá entrevistas, recebe visitas ou simplesmente fica vendo a vida. E também em aviões e trens, em suas longas, infinitas caminhadas diárias pela orla de Montevidéu, as ramblas à beira do rio da Prata que eles chamam de mar.

Fazer e refazer, lapidar cada texto, cada palavra, é parte de seu método de trabalho há muitos anos. Mais exatamente a partir da formidável trilogia ‘Memória do Fogo’ (Os Nascimentos, As Caras e as Máscaras, e O Século do Vento), iniciada em 1982, onde ele adotou a forma dos textos curtos, secos, extremamente condensados. Como quem busca nas palavras, mais que o osso, a própria medula. O cerne. Aprendeu de um mestre de todos nós, Juan Rulfo, que escrever é reescrever, e que reescrever é cortar palavras, até chegar à sua essência.

Assim é o registro, por exemplo, do 8 de abril de 1973, dia da morte de Picasso:

O homem que nasceu muitas vezes
Morreu hoje, em 1973, Pablo Diego Francisco José de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz Picasso, mais conhecido como Pablo Picasso.

Tinha nascido em 1881. E se vê que gostou de nascer, porque continuou nascendo.


O dia 7 de maio de 1954 é dedicado a outro personagem essencial de nossos tempos:

Os estraga-prazeres
Em 1954, os rebeldes vietnamitas propiciaram uma tremenda sova aos militares franceses em seu invulnerável quartel de Dien Bien Phu. E após um século de conquistas coloniais, a gloriosa França teve de sumir correndo do Vietnã.

Depois, foi a vez dos Estados Unidos. Nem vendo dava para crer: a primeira potência do mundo e de todo o espaço sideral também sofreu a humilhação da derrota nesse país minúsculo, mal armado, povoado por pouca gente e por gente pobre.

Um camponês, de lento caminhar, de palavras escassas, encabeçou essas duas façanhas.

Ele se chamava Ho Chi Minh, era chamado de Tio Ho.

Tio Ho se parecia pouco aos chefes de outras revoluções.

Em certa ocasião, um militante voltou de uma aldeia, e informou a ele que não havia maneira de organizar aquela gente.

– São uns budistas atrasados, que passam o dia inteiro meditando.

– Pois volte lá e medite – mandou Tio Ho.


Para contar a história de cada dia Galeano vasculhou livros, arquivos, registros. Mas diz que não tem nenhum método de investigação e pesquisa, e, aliás, nenhum método de vida. Diz que as histórias vão atrás dele, dão um tapinha em suas costas, e dizem: “Me conte, me conte que eu valho a pena”.

E que assim vai contando as histórias dos tempos e das gentes, construindo sua gênese de todos nós, em textos curtos, densos, carregados de vida e emoção, e que valem a pena, e como.